O maior desejo do PT é transformar o escândalo do mensalão em conto da carochinha. O segundo maior é fazer colar na sociedade a impressão de que todas as forças políticas são iguais e nivelam-se por baixo.
São estas as teses que o partido de Lula, Dilma e José Dirceu irá tentar fazer prosperar na CPI do Cachoeira.
Desde que veio a público, em maio de 2005, o mensalão assombra o PT. Feita por um dos maiores aliados dos petistas à época, a revelação de que o governo Lula funcionava à base da compra descarada de votos no Congresso desnudou a aura de moralidade que, por anos, acompanhara o partido.
Anos de investigações e um devastador parecer da Procuradoria-Geral da República acabaram por revelar em detalhes o funcionamento da "organização criminosa", com a participação de dezenas de próceres petistas. Mas, para o PT, isso nunca passou de uma "conspiração" das elites, da mídia, da oposição.
O partido sempre contemporizou com os acusados, deu-lhes apoio institucional e cargos de relevância no governo. Jamais puniu quem quer que fosse. Compactuou, recorrentemente, com os que se locupletaram com o dinheiro sujo, vindo, inclusive, dos mesmos jogos de azar de Carlinhos Cachoeira.
Mas a principal preocupação dos petistas, vocalizada, principalmente, pelo ex-presidente Lula, sempre foi fazer prosperar na sociedade a tese de que o mensalão foi uma "farsa", uma desimportante operação de contabilidade paralela de contas de campanha eleitoral. Nesta estratégia, interessa, especialmente, atrapalhar, postergar e azucrinar o julgamento do caso no STF, previsto para ocorrer neste ano.
O PT espera usar a CPI do Cachoeira neste seu estratagema, como ficou muito claro ontem, mais uma vez, com o discurso de Rui Falcão, presidente do partido. Para ele, a comissão servirá "para apurar esse escândalo dos autores da farsa do mensalão", informou O Globo.
Não:
a CPI cuidará de investigar como gente do mundo político se relacionou com - e, em alguns casos, se vendeu a - um contraventor cujas ligações com os petistas são íntimas desde a época do mensalão.
Senão, vejamos:
até agora, afora o envolvimento do senador Demóstenes Torres, prontamente expurgado pelo DEM dos quadros da oposição, são petistas ou seus aliados os principais implicados na teia de corrupção tecida pelo bicheiro baseado em Goiás.
O mais graúdo destes envolvidos é o governador petista do Distrito Federal. Aliás, ligar o nome de Agnelo Queiroz, agora alcunhado "01", a escândalos já se tornou redundância. Hoje, os jornais - com destaque para a Folha de S.Paulo - publicam farto material com suspeitas de que sua desgovernada gestão é alimentada por propina paga por uma empreiteira.
A mesma empresa, a Delta Construções, é, também, a maior beneficiária do PAC e foi a empresa que mais recebeu recursos do governo federal nos últimos três anos: R$ 2,43 bilhões desde 2009, segundo O Estado de S.Paulo.
Surgem, daí, indícios de que as portentosas cifras que acompanham o programa podem servir para algo distinto da construção de obras, que, de resto, nunca ficam prontas mesmo.
Na lista de petistas muito enrolados, há também auxiliares de Agnelo e um assessor direto da ministra Ideli Salvatti, outro nome do governo do PT que rima com escândalo e que terá, agora, de explicar no Congresso a compra suspeita de lanchas fantasmas. E há, ainda, o deputado comunista e ex-delegado Protógenes Queiroz.
Não custa lembrar que esta animada ponte aérea PT-Cachoeira é ativa há muito tempo. O contraventor quase conseguiu emplacar a legalização dos jogos de azar no país:
a proposta foi defendida pelo Planalto lulista em 2004 e só foi abortada depois que Cachoeira protagonizou vídeo em que é achacado por Waldomiro Diniz, assessor de José Dirceu na Casa Civil.
Está evidente que o PT pretende manobrar a CPI do Cachoeira e embaralhar o jogo do mensalão. É um escárnio que o partido cujo governo afogou-se em seguidos casos de corrupção ao longo dos últimos anos pretenda acuar a oposição, fazendo dela o suposto alvo das investigações.
É o PT fazendo o que mais gosta:
juntar no mesmo saco farinhas que não se misturam.
12 abril de 2012
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Nenhum comentário:
Postar um comentário