"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 15 de setembro de 2012

OLAVO E A TEMPESTADE

       
          Artigos - Cultura 
A maioria dos mestres que conheço se caracteriza mais por sua pose que por seu conhecimento ou, quando muito, o seu conhecimento é a extensão dessa pose que, com frequência, se constitui no único indicativo de sua presença entre os homens. Os nossos mestres se ligam antes às instituições que representam que ao valor daquilo que dizem defender.

Por tudo isso Olavo de Carvalho se torna uma completa exceção, quer como filósofo e autor de obras realmente definitivas, - a exemplo de O imbecil coletivo, O jardim das aflições e Aristóteles em nova perspectiva - quer como professor de filosofia: e uma tal exceção nenhuma universidade, por melhor que fosse, poderia produzir.

Principalmente ao se tratar de alguém que, em suas aulas-conferências, costuma dispensar o uso de quaisquer anotações durante uma exposição oral.
E assim aconteceu numa de suas mais recentes aulas, sob a forma de vídeo-conferência, diretamente do endereço onde vive na Virginia, USA, quando ele procurava alinhar, com uma inesgotável paciência, temperada de uma fina argúcia, uma série de argumentos em relação a cada passo das Meditações, de Descartes, demonstrando, ponto por ponto, que as questões levantadas pelo filósofo não poderiam ser respondidas, de modo definitivo, segundo a ótica de seu tempo.
Ou esclarecendo melhor: jamais, por extraordinário que tenha sido Descartes, ele poderia visualizar, em todas as consequências, o rumo que elas tomariam no futuro, de acordo com a visão que hoje delas possuímos.

Enquanto ele assim dissertava sobre o pensamento de Descartes para seus milhares de ouvintes e admiradores, uma tempestade acaba de desabar sobre o seu próprio teto no estado da Virginia, de onde essa aula estava justamente sendo transmitida...
Como se tentasse, inconscientemente, seguir o exemplo de Jesus ao aplacar uma tempestade, no mar da Galiléia, para espanto dos seus discípulos, Olavo de Carvalho – que parecia até então alheado de tão colossal fenômeno meteorológico – começa em dado momento a informar, com a máxima segurança, para sua seleta assistência, com a imperturbabilidade de um estoico ou de um touro indomável a encarar o furor dos elementos, que as transmissões seriam interrompidas apenas por meia hora, mas que, dentro em pouco, tudo voltaria ao normal...

Dessa forma Olavo consegue enfrentar as tempestades do mundo, com o ar mais impávido que o próprio cogito cartesiano em face das reviravoltas, quase sempre inesperadas, do tempo e da história...

Escrito por Ângelo Monteiro

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