A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar as relações de parlamentares e integrantes do governo com o contraventor Carlos Cachoeira tem apoio em todos os partidos, mas não interessa a ninguém. O principal temor da oposição é que Cachoeira tenha feito um acordo de delação premiada que preserve o PT e o governo.
A CPI não interessa a ninguém porque foram envolvidos, na investigação da Polícia Federal, políticos dos principais partidos, inclusive do PT, e integrantes de governos petistas como um assessor da ministra Ideli Salvatti (Relações Internacionais) e o chefe de gabinete do governador de Brasília, Agnelo Queiroz. O deputado e ex-delegado Protógenes Queiroz, do PCdoB, um entusiasta da CPI, aparece perigosamente próximo de Cachoeira.
No entanto, o governo federal lavou as mãos, o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva apoiou e o PT praticamente fechou questão em defesa da instalação da comissão. Cauteloso, o PMDB acha que a CPI é uma turbulência que deveria ser evitada, no momento em que a popularidade da presidente Dilma Rousseff bate recorde. Tremores de terra no Congresso costumam refletir no Palácio do Planalto. Ao PSDB não restou opção a não ser apoiar.
Sempre que a oposição esteve à míngua no país, ela se recuperou com o apoio de governistas descontentes. Parlamentares experientes acham que a presidente, ao trocar os líderes do governo, jogou uma cesta de pedras para o alto e tudo indica não terá tempo para sair de baixo. Desde que Dilma desencadeou as mudanças, o PR formou um bloco com o PTB no Senado, sem o conhecimento do Palácio do Planalto, ontem a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) foi convocada a depor na câmara sobre a compra de barcos pelo Ministério da Pesca (cargo que já ocupou), órgão que não tem poder de fiscalização fluvial ou marítima, e agora a constituição da CPMI para investigar as relações de Carlos Cachoeira com o mundo brasiliense. Não há um comando claro - e com autoridade política - para conduzir a CPI a bom porto. É evidente o descontrole da coalizão governista. O PT está na ofensiva.
O principal argumento usado pelo PT é que, se Demóstenes Torres fosse um senador petista, haveria um clamor nacional para que fosse investigado, execrado em praça pública e punido exemplarmente. Na prática, o PT pode retirar dividendos da CPI, apesar de também ter integrantes relacionados na agenda tóxica de Cachoeira, com o governador do Distrito Federal.
O grupo mais ligado ao ex-deputado José Dirceu demonstra interesse particular nas atividades no esquema de espionagem que teria sido montado por Cachoeira comum araponga do ex-Serviço Nacional de Informações (SNI) chamado Dadá. Esse esquema teria sido responsável pela gravação do vídeo em que um ex-assessor da Casa Civil, Waldomiro Diniz, aparece pedindo propina ao contraventor, e também das fotos de autoridades, algumas muito próximas da presidente, em romaria ao escritório montado por Dirceu em um hotel de Brasília, e que passavam a impressão da existência de um verdadeiro "gabinete paralelo".
O PT como um todo está excitado com a possibilidade de envolver o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), no esquema de Carlos Cachoeira. Perillo se transformou numa espécie de inimigo pessoal de Lula, desde que afirmou que avisara o ex-presidente da República sobre a existência do mensalão, sem que ele tomasse providências. Lula sempre negou saber do mensalão, o suposto esquema de compra de votos no Congresso ocorrido entre 2004 e 2005.
Petistas mais entusiasmados afirmam ser possível, a partir da investigação sobre jogos de azar em Goiás, fazer uma autêntica razia no PSDB e até no ministério público estadual. O grupo do mensalão acredita que, s e a CPI esquentar, no mínimo ela divide opiniões com o julgamento do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), previsto para este ano. Até o procurador-geral da República está na mira do grupo: ele enfatizou a denúncia contra os integrantes do suposto esquema do mensalão, mas não teve a mesma pressa, segundo fontes do grupo que responde ao processo, em levar adiante o inquérito contra o senador Demóstenes Torres.
Neste ritmo, a CPMI de Cachoeira pode acabar se transformando em uma nova CPI do Fim do Mundo, como foi batizada a antiga CPI dos Bingos. É dado como certo, entre os congressistas, que há um grupo organizado, suprapartidário, cujo objetivo é a legalização dos jogos de azar. O clima é tenso. O governo tem maioria para controlar a CPMI. O risco são as divisões internas na coalizão governista e no PT.
12 de abril de 2012
(Valor Econômico)
coroneLeaks
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