Não é que fosse de todo imprevisível o que haveria de acontecer, mas que, por natural aspiração ao conforto da rotina, talvez esta tenha prevalecido. Em verdade, porém, o quadro europeu não autorizava tranquilidade, como os casos da Grécia, de todos o mais grave, da Espanha, também de Portugal, sem falar na França, que como a Alemanha representava a continuidade ou descontinuidade do majestoso sonho da Europa europeia, um esboço de federação e estava a trocar de presidente.
De resto, um fato se espalhara pelo continente europeu em mudo conflito; de um lado uma severa política de contenção que gerava ou pelo menos não reduzia o desemprego, flagelo a afetar a cada instante a esperança por dias menos amargos. Desse modo, em horas, um terremoto silencioso mudou as feições do continente. Esgotou-se o fenômeno? Ninguém pode responder à indagação. O susto e as preocupações ainda não passaram.
Embora a senhora presidente houvesse proclamado que o fenômeno sísmico não atingiria o Brasil, que a ele resistiria como em 2008, o fato é que o fenômeno não ficou circunscrito às fronteiras do velho mundo, dada a circunstância de o nosso país possuir um sistema financeiro que os outros não dispunham. Tenho o maior respeito pelas opiniões econômicas e financeiras da chefe do governo, mas não me sinto à vontade para acompanhá-las.
Mas deixo isto de lado, e me limito a registrar que o fenômeno já chega aqui como, aliás, era natural, e disso a senhora presidente não demorou a dar sinal. Ainda ontem tendo sido envolvida em cena incivil protagonizada por prefeitos, encerrou sua oração dizendo-lhes que não perderiam por esperar… o que para bom entendedor é suficiente.
Não é só. Sua linguagem mudou. E, no momento em que escrevo, leio que o Planalto já estuda novas ações para acelerar a economia. Aliás, não é segredo para ninguém que as previsões oficiais quanto ao aumento do PIB até agora não se confirmaram e as causas são relacionadas com a crise, como a queda nas exportações e no preço dos bens exportados.
Não tenho nem poderia ter o propósito de agravar o que se fosse, mas as turbulências que açoitam mesmo as nações mais prósperas cruzam os mares e engolem distâncias. Por fim, é de lembrar-se que já antes do último episódio muito se falava na imperiosa redução de gastos e nunca eles foram tão abundantes, ainda que nem sempre bem orientados.
De qualquer sorte, diziam os antigos que não se deve gastar mais do que se tem. Tanto lá, como cá. Dir-se-á que isso lembra chá de folha de laranjeira, o que é verdade, velho, mas não faz mal a ninguém.
Paulo Brossard
22 de maio de 2012
Fonte: Zero Hora
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