A Polícia Federal está
investigando a possibilidade de o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos
Cachoeira, ter um Sistema Guardião - um superaparelho de escuta telefônica,
responsável ainda pelo cruzamento das ligações, destinado especialmente a órgãos
de inteligência da própria PF, do Departamento de Polícia Rodoviária Federal
(DPRF), do Exército e da maioria das secretarias de Segurança Pública dos
estados -, ou mesmo acesso ao equipamento de uso restrito.
Durante a última semana, nos depoimentos da CPI mista, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) defendeu a necessidade de investigar a fundo o uso do Guardião por particulares, fora do controle do Estado.
- Aguardo com muita ansiedade as respostas da Polícia Federal. Nas casas de Cachoeira e de seu ex-cunhado, Adriano Aprígio, foram apreendidas gravações, ou seja, grampos, que não são de autoria da PF. Elas foram feitas por um equipamento sofisticado. Pela natureza do material, elas podem ter sido produzidas pelo Guardião. Isso comprova que ele não está só nas mãos de instituições públicas.
A todo instante, percebe-se a existência de uma milícia tecnológica que procura se organizar para práticas de corrupção. E aí penso que será mais um grande escândalo, cuja revelação será proporcionada pela evolução democrática - disse o deputado.
O Guardião é fabricado pela empresa Dígitro Tecnologia Ltda, responsável por praticamente todos os aparelhos de escuta telefônica do país, inclusive produzindo provas dos grampos de Cachoeira.
A empresa também é alvo de uma investigação do Ministério Público Federal de Santa Catarina, desde novembro de 2010, acusada de procedimento licitatório fraudulento, sonegação fiscal, uso irregular de verbas federais, corrupção e manipulação do sistema de informação.
O procurador da República Marcelo Motta, do Ministério Público Federal de Santa Catarina - a Dígitro tem sede no estado -, disse que, até a próxima sexta-feira, pedirá a quebra dos sigilos fiscais e bancários da empresa, dos sócios da Dígitro e do ex-secretário Nacional de Segurança e ex-diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa.
- A CGU vai fazer uma varredura nos contratos da Dígitro para saber se são legais. Houve um salto no faturamento da empresa, de 2003 para cá, extraordinário, justamente quando o delegado Luiz Fernando Corrêa estava à frente do governo - disse o procurador, lembrando que os acusados foram citados três vezes na empresa e nas residências deles.
De acordo com a investigação do MPF, os balanços contábeis da Dígitro mostram uma queda no seu faturamento entre os anos 2001 (R$ 34.663.964,00) e 2002 (R$ 31.679.634,00).
Em 2003, o quadro mudou bastante.
O faturamento da empresa pulou de R$ 44.320,814 para R$ 96.338.127, no ano de 2008.
A maioria dos estados adotou o Guardião como sistema de escuta, coincidindo com o período em que, pelo menos, 14 secretários de Segurança Pública eram delegados ou agentes da Polícia Federal.
Procurado pelo GLOBO, Luiz Fernando Corrêa, que atualmente é diretor de segurança do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos, disse, por meio de assessores, que desconhece tal investigação e nunca recebera notificação para depor.
Ele explicou ainda que o endereço residencial dele fica em Brasília e, caso seja intimado, acha natural que o servidor público preste contas à sociedade.
Também por meio de sua assessoria de imprensa, o presidente da Dígitro, Geraldo Faraco, explicou que desconhece o procedimento e as citações. Por e-mail, o empresário acrescentou:
"A Dígitro enfrentou crescimentos importantes ao longo de toda a sua história de 35 anos".
Faraco afirmou que a maior parte (em torno de 80%) de seu faturamento provém do mercado corporativo, com mais de 2.500 clientes privados, além de operadoras de telefonia e dos organismos de segurança e defesa. Segundo ele, o Sistema Guardião não é vendido para particulares.
Vera Araújo O Globo
18 de junho de 2012
camuflados
Durante a última semana, nos depoimentos da CPI mista, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) defendeu a necessidade de investigar a fundo o uso do Guardião por particulares, fora do controle do Estado.
- Aguardo com muita ansiedade as respostas da Polícia Federal. Nas casas de Cachoeira e de seu ex-cunhado, Adriano Aprígio, foram apreendidas gravações, ou seja, grampos, que não são de autoria da PF. Elas foram feitas por um equipamento sofisticado. Pela natureza do material, elas podem ter sido produzidas pelo Guardião. Isso comprova que ele não está só nas mãos de instituições públicas.
A todo instante, percebe-se a existência de uma milícia tecnológica que procura se organizar para práticas de corrupção. E aí penso que será mais um grande escândalo, cuja revelação será proporcionada pela evolução democrática - disse o deputado.
O Guardião é fabricado pela empresa Dígitro Tecnologia Ltda, responsável por praticamente todos os aparelhos de escuta telefônica do país, inclusive produzindo provas dos grampos de Cachoeira.
A empresa também é alvo de uma investigação do Ministério Público Federal de Santa Catarina, desde novembro de 2010, acusada de procedimento licitatório fraudulento, sonegação fiscal, uso irregular de verbas federais, corrupção e manipulação do sistema de informação.
O procurador da República Marcelo Motta, do Ministério Público Federal de Santa Catarina - a Dígitro tem sede no estado -, disse que, até a próxima sexta-feira, pedirá a quebra dos sigilos fiscais e bancários da empresa, dos sócios da Dígitro e do ex-secretário Nacional de Segurança e ex-diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa.
- A CGU vai fazer uma varredura nos contratos da Dígitro para saber se são legais. Houve um salto no faturamento da empresa, de 2003 para cá, extraordinário, justamente quando o delegado Luiz Fernando Corrêa estava à frente do governo - disse o procurador, lembrando que os acusados foram citados três vezes na empresa e nas residências deles.
De acordo com a investigação do MPF, os balanços contábeis da Dígitro mostram uma queda no seu faturamento entre os anos 2001 (R$ 34.663.964,00) e 2002 (R$ 31.679.634,00).
Em 2003, o quadro mudou bastante.
O faturamento da empresa pulou de R$ 44.320,814 para R$ 96.338.127, no ano de 2008.
A maioria dos estados adotou o Guardião como sistema de escuta, coincidindo com o período em que, pelo menos, 14 secretários de Segurança Pública eram delegados ou agentes da Polícia Federal.
Procurado pelo GLOBO, Luiz Fernando Corrêa, que atualmente é diretor de segurança do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos, disse, por meio de assessores, que desconhece tal investigação e nunca recebera notificação para depor.
Ele explicou ainda que o endereço residencial dele fica em Brasília e, caso seja intimado, acha natural que o servidor público preste contas à sociedade.
Também por meio de sua assessoria de imprensa, o presidente da Dígitro, Geraldo Faraco, explicou que desconhece o procedimento e as citações. Por e-mail, o empresário acrescentou:
"A Dígitro enfrentou crescimentos importantes ao longo de toda a sua história de 35 anos".
Faraco afirmou que a maior parte (em torno de 80%) de seu faturamento provém do mercado corporativo, com mais de 2.500 clientes privados, além de operadoras de telefonia e dos organismos de segurança e defesa. Segundo ele, o Sistema Guardião não é vendido para particulares.
Vera Araújo O Globo
18 de junho de 2012
camuflados
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