Para recordar à Fraternidade Muçulmana quem manda e quem obedece, os jornais sauditas desenterraram uma foto, publicada há uma semana, em que se vê o fundador da Fraternidade Muçulmana Hasan al-Banna, beijando a mão do rei Abd al-Aziz, como evidência de submissão, nos anos 1940s[2].
Os sauditas deram ao presidente egípcio Murrsi recepção humilhante. O novo príncipe coroado saudita recebeu Morsi no aeroporto (o rei não apareceu). E nem o novo príncipe coroado apareceu para despedir-se, nem na partida. Embora seja possível que Mursi venha a governar como presidente independente, seus inimigos insistem em apresentá-lo como testa de ferro de al-Shatir (Khairat al-Shatir, líder da Fraternidade Muçulmana).
Se for verdade, e seja lá quem for o conselheiro que Mursi ouve, é mau conselheiro. Até agora, as duas principais ações de Mursi na presidência saíram-lhe pela culatra: desafiar o Conselho Militar e visitar a Arábia Saudita.
O resultado de tudo isso para o futuro do Egito permanece incerto e obscuro, com Washington continuando a jogar dos dois lados da quadra e controlando vários cordões do jogo, mas não todos.
É verdade que os EUA estão hoje menos apavorados e trêmulos de medo do que estavam imediatamente depois da queda de Mubarak. Os grandes players ainda são os generais do Exército, além dos EUA; na fila, em sequência, vêm a Fraternidade Muçulmana apoiada pelo Qatar, e os sauditas, tradicionais apoiadores do regime de Mubarak.
Os diplomatas e espiões dos EUA ainda não sabem a que o atual curso de eventos levará a região. A situação na Jordânia está ligada à do Egito, Síria, Cisjordânia, Iraque e o resto do Golfo, e permanece a mais volátil, dentre as monarquias ainda “estáveis”, situação semelhante à de Omã.
As recentes manifestações massivas no Sudão visam a enfraquecer o governo despótico de Omar al-Bashir, levado ao poder por golpe contra a democracia sudanesa em 1989 (e cujas relações com os EUA azedaram nos anos 90), mas, até aqui, sua resposta às manifestações populares tem sido tão violenta quanto a dos sauditas ao lidar com o levante que lhes cabe.
Os norte-americanos continuam comprometidos não com alguma “democracia”, mas com a estabilidade – estratégia identificada pelo acadêmico e consultor do governo dos EUA Samuel P. Huntington, em seu livro clássico de 1968 sobre a importância da ordem e da estabilidade política no mutável Terceiro Mundo, para os interesses imperiais.
Tomar as democracias por estruturas inerentemente instáveis e as ditaduras por garantia de estabilidade já não é curso viável de ação para os agentes do governo dos EUA, mas eles ainda não decidiram se mantêm esse ideário para alguns países e o abandonam em outros casos.
Embora a região continue a carecer da democracia pela qual seus povos lutam há mais de um século, contadas a “Primavera Árabe” e as mudanças de regime que geraram, a principal conquista dos levantes populares, até agora, foi a instabilidade.
Essa instabilidade pode, sim, forçar uma mudança das regras estratégicas do jogo que os EUA introduziram na região depois da II Guerra Mundial. Essa é a boa notícia para todos os povos árabes.
Os sauditas deram ao presidente egípcio Murrsi recepção humilhante. O novo príncipe coroado saudita recebeu Morsi no aeroporto (o rei não apareceu). E nem o novo príncipe coroado apareceu para despedir-se, nem na partida. Embora seja possível que Mursi venha a governar como presidente independente, seus inimigos insistem em apresentá-lo como testa de ferro de al-Shatir (Khairat al-Shatir, líder da Fraternidade Muçulmana).
Se for verdade, e seja lá quem for o conselheiro que Mursi ouve, é mau conselheiro. Até agora, as duas principais ações de Mursi na presidência saíram-lhe pela culatra: desafiar o Conselho Militar e visitar a Arábia Saudita.
O resultado de tudo isso para o futuro do Egito permanece incerto e obscuro, com Washington continuando a jogar dos dois lados da quadra e controlando vários cordões do jogo, mas não todos.
É verdade que os EUA estão hoje menos apavorados e trêmulos de medo do que estavam imediatamente depois da queda de Mubarak. Os grandes players ainda são os generais do Exército, além dos EUA; na fila, em sequência, vêm a Fraternidade Muçulmana apoiada pelo Qatar, e os sauditas, tradicionais apoiadores do regime de Mubarak.
Os diplomatas e espiões dos EUA ainda não sabem a que o atual curso de eventos levará a região. A situação na Jordânia está ligada à do Egito, Síria, Cisjordânia, Iraque e o resto do Golfo, e permanece a mais volátil, dentre as monarquias ainda “estáveis”, situação semelhante à de Omã.
As recentes manifestações massivas no Sudão visam a enfraquecer o governo despótico de Omar al-Bashir, levado ao poder por golpe contra a democracia sudanesa em 1989 (e cujas relações com os EUA azedaram nos anos 90), mas, até aqui, sua resposta às manifestações populares tem sido tão violenta quanto a dos sauditas ao lidar com o levante que lhes cabe.
Os norte-americanos continuam comprometidos não com alguma “democracia”, mas com a estabilidade – estratégia identificada pelo acadêmico e consultor do governo dos EUA Samuel P. Huntington, em seu livro clássico de 1968 sobre a importância da ordem e da estabilidade política no mutável Terceiro Mundo, para os interesses imperiais.
Tomar as democracias por estruturas inerentemente instáveis e as ditaduras por garantia de estabilidade já não é curso viável de ação para os agentes do governo dos EUA, mas eles ainda não decidiram se mantêm esse ideário para alguns países e o abandonam em outros casos.
Embora a região continue a carecer da democracia pela qual seus povos lutam há mais de um século, contadas a “Primavera Árabe” e as mudanças de regime que geraram, a principal conquista dos levantes populares, até agora, foi a instabilidade.
Essa instabilidade pode, sim, forçar uma mudança das regras estratégicas do jogo que os EUA introduziram na região depois da II Guerra Mundial. Essa é a boa notícia para todos os povos árabes.
Joseph Massad é professor de Política e História Intelectual Árabe Moderna
na Columbia University, em New York.
na Columbia University, em New York.
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