Moro em uma cidade no interior de Minas Gerais, conhecida como Barbacena. A vida aqui é muita tranquila para quem quer isto e muitas vezes conturbada pelas intempéries que aqui ocorrem.
O povo daqui é extremamente passivo, e esta passividade seria vergonhosa se não fosse contrabalançada pela loucura que vive nos porões da maioria das boas família tradicionais. Barbacena se tornou conhecida como cidade dos loucos por abrigar durante décadas 13 hospitais psiquiátricos.
O mais conhecido era o Hospital Colônia que tinha uma linha de trem que passava dentro do pátio do hospital, abrindo seus vagões carregados de muitos pacientes de todo o Brasil, descarregando lá esta pesada carga humana.
Hoje é sabido que os coronéis da época, mandavam para cá filhas, filhos, parentes ou inimigos políticos, ao serem contrariados. A maioria filhas, quediscordavam de casamentos já pré-estabelecidos ou eram pegas na cama com alguém antes das bodas impostas. Filhos com opções sexuais indesejáveis, pessoas, simplesmente por ter opiniões divergentes ou até mesmo herdeiros discutíveis também eram muito comuns. Além, é claro, dos genuinamente loucos.
O povo daqui é extremamente passivo, e esta passividade seria vergonhosa se não fosse contrabalançada pela loucura que vive nos porões da maioria das boas família tradicionais. Barbacena se tornou conhecida como cidade dos loucos por abrigar durante décadas 13 hospitais psiquiátricos.
O mais conhecido era o Hospital Colônia que tinha uma linha de trem que passava dentro do pátio do hospital, abrindo seus vagões carregados de muitos pacientes de todo o Brasil, descarregando lá esta pesada carga humana.
Hoje é sabido que os coronéis da época, mandavam para cá filhas, filhos, parentes ou inimigos políticos, ao serem contrariados. A maioria filhas, quediscordavam de casamentos já pré-estabelecidos ou eram pegas na cama com alguém antes das bodas impostas. Filhos com opções sexuais indesejáveis, pessoas, simplesmente por ter opiniões divergentes ou até mesmo herdeiros discutíveis também eram muito comuns. Além, é claro, dos genuinamente loucos.
A maioria destes pacientes não tinha nome, nem família, e muito menos documentações, apenas números e apelidos engraçados. E ficavam internados por lá a perder de vista, juntados em vários pavilhões onde cada um chegava a ter 700 ou 800 pacientes, numa vida sub humana.
Não tinham comida, vestuário, instalações sanitárias, cobertas adequadas e até as camas foram substituídas por fardos de capim, no qual muitas vezes, morriam asfixiados uns sobre os outros, fugindo do frio.
Barbacena abrigou esta vergonha durante décadas, enriqueceu muitos, sumiu com outros tantos, e se tornou conhecida com esta maldita fama de “terra dos loucos”.
Assim cresci com este estigma que sempre me incomodou muito. Um dia fomos visitados por um psiquiatra italiano, de nome Franco Basaglia (*), que veio acompanhado por um repórter fotógrafo, do Jornal Estado de Minas, com o único interesse de conhecer esta instituição. Fizeram centenas de fotos que imediatamente foram publicadas no jornal Estado de Minas, ganhando muita notoriedade em todo país e dizem, até no mundo.
Da matéria para as desospitalizações do Hospital Colônia e dos outros, foi um pulo. Políticos,
médicos, profissionais da saúde mental, familiares de loucos, enfim, a discussão abriu as portas dos ditos hospícios, acabando com os paradigmas da loucura, libertando seus pacientes, que se viram obrigados, pela primeira vez, a conviverem com suas famílias.
Isso causou um reboliço social muito grande na cidade.
A loucura passou a ter nome, sobrenome, dinheiro ou não, sexo, religião, enfim passou a ter cara, porque a loucura não nos escolhe. Ela chega e poucos tem a sorte de saber fazer dela uma aliada para a felicidade.
Os problemas na cidade começaram daí. Muita gente passou a ser personagem de sua própria vida. Encontrávamos figuras esquisitíssimas nas ruas, e num misto de medo e admiração secreta, a cada dia aprendíamos mais a conviver com a loucura de cada um.
Passados muitos anos, hoje fazemos na cidade o Festival da Loucura, onde me parece só existir outro em Trieste, cidade na Itália que também tem muitos
hospitais psiquiátricos. Aqui na cidade fazemos uma edição com shows variados de arte pura e nativa. Música de todo tipo onde apresentamos os nossos artistas loucos, com muito orgulho, tentando nos misturar por um fim de semana na loucura coletiva, que fazem desta cidade um local especial para se viver por uma vida.
Portanto se quiserem conhecer minha cidade, nossa Barbacena Querida, saibam que encontramos aqui, na loucura de todo dia, em cada um de nós, um ser humano comum.
(*) Franco Basaglia (1924/80). Psiquiatra e neurologista italiano. Fundador da concepção moderna sobre a saúde mental, reformador da disciplina psiquiátrica na Itália. Inspirador da Lei 180, conhecida por “Lei Basaglia”, que introduziu uma importante revisão no sistema dos hospitais psiquiátricos do país.
Ruth Esteves
22 de maio de 2012
(*) Fotomontagem: Um interno do Hospital Colônia e Franco Basaglia
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