"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 22 de junho de 2012

MUDANÇAS NO BANCO DO NORDESTE IRRITAM PARTIDOS DA BASE ALIADA

Presidente do órgão renunciou; diretores com apadrinhamento político foram trocados

Petistas e peemedebistas estão preferindo o silêncio sobre a troca de comando no Banco do Nordeste (BNB), efetivada na quarta-feira pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. A presidente Dilma Rousseff já tinha a intenção de trocar os diretores com “apadrinhamento político” por técnicos, e aproveitou as últimas denúncias de desvios de recursos envolvendo a diretoria do banco para fazer a limpeza.

Quem mais perdeu com a troca de comando no BNB foi o PT do Ceará. Indicação do deputado federal José Guimarães (PT-CE), o presidente do banco, Jurandir Santiago, estava no cargo há menos de um ano. Investigado pelo Ministério Público sob suspeita de desvio de verba pública, Santiago renunciou por conta da pressão do Planalto.
Os diretores Isidro Siqueira e José Alencar foram exonerados. Alencar era outra indicação do PT. E Isidro tinha sido indicado pela bancada do PMDB do Ceará. O diretor de Negócios, Paulo Ferraro, um técnico, assume o comando do banco interinamente.

Base planeja cobrar fatura em votações futuras

Em 2005, quando José Guimarães era deputado estadual, um assessor seu foi preso no aeroporto de São Paulo com US$ 100 mil na cueca. Guimarães é irmão de José Genoino, que à época presidia o PT e estava no centro das investigações sobre o mensalão.

Apesar do silêncio público com as trocas no BNB, nos bastidores os políticos aliados estão perplexos e irritados com a forma como as mudanças foram feitas. Líderes do PT e do PMDB estiveram recentemente em reuniões no Palácio do Planalto e, segundo relataram a colegas, não foram avisados de que as mudanças ocorreriam.
Não vão “passar recibo”, mas “será anotado num caderninho”, como diziam reservadamente. Ou seja, a fatura poderá ser cobrada mais à frente, quando a presidente precisar dos aliados no Congresso.
‘Escândalo dos banheiros’ motivou saída

O Ministério Público está investigando a responsabilidade do ex-presidente do Banco do Nordeste Jurandir Santiago no desvio de R$ 3,1 milhões para construção de banheiros públicos no interior do Ceará, quando ele era secretário de Estado e assinou parte da liberação das verbas.
Na semana passada, seu então chefe de gabinete, Robério Gress do Vale, foi afastado do banco por suposto envolvimento em um suposto esquema de corrupção, que envolvia facilitação de empréstimos para empresas de familiares seus.

Nesta quinta-feira, no PMDB o sentimento era de que a melhor maneira de lidar com o episódio das trocas no BNB é evitar novos embates com o Planalto.
O que se diz entre os aliados é que não há surpresa nessas alterações, porque essa tem sido a prática de Dilma desde que assumiu a presidência — tem trocado os políticos por técnicos sem conversar com os partidos.
Essa fatura só será apresentada quando o governo precisar do PMDB em alguma votação ou na CPI do Cachoeira.

JÚNIA GAMA - O Globo
22 de junho de 2012
in aleluia

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