"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 15 de setembro de 2012

TEOLOGIA CRISTÃ OU MERA TÁTICA DE CORROSÃO CULTURAL?

       
          Artigos - Movimento Revolucionário 
(Postei o presente artigo em meu blog em abril do ano passado. Como o problema persiste e as mesmas táticas continuam a ser aplicadas na guerra cultural, republico-o aqui.)

Rob Bell, ícone da chamada “igreja emergente”, lança um novo livro, intitulado Love Wins, afirmando que, no fim das contas, o “amor vence, Deus é bom demais e esse papo de inferno não é bem assim”. Previsivelmente, ressurge o debate.

Não, meus caros, eles não querem provar que sua doutrina é a correta. No fundo, sabem que estão grotescamente errados. Ou alguém aí quer algo mais literal e contundente nos Evangelhos do que as afirmações do próprio Senhor Jesus sobre a realidade do inferno?

Francamente, não posso acreditar que há pessoas que vejam Rob Bell e seu amigo Brian McLaren como pessoas desprovidas de cultura teológica, que nunca leram uma sequer das muitas e contundentes refutações, algumas delas escritas há séculos, a essa pataquada chamada universalismo soteriológico.

Descartada a hipótese da tosquice doutrinária, até porque McLaren e Bell ainda evocam conhecimento filosófico (bem, evocam o desconstrucionismo “pós-moderno”...), é claro que Bell, com a bem estruturada estratégia midiática que usa, sabia de antemão do impacto que Love Wins iria provocar.
O reaquecimento do debate entre fãs da teologia liberal e apologetas do cristianismo bíblico era líquido e certo.

E começa o combate. O pós-moderno lança seus jabs, rodeia, mas logo o cristão bíblico manda aquele pesado cruzado (de direita) no queixo da criatura. 8, 9, 10. Fim.
O problema é que poucos assistem a luta. E a vitória, no plano cultural, a longo prazo, será, sim, do pós-moderno. Basta ver como estão nossas igrejas hoje.
O aprofundamento da já assustadora flexibilização dos padrões doutrinários e de conduta dentro do evangelicalismo contemporâneo é resultado mais visível da propagação de idéias como as de McLaren, Bell, e assemelhados.

Quer um exemplo? Bem, aí temos as dezenas de blogueiros fazendo críticas ferozes aos cristãos conservadores, posando de maduros, sensatos, equilibrados, e claro, culturalmente antenados (oh, excelsa virtude!) enquanto dão links para blogs e sites pró-gayzismo, ONG’s ecofascistas, partidos pró-aborto e com agendas notoriamente anticristãs. Sempre, é claro, em nome do seu insuspeito “amor cristão” pela humanidade.

Não poderia haver “cristianismo” mais palatável aos promulgadores do secularismo radical. E claro, das elites políticas globalistas. Tudo do jeito que a ONU gosta...

Isto posto, resta-me afirmar: no debate intelectual, seja sobre soteriologia, seja sobre o “problema do mal” ou sobre a possibilidade de conhecimento da revelação divina (até isso McLaren põe em cheque), os tais emergentes sabem: para eles, não há chance. O que eles visam mesmo é a modelagem cultural. De livro em livro, de vídeo em vídeo... a longo prazo, como tudo o que é feito objetivando efeitos culturais sólidos.

Infelizmente, na mais recente polêmica suscitada pelo recém-lançado livro de Rob Bell, não vi nenhum teólogo mais conhecido lidar com tal questão, por contundentes e oportunas que tenham sido as refutações.

Gerando caos doutrinário, essas figuras corroem a credibilidade de doutrinas óbvias, consolidadas e fundamentais para vivência de um cristianismo autêntico, libertador, baseado no agir do Espírito, que gera o anseio por santidade e zelo acerca das verdades reveladas nas Escrituras.

Nota-se fenômeno semelhante quando se observa a conjuntura do atual combate cultural numa perspectiva mais ampla. Do velho e desgastado evolucionismo, ao alarmismo ecofascista, temos situação análoga: o debate acadêmico prossegue, mas o vencedor na disputa cultural já temos. Não importa o quão farsesca se mostre a cada dia a tese do aquecimento global.
Qualquer chuva a mais ou a menos já é, para as mentes simples, resultado notório das tais mudanças climáticas antropogênicas.
Alguém aí dá crédito, de fato, a uma teoria como o desconstrucionismo de Derrida e de seus asseclas "pós-modernos"? Ainda assim, ela serve para emburrecer pelotões de acadêmicos.

Outro caso, outra pergunta: quantas crises financeiras, quantas "bolhas" e recessões econômicas precisaremos ver e viver, e quantas lacunas lógicas e conceituais ainda precisam ser identificadas na teoria econômica de John Maynard Keynes para que se abandone de uma vez por todas o ímpeto intervencionista dos defensores do "welfare state", do "Estado-Babá", causa suprema de tantas tragédias e guerras no século XX?

Quase todas essas teorias da modernidade são mais valiosas aos revolucionários pela destruição que causam do que pela sua suposta capacidade de interpretar e descrever certos aspectos da realidade, quando de fato o fazem. E é dessa forma que devem ser observados os postulados de Rob Bell e Brian McLaren. Nada muito diferente do caso da tal “teologia” da “Missão Integral”.

As frentes de ataque ao cristianismo na esfera cultural são muitas, e a liderada pela dupla universalista me parece bem mais nociva à Igreja do que, por exemplo, a do neo-ateísmo militante de Dawkins, Harris, Dennet e Hitchens.

Além de parecer muito mais uma disputa interna do que um ataque de infiltrados (e pode muito bem, ser, sim, e palmas para John MacArthur, que tocou na questão) não causam repulsa imediata da mesma forma que o gayzismo, por exemplo, causa.
Mas, é claro, abre-lhe caminho, afinal, se o cristão despreparado, simples, começa a ouvir um ou outro lobo na pele de pastor dizendo que "ninguém vai para o inferno, o amor vence no final", estamos às portas de um “liberou geral” que terá na própria Igreja seu epicentro.

Vale destacar que em todo o Ocidente ainda estamos pagando um preço elevado, nas famílias, igrejas e instituições com o “liberou geral” dos anos 70.

Àqueles devotos de um suposto "equilíbrio" teológico ou intelectual, uma turma pusilânime da qual sempre desconfio, as velhas heresias de Bell e McLaren soarão como um "posicionamento interessante".
E contará com vários adeptos instantâneos: aquele pelotão de cristãos já anestesiados com o pensamento deste século, que apóiam bovinamente a tudo que pareça "tolerante", "includente", ou politicamente correto.
Enfim, aqueles cristãos vacilantes que a cada dia cedem um pouco mais para a cosmovisão moderna, sem a qual o reino do Anticristo não se legitima ante as massas, e que se tornam um nicho de mercado cada vez mais promissor para sofistas de fala mansa e teologia torta.

15 de setembro de 2012
Edson Camargo
 

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