"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 8 de março de 2012

HISTÓRIAS DO SEBASTIÃO NERY

As duas gordinhas

Gordinha, redondinha, simpática, competente, os adversários dizem que ela é “oportunista, pragmática e liberal”. Filha de um pastor protestante diretor de Seminário na cidade medieval de Templin, na Alemanha Oriental, a 85 quilometros de Berlim, Angela Markel entrou na Juventude Comunista e jamais fez oposição ao regime soviético.
Quando o muro de Berlim foi derrubado, ela pulou logo o muro. Tinha vários partidos para escolher: “A Esquerda” (Die Linke) de seus ex-companheiros comunistas e esquerdistas, os Verdes, o Partido Social Democrata (SPD) de Willy Brandt e os Democratas Cristãos (CDU), a direitona poderosa de Helmut Kholl. Foi exatamente para lá que ela foi.
Em pouco tempo era presidente do partido e em 2005 derrotou o social-democrata (SPD) Gerhard Schroder numa eleição apertada, fez uma aliança com o adversário e assumiu o governo com eles, mas sempre de olho no Partido Liberal (FDP), seu novo aliado ideal, ainda mais à direita.

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MERKEL

Evangélica, divorciada, casada de novo, sem filhos, Ângela Merkel é uma das mais poderosas lideranças da Europa hoje: ela e o presidente da França, Sarcozy. Uma mulher de coragem política. Aliada dos social-democratas durante quatro anos, fez a campanha dizendo que estava doida para se ver livre deles, que tinham vários ministérios, inclusive o Exterior: se o Partido Liberal garantisse à CDU maioria no Parlamento, ela se aliaria.
Ele cresceu e ela chutou os socialdemocratas do SPD, uniu-se ao FDP e criou nova maioria para um governo bem à direita: a CDU e o FDP.
Eu estava em Frankfurt nas eleições, de 27 de setembro de 2009. Percorri a cidade para ver alemão votar. Quase não vi. Eles votam escondidinhos, silenciosamente, em escolas, no fundo de igrejas. Não há comícios. Só palestras e cartazes pregados no pé dos postes,
Mas é um surpreendente índice de comparecimento. Embora o voto não seja obrigatório, sempre passou de 85% , às vezes passando os 90%. Por isso levaram um susto em 2009 e ficaram decepcionados com só 72%.

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FRANKFURT

A vitoria da Merkel se deveu sobretudo à decisão de ter sido o primeiro dirigente político da Europa, na hora em que o sistema financeiro americano faliu, a dizer que a crise era americana mas, se a Europa não reagisse, todo o sistema financeiro mundial explodiria. E pôs o Tesouro e o Banco Central alemão a socorrerem quem estava quebrando na Alemanha. A direita não sabe cuidar do povo. Mas do dinheiro dela ela cuida.
Não por acaso Frankfurt, a pequena cidade de 650 mil habitantes, com um magnífico centro histórico medieval, é o maior centro financeiro da Europa, mais forte do que Londres. Nasceu para isso. Os romanos chegaram lá no século primeiro depois de Cristo e no ano 550 os francos começaram a usar o rio Meno, que se une ao Reno e ao Danúbio. Era preciso dominar e usar o rio. A ponte de pedra e ferro está de pé até hoje.
E surgiu a Universidade, a primeira da Europa criada por uma fundação particular. Em 1412 fundaram o primeiro banco. Em 1605 nasceu a Bolsa de Frankfurt. E seu primeiro jornal, o “Diário de Frankfurt”. A cidade tinha 19 mil habitantes e 3 mil judeus. Em 1749, o primeiro teatro, a “Casa da Comédia”. E nasce Goethe. (Arthur Shopenhauer, Theodor Adorno,Thomas Mann, depois). Em 1848, o primeiro Parlamento alemão.

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ESTADOS UNIDOS

No segundo semestre de 1944, os americanos já sabiam que Hitler estava cercado e derrotado. Mas queriam chegar a Berlim antes dos russos, que afinal chegaram. E os americanos começaram a bombardear a História. Não tocaram nas industrias, porque depois precisariam delas. Nem nos bancos e grandes instalações agrícolas. Queriam só os monumentos.
Os alvos eram a catedral, igrejas, museus, prédios históricos. Em Frankfurt massacraram tudo. Até a velha ponte de ferro, já 17 vezes destruída e reconstruída. A “Cidade Velha” foi totalmente arrasada. E 11 mil judeus da cidade mortos ou queimados nos fornos de Hitler.
A cidade está hoje totalmente reconstruída. Seus bancos levantam torres enormes, os edifícios mais altos da Europa; O aeroporto é um dos de maior movimento do mundo. Você olha para cima, há sempre um avião.
O charme político está em Berlim, lá fica a embaixada brasileira. Mas os negócios estão em Frankfurt. E uma rica vida cultural. Por isso o mais importante consulado está ali, comandado pela competência e dedicação do jovem e culto economista, embaixador Cezar Amaral.

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DILMA

Cordiais, sorridentes, vimos as duas na TV : Merkel e Dilma. Fisicamente parecidas, mas Dilma mais bonita. Politicamente, uma total divergência. Merkel pegou 8 trilhões de euros dos governos e distribuiu com os bancos. Dilma denunciou que esse tsunami de dinheiro a juros zero está invadindo os outros paises e engordando a especulação dos bancos.

Sebastião Nery
08 de março de 2012

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