A convocação da bela Andressa Cachoeira para depor na CPMI provoca frisson e
reaviva a memória da distante e vergonhosa tarde do depoimento de Renilda
Santiago, mulher de Marcos Valério, na CPI dos Correios.
Enfrentar os questionamentos agressivos e mal-educados não foi nada perto do que ela teve que suportar dos galantes parlamentares que acudiram em sua defesa elogiando sua beleza e seu caráter. Renilda era apenas uma discreta senhora mineira, bem-vestida e educada, de feições delicadas, que podia ser vista, no máximo, como bonitinha. Mas bastou para a macharia suprapartidária se assanhar.
Foi de embrulhar o estômago ouvir tanto sentimentalismo barato ao vivo diante de todo o País, com deputados e senadores louvando a depoente por seu amor ao marido bandido e à família, por suas lágrimas, omissões e mentiras. Faltou muito pouco para alguém dizer que ela era a mulher que qualquer homem gostaria de ter e oferecer um ombro amigo.
Mesmo sabendo que Renilda mentia cínica e deslavadamente, eles se derretiam em elogios, como senhores magnânimos que não conseguiam esconder o galanteador cafajeste de calçada, tipicamente brasileiro, que os habita. Pareciam personagens caricatos de Chico Anísio, e pior, de Nelson Rodrigues, canalhas vocacionais que seduzem até a cunhada, que não respeitam nem CPI.
Alguns eram gordos, outros carecas, quase todos mais velhos, a maioria nordestinos e gaúchos, todos antiquados e verbosos no estilão que Bernardo Cabral usou para seduzir Zélia Cardoso de Mello.
Esses machões galantes e sentimentais jamais se comportariam assim diante de quem dissesse o que Renilda disse, mas fosse homem. Seriam implacáveis, durões, não elogiariam o amor do depoente pela esposa e a família, nunca aceitariam suas mentiras. Os membros femininos da CPI deviam ter protestado contra tal falta de decoro, mas nenhuma teve tal macheza.
Se com a frágil e discreta Renilda eles deram um vergonhoso show de machismo travestido de cavalheirismo, imaginem a excitação parlamentar quando a bela, sexy e exuberante Andressa se sentar à mesa da CPMI.
É melhor tirar as crianças da sala.
Nelson Motta - O Estado de S.Paulo
Enfrentar os questionamentos agressivos e mal-educados não foi nada perto do que ela teve que suportar dos galantes parlamentares que acudiram em sua defesa elogiando sua beleza e seu caráter. Renilda era apenas uma discreta senhora mineira, bem-vestida e educada, de feições delicadas, que podia ser vista, no máximo, como bonitinha. Mas bastou para a macharia suprapartidária se assanhar.
Foi de embrulhar o estômago ouvir tanto sentimentalismo barato ao vivo diante de todo o País, com deputados e senadores louvando a depoente por seu amor ao marido bandido e à família, por suas lágrimas, omissões e mentiras. Faltou muito pouco para alguém dizer que ela era a mulher que qualquer homem gostaria de ter e oferecer um ombro amigo.
Mesmo sabendo que Renilda mentia cínica e deslavadamente, eles se derretiam em elogios, como senhores magnânimos que não conseguiam esconder o galanteador cafajeste de calçada, tipicamente brasileiro, que os habita. Pareciam personagens caricatos de Chico Anísio, e pior, de Nelson Rodrigues, canalhas vocacionais que seduzem até a cunhada, que não respeitam nem CPI.
Alguns eram gordos, outros carecas, quase todos mais velhos, a maioria nordestinos e gaúchos, todos antiquados e verbosos no estilão que Bernardo Cabral usou para seduzir Zélia Cardoso de Mello.
Esses machões galantes e sentimentais jamais se comportariam assim diante de quem dissesse o que Renilda disse, mas fosse homem. Seriam implacáveis, durões, não elogiariam o amor do depoente pela esposa e a família, nunca aceitariam suas mentiras. Os membros femininos da CPI deviam ter protestado contra tal falta de decoro, mas nenhuma teve tal macheza.
Se com a frágil e discreta Renilda eles deram um vergonhoso show de machismo travestido de cavalheirismo, imaginem a excitação parlamentar quando a bela, sexy e exuberante Andressa se sentar à mesa da CPMI.
É melhor tirar as crianças da sala.
Nelson Motta - O Estado de S.Paulo
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