"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O PAPIRO DA "ESPOSA DE JESUS" É VISTO COMO FALSIFICAÇÃO POR ESPECIALISTAS


Em casos como este os princípios metodológicos para a pesquisa histórica séria são sempre escamoteados ou evocados conforme a situação.

N. do E.:
Segue matéria do WND. Abaixo, faço um comentário sobre o tema.


Não é apenas a certidão de nascimento de Barack Obama que é tida por muitos como uma fraude.

Um fragmento de papiro sugerindo que Jesus Cristo de Nazaré era na verdade casado está recebendo o mesmo tratamento pelos especialistas.

“Eu diria que é uma falsificação”, disse à Associated Press o papirologista da Universidade de Hamburgo, Alin Suciu, durante um congresso de estudos cópticos em Roma.

“O manuscrito não parece autêntico” quando comparado a outras amostras de manuscritos coptas em papiros que datam do século IV.

Outro especialista que questiona a autenticidade do fragmento é Stephen Emmel, professor de estudos cópticos na Universidade de Muenster, que em 2006 analisou a descoberta do Evangelho de Judas.
“Há algo nesse fragmento. Algo em sua aparência e também na gramática copta que me parece ser de alguma forma não muito convincente”, afirmou.

O papiro foi manchete pelo mundo todo na terça-feira e teve cobertura do New York Times. Links para a reportagem foram colocados no WND e no Drudge Report.

Diz-se que o papiro contém a frase “Jesus disse a eles: minha esposa...”.

A descoberta foi alardeada por Karen King, professora de cristianismo primitivo na Harvard Divinity School.

“Esse fragmento sugere que alguns cristãos primitivos tinham uma tradição que acreditava que Jesus era casado”, afirmou King à Times. “Como já sabemos, existiu uma controvérsia no século II sobre Jesus ter sido ou não casado. Esse assunto surgiu involuntariamente na discussão sobre a possibilidade dos cristãos poderem se casar e fazer sexo”.

O fragmento desbotado de papiro mede apenas 3.8 cm por 7 cm – tamanho parecido com um cartão de visitas ou um pequeno celular.

Tem oito linhas de um lado, com tinta preta legível com a ajuda de uma lupa.

Logo abaixo da menção à Jesus ter uma esposa, há outro trecho que diz “Ela estará preparada para ser minha discípula”.

King admitiu na quarta-feira que ainda há perguntas a serem respondidas no que diz respeito ao fragmento. Além disso, ela diz aceitar de bom grado a ajuda de seus colegas profissionais da área. Agora ela pretende submeter o documento a testes na tinta para descobrir se os componentes químicos lá encontrados são os mesmos daqueles usados nos tempos antigos.

“Ainda temos trabalho a fazer, como testar a tinta e assim por diante. Mas o que é mais excitante nesse fragmento, é que ele é o primeiro caso onde temos cristãos afirmando que Jesus teve uma esposa” disse a professora à AP.

A Bíblia em si, nunca insinuou que Jesus era casado. King disse que o fragmento de papiro, mesmo que se comprove autêntico, não dá evidências de que Jesus era casado, apenas diz que centenas de anos após a morte e ressurreição de Jesus, alguns cristãos acreditavam que Ele tinha uma esposa.

O linguista copta Wolf-Peter Funk também coloca em dúvida a autenticidade. Segundo ele, o papiro tem uma forma “suspeita”.

Ele disse à AP que não há como avaliar a relevância do fragmento, pois ele não tem contexto.

“Existem milhares de fragmentos de papiros onde você pode achar disparates”, disse Funk, co-diretor de um projeto de edição da biblioteca copta de Nag Hammadi na Universidade Laval, em Quebec. “Pode ser qualquer coisa”, disse.

Parte do mistério do fragmento é que ninguém parece estar certo da origem, procedência ou onde ele esteve. Além disso, o proprietário desse papiro pediu para que não ter seu nome revelado.

A Harvard Divinity School disse que o fragmento aparentemente veio do Egito e sua documentação mais antiga é do começo dos anos de 1980. Isso indica que um professor alemão (agora falecido) acreditava que a peça era evidência de que Jesus poderia ser casado.

Hany Sadak, diretor geral do Museu Copta em Cairo, disse que os especialistas em antiguidades egípcias não faziam ideia da existência do fragmento até que ele apareceu nos noticiários.

“Eu particularmente penso, como pesquisador, que esse fragmento não é autêntico, pois caso fosse, ele teria estado no Egito anteriormente e nós saberíamos dele; também teríamos ouvido falar dele antes dele sair do Egito” disse Sadak à AP.

King disse que o proprietário que vender sua coleção para Harvard.

