CRISE DE IDENTIDADE
Cassado pelos militares na primeira lista do golpe de 64, sempre viajando nos seus cargueiros ingleses, Jânio passou longas temporadas na Europa, sobretudo Londres, mais perto da Escócia. Um dia, em Paris, ia pela Avenida Champs Elysées, com o jornalista e assessor Augusto Marzagão, quando um quatrocentão paulista, metido a importante, o viu e se aproximou:
- Presidente, o senhor sabe quem eu sou?
Jânio, irado, furioso, arregalou os olhos:
- Ora, meu caro, se você, que é você, não sabe quem você é, como iria eu sabê-lo?
E foi em frente, escapando da crise de identidade.
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BERNARDES E A BESTA
Com a anistia de 45 e o fim da ditadura Vargas, Artur Bernardes, governador de Minas, presidente da República, exilado na Europa, voltou. Virgilio de Melo Franco, Milton Campos e Pedro Aleixo, a vida inteira adversários irreconciliáveis de Bernardes foram recebê-lo no porto do Rio.
No dia seguinte, Pedro Aleixo foi visitar Bernardes em casa:
- Presidente, como é que o senhor está vendo a situação?
- Mal, muito, doutor Pedro. O senhor sabe o que nos pode acontecer? Venho do exílio. Li o tempo todo e estou certo de que estamos ameaçados.
- Ameaçados por que ou por quem, presidente?
- Ameaçados pela besta do apocalipse.
Pedro Aleixo saiu sem saber se a besta era Getulio, o comunismo soviético ou o imperialismo norte-americano, os três horrores de Bernardes.
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BANCO, A BESTA
Ao empresário José Alencar,que foi vice de Lula e era bravo como Bernardes, honrado como Bernardes e desassombrado como Bernardes, Pedro Aleixo não precisaria perguntar quem é a besta do apocalipse. Alencar logo diria que eram os bancos.
1 – “Nunca houve na história do Brasil semelhante transferência de riquezas do trabalho e da produção em benefício do sistema financeiro. O Banco Central reduziu os juros básicos da economia de 19% para 17,5%. Mesmo assim, o País tem a maior taxa real do mundo: 10,92%”.
2 – “O governo mantém as taxas no nível atual por prestar atenção aos economistas ligados ao mercado financeiro. Alguns, especialmente os ligados a grandes bancos, alegam que há um limite para redução da taxa, como por exemplo a 10% reais ao ano. Isso é grave. Eles mesmos dizem que o Brasil só pode crescer no máximo 3% ao ano. Senão, a inflação volta”.
3 – “É preciso ter coragem para romper com isso, ou vamos conviver toda a vida com altas cifras de desemprego e fazendo a pobreza crescer”.
Eis aí. Em 2003, votei em um presidente que tinha um vice na garupa dele. Depois, descubri que meu presidente não era o presidente, mas o seu vice é que deveria sê-lo. Crise de identidade.
Sebastião Nery
05 de agosto de 2012
Cassado pelos militares na primeira lista do golpe de 64, sempre viajando nos seus cargueiros ingleses, Jânio passou longas temporadas na Europa, sobretudo Londres, mais perto da Escócia. Um dia, em Paris, ia pela Avenida Champs Elysées, com o jornalista e assessor Augusto Marzagão, quando um quatrocentão paulista, metido a importante, o viu e se aproximou:
- Presidente, o senhor sabe quem eu sou?
Jânio, irado, furioso, arregalou os olhos:
- Ora, meu caro, se você, que é você, não sabe quem você é, como iria eu sabê-lo?
E foi em frente, escapando da crise de identidade.
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BERNARDES E A BESTA
Com a anistia de 45 e o fim da ditadura Vargas, Artur Bernardes, governador de Minas, presidente da República, exilado na Europa, voltou. Virgilio de Melo Franco, Milton Campos e Pedro Aleixo, a vida inteira adversários irreconciliáveis de Bernardes foram recebê-lo no porto do Rio.
No dia seguinte, Pedro Aleixo foi visitar Bernardes em casa:
- Presidente, como é que o senhor está vendo a situação?
- Mal, muito, doutor Pedro. O senhor sabe o que nos pode acontecer? Venho do exílio. Li o tempo todo e estou certo de que estamos ameaçados.
- Ameaçados por que ou por quem, presidente?
- Ameaçados pela besta do apocalipse.
Pedro Aleixo saiu sem saber se a besta era Getulio, o comunismo soviético ou o imperialismo norte-americano, os três horrores de Bernardes.
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BANCO, A BESTA
Ao empresário José Alencar,que foi vice de Lula e era bravo como Bernardes, honrado como Bernardes e desassombrado como Bernardes, Pedro Aleixo não precisaria perguntar quem é a besta do apocalipse. Alencar logo diria que eram os bancos.
1 – “Nunca houve na história do Brasil semelhante transferência de riquezas do trabalho e da produção em benefício do sistema financeiro. O Banco Central reduziu os juros básicos da economia de 19% para 17,5%. Mesmo assim, o País tem a maior taxa real do mundo: 10,92%”.
2 – “O governo mantém as taxas no nível atual por prestar atenção aos economistas ligados ao mercado financeiro. Alguns, especialmente os ligados a grandes bancos, alegam que há um limite para redução da taxa, como por exemplo a 10% reais ao ano. Isso é grave. Eles mesmos dizem que o Brasil só pode crescer no máximo 3% ao ano. Senão, a inflação volta”.
3 – “É preciso ter coragem para romper com isso, ou vamos conviver toda a vida com altas cifras de desemprego e fazendo a pobreza crescer”.
Eis aí. Em 2003, votei em um presidente que tinha um vice na garupa dele. Depois, descubri que meu presidente não era o presidente, mas o seu vice é que deveria sê-lo. Crise de identidade.
Sebastião Nery
05 de agosto de 2012
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