"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 22 de junho de 2012

O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS

Postado por mario americo de moura filho em 12 março 2011(no blog café história)

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de jabuticabas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir
assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,
minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com
triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!

Mário Pinto de Andrade
Escritor e político angolano, de nome completo Mário Coelho Pinto de Andrade. (1928-1990)
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Comentário de mario americo de moura filho em 15 abril 2011 às 8:03
          
Como vai Luis. Realmente é um texto amplamente difundido, cuja autoria suscita dúvidas, graças a vida do ensaísta, escritor e político engajado em movimentos negros, cujas andanças por diversos países, fez com que sua produção literária e ensaística, ficasse espalhada e corresse o risco de perder-se a autoria. De beleza extraordinária no tratamento sensível da temática do tempo e da vida, e pela beleza plástica da poética, justifica a divulgação intensa. Há esforços de alguns estudiosos de sua obra, no sentido de recolher e dar autenticidade a inúmeros escritos. Uma tarefa complexa. Abaixo, excertos de como é difícil o trabalho de pesquisa e exegese de sua obra.

(... ) Em 1968 organiza e publica, igualmente, “Prosa Africana de expressão portuguesa”. Em 1979 organiza, em dois tomos, a antologia temática africana”: “Na noite grávida de punhais” (I volume) e “Canto armado” (II volume). Antes de falecer deu por terminada uma antologia poética da mesma temática que sempre o ocupou, encomendada pela UNESCO. Em 1997 foi publicada a título póstumo um seu livro de ensaios sobre um tema que lhe era particularmente caro, o protonacionalismo africano nos cinco países africanos de língua portuguesa, intitulado “O nacionalismo africano- continuidade e ruptura 1911-1961”. Mário de Andrade deixou diversos artigos e ensaios espalhados pela Guiné- Bissau, sua segunda pátria, Cabo-Verde, França, Estados Unidos e Portugal. (...) “A Mário de Andrade se deve essencialmente uma obra de historiador e ensaísta. A ele se debita ainda ter sido o mais lúcido divulgador da literatura africana de expressão portuguesa, através de antologias que vão desde o Caderno de poesia negra de expressão portuguesa, 1953, de colaboração com Francisco José Tenreiro, passando pela antologia de poesia negra de expressão portuguesa (Paris, 1958) até a mais recente, Antologia temática africana”. (...) O antropólogo angolano Virgílio Coelho resume a envergadura do trabalho mental deste poeta e ensaísta angolano de grande envergadura, nos seguintes termos: “ a vasta produção de Mário de Andrade constitui sem dúvida um grande contributo para o avanço das ciências humanas e sociais tanto em Angola como na África ( e no mundo, acrescentaríamos nós), considerando ainda que “a sua vasta bibliografia, requer urgente e sistemática recolha e publicação.” (...) Victor Kajibanga, autor de “Alma sociológica na ensaística de Mário de Andrade”, obra que mereceu menção honrosa no concurso de ensaio do Instituto Nacional das Indústrias Culturais (INIC), sublinha que os seu trabalho premiado é uma “contribuição ao estudo do percurso biográfico e intelectual de Mário Pinto de Andrade, um dos precursores do moderno nacionalismo africano nos PALOP e fundador da sociologia moderna angolana”. Victor Kajibanga, decano da Universidade Agostinho Neto, enfatiza ainda que “o estudo exaustivo da vida e obra de Mário de Andrade é uma tarefa que se afigura difícil, em conseqüência do ostracismo a que esteve votada a sua personalidade e do desconhecimento (entre nós) da sua vasta produção intelectual e dos diversos trabalhos publicados, pelo mundo fora, sobre a sua vida e obra”. (UNIÃO DOS ESCRITORES ANGOLANOS)
m.americo
Comentário de Luis C D dos Reis em 14 abril 2011 às 16:38
O significativo texto "O valioso tempo dos maduros" aparece e bem, creio eu, no Arquivo Café História, atribuído a Mário Coelho Pinto de Andrade (1928/1990), escritor, ensaísta e político angolano. Já em variadíssimos blogs espalhados pela NET o texto é atribuído, nuns casos, a Mário de Andrade (1893/1945), conceituado escritor, poeta e crítico de arte brasileiro, noutros, a Rubem Alves e ainda a Ricardo Gondim, pastor da Assembleia de Deus Betesba de São Paulo, que realmente publicou um texto idêntico, sob o título "O tempo que foge" inserido no seu livro "Eu creio mas tenho dúvidas", editado em 2007, com alguns parágrafos que em nada diferem daqueles que constam no texto atribuído a Pinto de Andrade, com outras variantes como, por exemplo, "bacia de jabuticabas" e "desafetos" em substituição a "bacia de cerejas", fruta própria de países de clima frios e "desafectos" assim escrito na grafia do português europeu que se usa em Angola, isto claro, até à efetivação do Novo Acordo Ortográfico. Enfim, esta última, de Ricardo Gondim, é uma versão com uma linha de construção idêntica à que presidiu a "O valioso tempo dos maduros". Ou será que "O valioso tempo dos maduros" é plágio da obra de Ricardo Gondim? Mas se assim fosse, então "O valioso tempo dos maduros' não pode ser de Pinto de Andrade já que este faleceu em 1990 e o livro "Eu creio mas tenho dúvidas" onde o texto "O tempo que foge" se insere, sómente em 2007 foi editado. Já quanto à expressão "As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos", essa sim é de Mário de Andrade, escritor brasileiro.   
Nestas circunstâncias e devido às dúvidas levantadas, grato ficaria se fosse possível ser informado das referências bibliográficas que fundamentam a atribuiçao do texto "O valioso tempo dos maduros" a Mário C. Pinto de Andrade.

Atenciosamente
LReis

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