“Há todo tipo de suspeitas quando se trata desse assunto”, afirmou David Gill, professor de herança arqueológica na Universidade Campus Suffolk e autor do blog Looting Matters, que segue de perto o comércio ilícito de antiguidades.

“Ao meu ver, qualquer acadêmico sensato e responsável manteria distância disso.”

O surgimento do fragmento está causando muita conversa na blogosfera.

Michael D’Antonio, autor de Mortal Sins, Sex, Crime, and the Era of Catholic Scandal disse: “As implicações da descoberta da professora King são profundas. Se Jesus era casado, o principal argumento espiritual em favor da ordenação clerical apenas de homens e do celibato dos padres católicos será questionado. (Os padres não teriam de abandonar o sexo para imitá-Lo). Mais importante ainda, se Jesus era um homem de família, então a reivindicação feita pelo clero católico, que se denomina como sobrenaturalmente próximo à Deus, perderia muito de sua força.


Do WND: http://www.wnd.com/2012/09/jesus-wife-papyrus-blasted-as-forgery/
Tradução: Leonildo Trombela Júnior

Comentário do editor:

O papiro dos coptas e o papinho dos contras

Pelo exposto na matéria acima, sobram motivos para se duvidar da autenticidade do papiro. Mas ainda que o fragmento seja de fato do século IV, é lamentável ter de observar tanta gente pensando que isso pode por abaixo o fato conhecido de que Jesus nunca se casou. Haja paciência!

Não é a “tradição cristã”, como vi por aí, que garante que Cristo jamais se casou. São os inúmeros relatos, não só os bíblicos, como também os extra-bíblicos, de seus contemporâneos, dentre os quais alguns que o amavam e outros que o odiavam, que apontam para o fato de que Jesus Cristo jamais teve uma esposa. Resta alguma dúvida de que, caso ele tivesse uma esposa, esta mulher não seria apenas conhecida, mas sim uma referência histórica, um tema milenar de estudos teológicos, culturais e históricos, e seria até mesmo idolatrada?

É digno de nota que em casos como este os princípios metodológicos para a pesquisa histórica séria são sempre escamoteados ou evocados conforme a situação. Um destes princípios é o que atribui pesos distintos aos relatos das testemunhas. Quanto mais próxima da época do episódio é a testemunha, maior validade tem seu relato. Esse é o primeiro princípio que precisa, na presente situação, ser escondido pelos críticos do cristianismo.

Pois o papiro é do século IV. Já os vários judeus, os discípulos, outros seguidores de Jesus, os romanos e gente de outros povos que viram a Cristo em Belém, em Cafarnaum, em Jerusalém, em Nazaré, em Caná, e em outras cidades, ou seja, as testemunhas oculares de sua vida, nada dizem sobre o casamento de Cristo, ou dEle ter tido uma esposa, fato que jamais passaria despercebido se tivesse acontecido.

Mas os críticos, quando lhes convém, invertem os critérios. E então um pedaço de texto do século IV passa a valer mais do que textos completos de testemunhas oculares. Testemunhas consideradas confiáveis, se aplicarmos o método de análise de confiabilidade de testemunhas criado por David Hume (um ateu). Elas passam com louvor em todos os requisitos, e ainda vão além: deram a vida pelo seu testemunho.

Para atacar a ressurreição de Cristo ou o valor do cânon, os críticos do cristianismo fazem justamente o contrário: deixam estas testemunhas de lado e dão mais credibilidade a meras hipóteses criadas até mesmo séculos depois.


A pesquisadora Karen King, da Universidade de Harvard, que encontrou o papiro está correta: o texto não prova nada. O historiador André Chevitarese, da UFRJ, acertou ao dizer que usar o achado para dizer que Cristo era casado não passa de sensacionalismo, e que o relato diz mais sobre os cristãos coptas do século III do que propriamente sobre Jesus Cristo.

Também vale notar é que a apologética histórica sempre tem de lidar com a objeção da incognoscibilidade da história, que é jogada na gaveta assim que qualquer pedaço de papel de uma época qualquer supõe, em algum nível, uma ameaça a qualquer doutrina cristã milenar. Apenas nestes casos "a história prova" isso ou aquilo. Ou seja: evidência histórica, para alguns, só vale quando é contra o cristianismo.

Por aí se vê o que é o "pensamento crítico" e o "uso da razão" para certos ateus, neoateus militantes, agnósticos, botequeiros e palpiteiros compulsivos.

E não deixa de ser engraçado o fato de que muitos destes que não poucas vezes dizem que Jesus nem mesmo existiu, agora afirmam que Ele era casado e que os cristãos não querem admitir tal fato.

Eis a “lógica” destes que posam de guardiões da ciência. Mesmo sem existir alguém pode se casar.


21 de setenbro de 2012
Escrito por Joe Kovacs
 

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