"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 22 de junho de 2012

NOVO FILME DE WOODY ALLEN DISCUTE A CELEBRIDADE


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Penélope Cruz em 'Para Roma com Amor' (Fonte: Reprodução/Divulgação)
O mais novo filme de Woody Allen segue a nova fórmula do diretor de conceber seus filmes inspirado por cidades importantes, como Paris, e agora Roma. Apesar de não ter o rigor técnico e o controle de filmes como Match Point e até mesmo o último Meia Noite em Paris, Para Roma com Amor é um filme engraçado, que diverte ao mesmo tempo que fala de assuntos contemporâneos.

O filme gira em torno do conceito de celebridade: o funcionário exemplar e tímido Leopoldo (Roberto Begnini), acorda um dia e sem mais nem menos encontra repórteres na porta de sua casa; ele se tornou uma celebridade. Ao mesmo tempo, um jovem casal sai do interior da Itália para tentar a vida em Roma — ela se perde sozinha andando pela cidade e acaba por encontrar o famoso ator Luca Salta, com quem acaba vivendo um romance.

Enquanto isso, o estudante de arquitetura Jack, que mora em Roma com sua noiva norte-americana, se apaixona pela amiga dela, uma atriz em ascensão que veio de Los Angeles para passar férias na cidade. Alec Baldwin faz um interessante personagem, uma espécie de consciência do rapaz, que comenta os lances do jogo de sedução entre Jack e a bela Monica.

Além de tudo isso, aparece o próprio Woody Allen, bom como sempre, como um diretor de óperas aposentado, que convence um agente funerário, dono de uma extraordinária voz, a seguir a carreira de tenor. Esses pequenos núcleos funcionam de forma paralela, sem interagirem entre si, sempre com as ruas e monumentos de Roma como cenário.

As peripécias amorosas, como não poderia deixar de ser, se juntam ao foco do filme sobre a noção de celebridade. O filme não traz, além de sua estética mais desorganizada – provavelmente fruto da inspiração do diretor com os histriônicos italianos – nada de novo em relação ao que se espera de um Woody Allen. E isso é bom!

É engraçado ver como Allen critica em seu roteiro a personagem Monica (Ellen Page, de Juno), com as mesmas críticas que são feitas a seus filmes: filmes que fazem o espectador se sentir inteligente ao citar determinados cânones do intelectualismo, mas sem nenhuma profundidade, e que divertem de forma aguada, com um humor já ultrapassado.

Diferente dessa opinião, acredito que Woody Allen, com a possibilidade de fazer praticamente um filme por ano, envelhece de forma digna; mais que isso, seus filmes atuais são muito superiores aos antigos. Ele se utiliza de recursos como distanciamento (o ator que se comunica olhando para a câmera), flashbacks, e personagens fantasmas, como é o caso de Alec Baldwin nesse filme, de forma magnífica. Seus filmes têm uma liberdade que não se vê na maioria do cinema que vigora nos grandes circuitos.

Ao focar as celebridades nesse filme, o diretor discute um fenômeno muito antigo, sob uma ótica da atualidade. Enquanto na Grécia clássica, os atletas que venciam as Olimpíadas tinham o direito de ter seus bustos esculpidos e guardados no Partenon, atualmente o célebre é aquele que tem sua imagem multiplicada através das imagens em movimento: nada melhor do que o cinema para tratar disso.

Francisco Taunay
22 de junho de 2012

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