Dos 10 deputados, apenas dois ainda estão no partido e no Congresso
BRASÍLIA - Em agosto de 2005, quando o publicitário Duda Mendonça afirmou em depoimento na CPI dos Correios ter recebido milhões de caixa dois no exterior, um grupo de deputados petistas protagonizou uma das imagens mais marcantes do caso: o choro incontido no plenário da Câmara. Indignados com as revelações, os deputados do bloco de esquerda do partido desabaram.
Sete anos depois, aquelas imagens retratam um partido que não mais existe. Dos dez deputados que aparecem na principal foto, apenas dois representam hoje o PT no Congresso: o líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), e também o deputado Dr. Rosinha (PR).
Chico Alencar (RJ), Ivan Valente (SP) e Paulo Rubem Santiago (PE) continuam no Parlamento, mas fora do PT. Valente e Chico migraram para o PSOL um mês após o choro coletivo. Paulo Rubem foi para o PDT em 2007. Os demais, alguns fora do PT, outros ainda no partido, perderam os cargos nas eleições.
— Ali foi uma catarse muito dramática para uma decisão que foi a mais difícil e dolorosa de toda nossa vida política. Quando a gente viu que havia no núcleo do poder um esquema de corrupção idêntico ao que o partido combatia foi uma punhalada nas costas. Sabíamos que havia concessões, que a gente combatia, mas ali foi a comprovação de um esquema muito poderoso. Ouvimos mil pessoas e prevaleceu a tese de que o PT não representava mais a mudança que queríamos — lembra-se Chico Alencar.
A ex-deputada Maninha (DF), que aparece nas fotos chorando nos ombros de Chico Alencar, filiou-se ao PSOL e em 2010 não conseguiu eleger-se sequer deputada distrital. O mais jovem do grupo, André Costa (RJ), foi para o PDT e hoje segue a carreira diplomática.
— É importante que um processo como esse esteja sendo julgado. É um episódio que não foi o primeiro, não foi o único. O PT tinha até então um ativo de muito valor que evaporou. O julgamento é um passo histórico — afirma hoje Paulo Rubem Santiago, que ficou 27 anos no PT.
Os que ficaram no PT aderiram à tese de que o que houve foi caixa dois de campanha. Dr. Rosinha é um exemplo.
— Aquela sessão foi um momento simbólico, pois nós não sabíamos de nada daquilo. Ainda assim, não cogitei sair do partido. Como fundador sempre fiz a disputa interna e vou continuar fazendo. Boa parte do que foi dito não está se comprovando, como o fato de todo mês se pingar dinheiro e o uso de fundos de pensão. Não sei se alguém merece ser condenado, não li a peça toda, mas há muita coisa sendo jogada para o público — pontua Doutor Rosinha.
Hoje presidente do PSOL, Ivan Valente cobra:
— Antes, na oposição, o PT mobilizava cem mil pessoas para pressionar o Congresso. Mas depois que chegou ao governo, mandou todo mundo para casa e optou por governar com PP, PR e PTB. Certamente teve corrupção. A contratação de um esquema através da SMP&B e da DNA sem dúvida serviu para pagar base parlamentar no Congresso.
Do outro lado da imagem famosa do choro, na tribuna da Câmara, estava o ex-deputado Tarcísio Zimmermann, que deu início à sessão de choro. Ele continuou no PT e hoje é prefeito de Novo Hamburgo (RS). Candidato à reeleição, ironicamente tem em sua chapa PR e PTB, dois dos partidos envolvidos no esquema.
05 de agosto de 2012
Paulo Celso Pereira
O Globo
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