Lista de livros proibidos nas escolas após aprovação de lei no Arizona inclui obras de autores como Isabel Allende, Thoreu e Shakespeare
Tentando explicar o que era ofensivo o suficiente para justificar essa decisão e a demissão de seu diretor; Michael Hicks, membro do conselho escolar de Tucson, declarou orgulhosamente que ele não era realmente familiarizado com o currículo. “Eu escolhi não ir a qualquer de suas aulas”, disse ele no The Daily Show. “Por que ir?”, perguntou Hicks, que na mesma entrevista, se referiu a Rosa Parks como “Rosa Clark”.
A situação no Arizona não é um fenômeno isolado. Houve um pequeno aumento infeliz em proibições de livros acadêmicos e demissões, agravado por um descrédito nacional quanto aos professores, seus sindicatos e seu conhecimento em si. Brooke Harris, uma professora da Academia de Excelência em Pontiac, Michigan, foi sumariamente demitida após pedir permissão para deixar que seus alunos angariassem fundos para a família de Trayvon Martin, o jovem negro assassinado na Flórida em fevereiro.
Trabalhando em uma escola pública independente, Harris era uma empregada à vontade, logo pouca justificativa foi necessária para sua demissão. Segundo Harris, “me disseram que eu estava sendo paga para ensinar, não para ser uma ativista”.
A lei tem tomado alguns rumos surpreendentes também. Em 2010, a professora Shelley Evans-Marshall foi demitida depois que os pais queixaram-se de uma tarefa na qual ela pediu a seus alunos numa aula de artes que consultassem a lista da American Library Association, dos “100 livros mais controversos”, e escrever uma redação sobre a censura.
A queixa contra ela girou em torno de três textos específicos: Siddhartha, de Hermann Hesse; O Sol É Para Todos, de Harper Lee; e Fahrenheit 451, de Ray Bradbury (ela também teria, anos antes, mostrado aos alunos uma versão para adolescentes de Romeu e Julieta, de Shakespeare).
O tribunal considerou que o conteúdo dos ensinamentos de Evans-Marshall envolvia questões “de interesse político ou social para a comunidade”, e que seu interesse na livre expressão superava certos interesses que pertencem à escola. Mas, fatalmente, o tribunal concluiu que “os funcionários do governo não falam como cidadão, para fins da Primeira Emenda”. Assim, o tribunal concluiu que é “a instituição de ensino que tem o direito de liberdade acadêmica, não o indivíduo professor”.
Há um número de fatores em jogo na atual corrente de polêmica.
Um deles é um sentido bastante impressionante de privilégio, o sentimento de superioridade confiante que permite que alguém julgue um corpo de trabalho sem ter feito qualquer estudo. Isso não é mera arrogância, é a mesma mentalidade limitada que permite que alguém como Michael Hicks esteja no comando de um dos principais sistemas escolares norte-americanos sem ainda saber o nome correto de “Rosa Clark”.
Felizmente, há uma reação ocorrendo contra esse anti-intelectualismo.
Um dos exemplos mais vibrantes é um grupo de protesto chamado Librotraficante, ou Traficantes de Livros. Organizado por Tony Diaz, um professor da Houston Community College, o grupo tem seguido em caravanas pelo sudoeste norte-americano, criando clubes de livros, estabelecendo “bibliotecas alternativas”, e distribuindo cópias dos livros que foram retirados do currículo das escolas públicas do Arizona.
22 de maio de 2012
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