"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 22 de junho de 2012

A LOUCURA NOSSA DE CADA DIA... TAMBÉM TEM ISSO.

enOntem levei um susto daqueles, quando ao acordar, deixei a preguiça se espalhar em mim e ainda aninhada na cama comecei a pensar na vida. No que é de fato essencial nela. Não preciso dizer que de repente muita coisa começou a ser eliminada sem dó e nem piedade. Coisas que até há um tempo atrás, me eram imprescindíveis, agora, estavam sendo descartáveis num piscar de olhos. Troquei o ter pelo ser, as conjugações do passado dos verbos, como fui, era, e tive, pelos verbos de conjugação do futuro: terei, serei, farei e assim por diante. Resolvi eliminar tudo o que me contraria, certas convenções sociais, amizades interesseiras, gente chata, burra, egoísta, mesquinha, falsos moralistas, hipócritas etc.

 
Estranho, pensei! Será que estou ficando velha? É, porque a gente começa peneirar os nossos valores e colocar peso no que temos que fazer, só quando o tempo já não joga do nosso lado.

Aí… me lembrei do poeta, romancista, musicólogo, historiador, crítico de arte e fotografo, Mário Raul de Moraes Andrade,(1893\ 1945 - foto) dono de um poema, que me calou fundo, desde que o li, há bem pouco tempo atrás e por acaso. Aquelas coisas que displicentemente caem na mão da gente e vão direto para o coração permanecendo lá eternamente.

Vou repassar para vocês, pois vale a pena ser lido, pela simplicidade com que este poeta fala da idade que chega independente de nosso credo, sexo e cor.


O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!”.
22 de junho de 2012
Ruth Esteves

NOTA AO PÉ DO TEXTO

Um pequeno reparo sobre a autoria do poema "O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS".
A poesia não é de Mario de Andrade, poeta paulistano, engajado no nascente movimento modernista e um dos mentores e ativista da Semana de Arte Moderna (1922), mas do político e poeta angolano Mario Pinto de Andrade (1928/1990).
E ainda prefiro as jabuticabas (pois somente existem no Brasil).
Reproduzo o post colocado no Café História.
m.americo

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