"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 12 de abril de 2012

É MUITA LAMA!

Jamais se viu e nunca se verá um país com tamanha e epidêmica lama sujando os valores e preceitos civilizatórios como estamos vendo agora. Os casos de corrupção e deslizes morais crescem como um vírus atacando todo o tecido social da nação.
Ontem, enquanto acompanhava o desenrolar dos escândalos locais e nacionais, lembrei de um filminho de aventura, muito repetido nas sessões vesperais da TV fechada. Quem já viu “Zathura, uma Aventura Espacial”, dirigido pelo nova-iorquino Jon Favreau? Verdade, é a continuação de “Jumanji”, estrelado por Robin Williams. Nos dois casos, tratam-se de dois estranhos jogos com poderes mágicos e que provocam situações inusitadas cada vez que os dados são arremessados. Cada rodada, uma incrível surpresa.Quanto mais complicada uma situação, pior fica a vida dos jogadores com a jogada seguinte. Todas as tentativas de reparar um perigo ou uma confusão acarretam mais desespero para os envolvidos. De bom em Zathura, só a debutante Kristen Stewart.
 
Os acontecimentos criminosos que ocorrem diuturnamente no ambiente dos quatro poderes (Judiciário, Legislativo, Executivo e Aquisitivo) parecem com os jogos das duas ficções cinematográficas. Todo dia se descobre que alguém fez merda de novo.No plano nacional, os militantes de esquerda tiveram um orgasmo marxista-leninista quando a máscara de bom moço de Demóstenes derreteu na queda do Cachoeira. Só não esperavam que o esquema do bicheiro já havia bichado também o PT e adjacências.
Bradaram, os cuecões e os petralhas, por uma CPI para investigar a rede de influência do bandido e do promotor. O problema agora, com as revelações sobre a participação de um governador petista e um deputado do PCdoB, é de um coitus interruptus
stalinista.
 
No âmbito da província ensolarada, os dados do casal Carla Ubarana e George Leal não combinam com as cartas de jogo de alguns desembargadores, que a cada nova diligência do Ministério Público vão ficando mais enroscados no tabuleiro dos precatórios.Aliás, pelo que se viu nos autos e nos depoimentos, transformaram o Tribunal de Justiça num tabuleiro de vendedores do alheio. Em sendo verdade os testemunhos dos acusados, senhores de toga tungaram a viúva num esquema de negócio mafioso.
 
Como no desenrolar do filmezinho da TV, parece uma trilha sem fim a trama de desvios orquestrada no TJ. Era tanto dinheiro, e tão fácil botar a mão nele, que os autores do crime nem tinham noção de gasto em suas viagens milionárias por países europeus.Outra espécie de Zathura da roubalheira ou Jumanji das fraudes é o escândalo da inspeção veicular, conhecido por Sinal Fechado, dado pelo MP e pela polícia. Até agora, o principal jogador tem evitado revelar seus melhores parceiros de jogada.
 
Espera-se que as cartas do Ministério Público, inicialmente compostas numa petição que muitos fazem de conta que já se exauriu, traga novas explicações para que a sociedade também participe do jogo de reparos. George Olímpio não é vilão solitário.Na jogatina dissimulada que se instalou nos salões do poder público, há crimes sendo planejados em estado permanente, frutos da certeza de impunidade que unifica os punguistas de pé-rapado e os ladrões de colarinho branco. Este é o Brasil de todos.
Entre precatórios e mensalões, a alma nacional desce ao inferno da amoralidade constatando que o chavão religioso de que “todos são filhos de deus” foi refeito para “todos são filiados ao pecado”, mas não o pecado da Bíblia e sim o do Código Penal.

Será que estão ceretos os esotéricos, a imaginar o fim dos dias com os sinais de depravação moral da espécie humanus brasilis? A podridão infecta o país e o que resta de gente reta rejeita o serviço público, que como no inferno
de Dante deveria ter o aviso: “Deixai toda esperança, ó vós que entrais”.
12 de abril de 2012
Alex Medeiros

Nenhum comentário:

Postar um comentário