"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 22 de junho de 2012

"FALE GROSSO COM OS RESPONSÁVEIS PELA DEMISSÃO DO PARCEIRO PARAGUAIO"

Se pedir socorro aos vizinhos trapalhões, Lugo pode acabar na embaixada brasileira como gerente da Pensão da Dilma


Fernando Lugo (à esquerda) e Manuel Zelaya

Afastado da presidência do Paraguai pelo Senado, Fernando Lugo resolveu recorrer à Justiça para recuperar o cargo. Os parlamentares entendem que o chefe do Executivo fez o suficiente para perder o emprego. Lugo acha que não. Cumpre ao Judiciário decidir quem tem razão. Por enquanto, foram respeitadas as regras constitucionais. Melhor assim.

Pelo menos até agora, a vítima do impeachment resistiu à tentação de pedir a ajuda dos vizinhos. O venezuelano Hugo Chávez está permanentemente à disposição dos companheiros aflitos.
E Dilma Rousseff, como revelou o blog de Lauro Jardim, ordenou ao chanceler Antonio Patriota que “fale grosso” com os responsáveis pela demissão do parceiro paraguaio.

Se tiver juízo, Lugo se limitará a brigar na Justiça. Em 2009, o mundo inteiro viu o que acontece quando o Brasil e a Venezuela resolvem socorrer em parceria um parceiro em apuros. O plano concebido pela dupla de trapalhões deveria devolver à presidência de Honduras o neobolivariano Manuel Zelaya, destituído pelo Legislativo com o endosso da Suprema Corte. Deu no que deu.
Zelaya voltou clandestinamente a Tegucigalpa, hospedou-se na embaixada brasileira, transformou o prédio na primeira Pensão do Lula e ficou à espera das tropas prometidas por Hugo Chávez. Só deixou o local depois de 125 dias.
Em vez da faixa presidencial no peito, levava na cabeça o chapelão que simulava uma coroa de destronado. Se seguir o exemplo do colega hondurenho, Lugo pode acabar na gerência da Pensão da Dilma.

O governo lulopetista jamais abriu o bico sobre as abjeções colecionadas pela ditadura cubana, nem sobre os chiliques autoritários da viúva argentina que herdou a Casa Rosada, muito menos sobre o desmoronamento da democracia venezuelana. “O Brasil respeita a soberania nacional”, recitava Celso Amorim e recita agora Antonio Patriota para justificar a política externa da cafajestagem. O mantra perde a validade quando algum companheiro perde o poder.

Como ocorreu em Honduras, o Congresso paraguaio afastou o presidente amparado em normas constitucionais. Fez com Lugo o que faria com Fernando Collor o Poder Legislativo brasileiro se o presidente que desonrou o cargo não tivesse renunciado pouco antes da destituição inevitável. O Planalto tem tanto a ver com a queda de Lugo quanto o governo paraguaio tinha a ver com o afastamento de Collor.

Como pôde acontecer uma coisa dessas em apenas dois dias?, choramingam os órfãos brasileiros do reprodutor de batina. Os paraguaios é que deveriam perguntar-se como pode o Brasil esperar sete anos pelo julgamento dos quadrilheiros do mensalão. Ou instaurar uma CPI que, depois de dois meses de tapeações, vigarices e patifarias, faz o que pode e o que é proibido para garantir a impunidade dos bandidos

22 de junho de 2012
Augusto Nunes

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