A controvérsia criada pelas queixas da presidente Dilma Rousseff em suas
viagens à Europa e aos Estados Unidos sobre um suposto “tsunami monetário” que
afetaria a economia brasileira tem uma nova versão na edição de quinta-feira
(12/4) do Estado de S. Paulo. Segundo o jornal paulista, a origem e a
solução do problema estão no Brasil, e não na oferta excessiva de euro e dólar
por parte dos países ricos.
De acordo com fontes citadas pelo Estadão, a causa é a taxa de juros elevada no Brasil, e o ingresso de uma parte substancial dos bilhões injetados no mercado financeiro pelos países ricos em crise seria apenas parte do problema.
O jornal observa que parte desse ingresso desenfreado de capital externo se deve à ação de empresas brasileiras com capital no exterior, que reduzem novos projetos de investimento e repatriam para o Brasil grandes parcelas desse capital. O levantamento revela que, em 2011, esse retorno alcançou a cifra recorde de US$ 21 bilhões.
Manchete ideal
Esse fator foi determinante para o fato de o Brasil ter acabado o ano passado com o pior desempenho entre as maiores economias. Em vez de investir em atividades produtivas ou em aquisições, as multinacionais brasileiras buscam o porto seguro e mais lucrativo de especular com os juros.
Os dados citados pelo Estado de S.Paulo foram obtidos na Conferência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento – Unctad, na sigla em inglês – e estão disponíveis no site da instituição.
Segundo essa análise, os investimentos diretos em todo o mundo alcançaram US$ 1,66 trilhão em 2011, que representa uma elevação de 16% em relação ao ano anterior. Mas, de acordo com o relatório da Unctad, esse volume de investimento, que supera os valores registrados em 2008, antes da crise financeira, não deve se traduzir em aumento da capacidade produtiva, porque boa parte desse capital foi aplicada na aquisição de empresas no exterior e na transferência de recursos para filiais.
No caso das multinacionais brasileiras, o que ocorreu foi uma redução no apetite por aquisições, embora tenha aumentado o total de investimentos no exterior, que produziram um saldo positivo de US$ 11 bilhões. Segundo o relatório citado pelo Estadão, esse efeito acabou esvaziado pelo repatriamento de recursos, provavelmente estimulado pelas altas taxas internas de juros.
A reportagem em questão é mais um exemplo de que, mesmo contando com colaboradores qualificados, capazes de fazer análises esclarecedoras sobre os fatos econômicos, a imprensa brasileira ainda depende de fontes externas para colocar as informações em contextos mais adequados.
Até aqui, todo o noticiário rodava em torno da frase da presidente do Brasil, que, ao cunhar a expressão “tsunami monetário”, forneceu aos editores a manchete ideal. Com isso, passou-se para o leitor a interpretação segundo a qual nós, os brasileiros, estamos nos esforçando para fazer a lição de casa, cuidamos para não deixar nossa economia ser contaminada pela crise nos países ricos, mas sofremos com a enxurrada de dólares, que valoriza artificialmente nossa moeda.
A velha praga dos juros
O esclarecimento segundo o qual parte dos nossos problemas cambiais é causada por empresas brasileiras elimina os motivos para queixumes e nos obriga a olhar para nossas próprias deficiências estruturais.
Uma delas, a que parece central na questão abordada pela reportagem, é a permanência dos juros elevados. Nesse aspecto, os jornais vêm acompanhando com atenção a mudança mais ou menos recente de orientação do Banco Central e do Comitê de Política Monetária, que aponta para a redução dos juros oficiais.
Mas o problema persiste no campo dos juros praticados no mercado, aqueles que definem o custo real de vida do brasileiro. Segundo a Folha de S. Paulo, por exemplo, a iniciativa do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, de reduzir unilateralmente os juros, está estimulando um movimento de migração de clientes insatisfeitos com os custos de financiamentos nos bancos privados.
Essa situação cria uma circunstância curiosa na qual a imprensa é obrigada a concordar, ainda que indiretamente, com a estratégia oficial, criada no governo anterior, de reforçar a capacidade competitiva dos bancos controlados pelo Estado como forma de estimular a banca privada a ampliar a oferta de crédito.
