Para quem entende o funcionamento do Senado estava claro que o governo da presidente Dilma Rousseff sofreria, nesta quarta-feira (7), uma importante derrota por lá na votação da recondução de Bernardo Figueiredo para a direção-geral da ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres.
Quando o senador Roberto Requião (PMDB-PR) subiu à tribuna para defender o adiamento da votação, veio a certeza. Foi um movimento silencioso, sem qualquer discurso na tribuna que indicasse o resultado. Minutos depois, a derrota foi confirmada por 36 votos a 31 e uma abstenção. Na Comissão, a indicação de Figueiredo passara com louvor: 16 votos a favor e apenas uma abstenção, o que confirma que não era visível um movimento contra a indicação.
O Senado estava bastante movimentado nesta tarde de quarta. “Tem muita gente ajeitando a gravata”, informava um parlamentar, fazendo alusão a um hábito dos senadores de passar a mão na gravata quando pretendem pregar uma peça no governo e impor uma derrota. Foi o que aconteceu nesta tarde. Depois de proclamado o resultado, todos buscavam explicar como surgiu o movimento.
Curiosidade: no momento em que os próprios aliados impunham derrota ao governo, a presidente Dilma Rousseff estava no Palácio da Alvorada em reunião com a ministra Ideli Salvatti para decidir o montante de recursos para a liberação de pagamento de emendas parlamentares neste ano de eleições.
- O problema foi muito mais político do que na ANTT. O PMDB reuniu insatisfações – disse o senador Lindberg Farias (PT-RJ).
O presidente em exercício do PMDB, Valdir Raupp (RO), confirmava que foi a própria base governista que decidiu impor derrota à presidente Dilma.
- A oposição, em situação normal, tem até 19 votos; agora, foram 36 contra. Portanto, houve muita gente do governo que votou contra – calculou Raupp.
No cafezinho do Senado, senadores disputavam as mesas. Numa delas, o ex-senador Wellington Salgado acompanhava a discussão e votação. Afinal, ele tem um afilhado político na ANTT. Jorge Bastos é diretor, nomeado pelo então presidente Lula nos últimos dias de 2010. Agora, poderá responder pela direção-geral da Agência até a escolha e sabatina do novo nome.
Para o governo, a rebelião teria sido contra o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), que não teria conseguido comandar a própria bancada. Mas a conta não é tão simples. Renan também identificou o movimento pela rejeição do nome momentos antes.
- Está difícil, mas só não podemos deixar de votar – disse ele.
Para um senador do PMDB, a presidente Dilma resolveu fazer o “fazer o enfrentamento do modelo de construção de sua base parlamentar e agora está no meio da ponte… O modelo atual está equivocado” – completou o senador.
O resultado não deve ter sido uma surpresa para o governo. Pelo menos dois senadores do PMDB advertiram a área política sobre o risco de derrota. Mas o governo pagou para ver. Perdeu.
07/03/12
Cristiana Lôbo
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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