"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 1 de maio de 2012

ESPANHA ESTUDA COMO REAGIR À EXPROPRIAÇÃO NA BOLÍVIA

Morales anunciou hoje a nacionalização da Transportadora de Eletricidade S.A.

Morales tentou justificar a expropriação dizendo que, nos últimos 16 anos, a espanhola REE investiu apenas 81 milhões de dólares na TDE
Morales tentou justificar a expropriação dizendo que, nos últimos 16 anos, a espanhola REE investiu apenas 81 milhões de dólares na TDE (EFE)
O governo espanhol está "coletando informações" e estuda o que fazer a respeito da decisão do presidente boliviano, Evo Morales, de nacionalizar a empresa Transportadora de Eletricidade S.A. (TDE), filial da gestora da rede elétrica espanhola REE. No entanto, a Espanha já adiantou que se trata de um caso diferente da desapropriação, por parte do governo argentino, da companhia Repsol.

“O governo está coletando informações sobre os aspectos técnicos e os aspectos diplomáticos", afirmaram fontes governamentais. Uma porta-voz do governo espanhol disse que a Espanha está analisando a situação de perto e poderá divulgar um comunicado ainda nesta terça-feira.

Contexto - Duas semanas após a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciar a expropriação de 51% da petroleira YPF, filial argentina da espanhola Repsol, o presidente de Bolívia, Evo Morales, nacionalizou a empresa Transportadora de Eletricidade S.A., gerida pela empresa Rede Elétrica Internacional, filial do Grupo Rede Elétrica, da Espanha, e ordenou às Forças Armadas sua ocupação.

A TDE foi fundada em 1997 durante a privatização do setor elétrico, e possui 73% das linhas de transmissão. Cerca de 99,94% de seu capital estava nas mãos da Rede Elétrica Internacional e 0,06% pertencia aos trabalhadores da empresa, de acordo com a página. Morales disse que, nos últimos 16 anos, a Rede Elétrica, que tem o controle da empresa desde 2002, investiu apenas 81 milhões de dólares na produção.

Antecedentes - Morales, um descendente indígena de esquerda, tomou a decisão em meio a protestos de sindicatos, que exigem um incremento salarial superior aos 8% oferecidos pelo governo. Apesar de o anúncio ter surpreendido a Espanha enquanto as suas cidades são palcos de protestos contra o desemprego, a medida era bastante previsível – não é a primeira vez em que Morales usa o Dia do Trabalho para nacionalizar empresas no país.

Desde que chegou ao poder, em 2006, o presidente expropriou cerca de vinte companhias de hidrocarbonetos, cimentos, minas e de energia. Em 1º de maio de 2006, ele nacionalizou o setor de hidrocarbonetos, e, em 2010, foi a vez de três empresas elétricas com sócios internacionais – passando para as mãos do governo o controle de 80% da geração de energia do país.
Depois da nacionalização dos hidrocarbonetos bolivianos em 2006 e após árduas negociações, 10 petroleiras estrangeiras, entre elas a Repsol-YPF (que controlava 27% das reservas de gás bolivianas), alcançaram acordos com o governo Morales sobre as novas condições para operar na Bolívia.

Argentina - Apesar de suas medidas nacionalistas, Morales tem evitado opinar sobre a decisão argentina de expropriar 51% da petroleira YPF, sob o controle da espanhola Repsol. "É um tema da Argentina e da Espanha", disse ele em recente coletiva de imprensa. “A expropriação decidida pela presidente argentina Cristina Kirchner não vai nos trazer nenhum problema porque temos uma relação de muita confiança com a Repsol. A Repsol, como empresa, respeita todas as normas bolivianas e os investimentos que a Repsol está fazendo vão bem", afirmou.
(Com agência France-Presse)

01 de maio de 2012
Revista VEJA

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