Como se vê, a imprensa diária precisa mais do que alguns dias para fazer o leitor entender o cotidiano.
De acordo com fontes citadas pelo Estadão, a causa é a taxa de juros elevada no Brasil, e o ingresso de uma parte substancial dos bilhões injetados no mercado financeiro pelos países ricos em crise seria apenas parte do problema.
O jornal observa que parte desse ingresso desenfreado de capital externo se deve à ação de empresas brasileiras com capital no exterior, que reduzem novos projetos de investimento e repatriam para o Brasil grandes parcelas desse capital. O levantamento revela que, em 2011, esse retorno alcançou a cifra recorde de US$ 21 bilhões.
Manchete ideal
Esse fator foi determinante para o fato de o Brasil ter acabado o ano passado com o pior desempenho entre as maiores economias. Em vez de investir em atividades produtivas ou em aquisições, as multinacionais brasileiras buscam o porto seguro e mais lucrativo de especular com os juros.
Os dados citados pelo Estado de S.Paulo foram obtidos na Conferência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento – Unctad, na sigla em inglês – e estão disponíveis no site da instituição.
Segundo essa análise, os investimentos diretos em todo o mundo alcançaram US$ 1,66 trilhão em 2011, que representa uma elevação de 16% em relação ao ano anterior. Mas, de acordo com o relatório da Unctad, esse volume de investimento, que supera os valores registrados em 2008, antes da crise financeira, não deve se traduzir em aumento da capacidade produtiva, porque boa parte desse capital foi aplicada na aquisição de empresas no exterior e na transferência de recursos para filiais.
No caso das multinacionais brasileiras, o que ocorreu foi uma redução no apetite por aquisições, embora tenha aumentado o total de investimentos no exterior, que produziram um saldo positivo de US$ 11 bilhões. Segundo o relatório citado pelo Estadão, esse efeito acabou esvaziado pelo repatriamento de recursos, provavelmente estimulado pelas altas taxas internas de juros.
A reportagem em questão é mais um exemplo de que, mesmo contando com colaboradores qualificados, capazes de fazer análises esclarecedoras sobre os fatos econômicos, a imprensa brasileira ainda depende de fontes externas para colocar as informações em contextos mais adequados.
Até aqui, todo o noticiário rodava em torno da frase da presidente do Brasil, que, ao cunhar a expressão “tsunami monetário”, forneceu aos editores a manchete ideal. Com isso, passou-se para o leitor a interpretação segundo a qual nós, os brasileiros, estamos nos esforçando para fazer a lição de casa, cuidamos para não deixar nossa economia ser contaminada pela crise nos países ricos, mas sofremos com a enxurrada de dólares, que valoriza artificialmente nossa moeda.
A velha praga dos juros
O esclarecimento segundo o qual parte dos nossos problemas cambiais é causada por empresas brasileiras elimina os motivos para queixumes e nos obriga a olhar para nossas próprias deficiências estruturais.
Uma delas, a que parece central na questão abordada pela reportagem, é a permanência dos juros elevados. Nesse aspecto, os jornais vêm acompanhando com atenção a mudança mais ou menos recente de orientação do Banco Central e do Comitê de Política Monetária, que aponta para a redução dos juros oficiais.
Mas o problema persiste no campo dos juros praticados no mercado, aqueles que definem o custo real de vida do brasileiro. Segundo a Folha de S. Paulo, por exemplo, a iniciativa do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, de reduzir unilateralmente os juros, está estimulando um movimento de migração de clientes insatisfeitos com os custos de financiamentos nos bancos privados.
Essa situação cria uma circunstância curiosa na qual a imprensa é obrigada a concordar, ainda que indiretamente, com a estratégia oficial, criada no governo anterior, de reforçar a capacidade competitiva dos bancos controlados pelo Estado como forma de estimular a banca privada a ampliar a oferta de crédito.
Como se vê, a imprensa diária precisa mais do que alguns dias para fazer o leitor entender o cotidiano.
Por Luciano Martins Costa
12 de abril de 2012
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