A secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton esteve recentemente na China,
para o que se espera que tenha sido sua última visita oficial a Pequim.
Encontrou recepção gélida do governo chinês, inclusive da mídia oficial, além do
que parece ter sido um revés pessoal.
Hillary – encontro cancelado
A imprensa que viaja com Hillary agitou-se com o cancelamento de uma reunião marcada com o próximo presidente chinês Xi Jinping. Claro. É possível que as justificativas que circularam entre jornalistas – que Xi teve um problema de agenda e/ou dores nas costas – sejam verdadeiras. Xi também cancelou encontro com o primeiro-ministro de Cingapura, Lee Hsien Loong.
Mas o Partido Comunista Chinês pode bem ter decidido que a derradeira visita de Clinton era oportunidade também derradeira e apropriada para dar-lhe um tranco – e um recado.
Como secretária de Estado, o normal seria que Clinton se encontrasse com seu correlato número 1 em Pequim, o ministro de Relações Exteriores Yang Jiechi. Contudo, dadas inúmeras circunstâncias, históricas (a importância da relação entre EUA e China; o status especial de Hillary, esposa de um ex-presidente dos EUA) e circunstanciais (o atual esfrangalhamento das relações entre EUA e China; o fato de ser a provavelmente última visita oficial de Clinton à China), ela encontrou-se também com o presidente Hu Jintao e com o premiê Wen Jiabao.
Caso se considere a perspectiva oficial, não há qualquer razão para que Clinton sinta-se desconsiderada; tampouco, também de uma perspectiva oficial, há qualquer justificativa para algum encontro oficial entre Clinton e Xi Jinping.
Afinal, Hillary e seu time estão de saída, o que não mudará se o presidente Barack Obama for reeleito ou se for substituído na Casa Branca por Mitt Romney.
Xi Jinping, por sua vez, ainda não é presidente da China. O emprego ainda é de Hu Jintao. Talvez Hu não goste da ideia de os EUA movimentarem-se às suas costas, já construindo relações com Xi, antes de Hu deixar a cadeira presidencial.
É possível que a liderança chinesa tenha pressentido que Hillary desejava encontrar-se com Xi só para acrescentar um item valioso ao próprio arquivo de contatos – poder dizer que tivera contato com a nova geração de líderes chineses –, pensando já na vida de pós-secretária de Estado e subsequente carreira de candidata, especialista-dona de think-tank e/ou sócia-assessora de megaempresas.
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KISSINGER
Nesse caso, o Partido Comunista Chinês pode ter cancelado o encontro com Xi para mandar um recado (parafraseando o imortal tranco que o falecido senador Lloyd Bentsen dos EUA aplicou a Dan Quayle, num debate entre candidatos à vice-presidência, há muitos anos): “Conheci Henry Kissinger. E, secretária Clinton, a senhora não é nenhum Henry Kissinger.”
De fato, Xi Jinping conhece, sim, Henry Kissinger (o qual, aliás, ainda não morreu). Encontraram-se mais de uma vez. Xi esteve com Kissinger e vários outros grandes do Departamento de Estado dos EUA, em fevereiro passado, quando de sua viagem aos EUA.
Mas já o conhecia de antes, quando se encontraram os dois, em encontro reservado, em Pequim, várias semanas antes de Xi viajar, quando a mensagem a enviar era que a China colheria todas as oportunidades (significativas) e não deixaria escapar momento (significativo), para promover relações bilaterais (significativas).
Para o PCC chinês, Kissinger é símbolo, defensor e advogado altamente considerado de um relacionamento muito especial entre EUA e China.
15 de setembro de 2012
Peter Lee (Asia Times Online)
Hillary – encontro cancelado
A imprensa que viaja com Hillary agitou-se com o cancelamento de uma reunião marcada com o próximo presidente chinês Xi Jinping. Claro. É possível que as justificativas que circularam entre jornalistas – que Xi teve um problema de agenda e/ou dores nas costas – sejam verdadeiras. Xi também cancelou encontro com o primeiro-ministro de Cingapura, Lee Hsien Loong.
Mas o Partido Comunista Chinês pode bem ter decidido que a derradeira visita de Clinton era oportunidade também derradeira e apropriada para dar-lhe um tranco – e um recado.
Como secretária de Estado, o normal seria que Clinton se encontrasse com seu correlato número 1 em Pequim, o ministro de Relações Exteriores Yang Jiechi. Contudo, dadas inúmeras circunstâncias, históricas (a importância da relação entre EUA e China; o status especial de Hillary, esposa de um ex-presidente dos EUA) e circunstanciais (o atual esfrangalhamento das relações entre EUA e China; o fato de ser a provavelmente última visita oficial de Clinton à China), ela encontrou-se também com o presidente Hu Jintao e com o premiê Wen Jiabao.
Caso se considere a perspectiva oficial, não há qualquer razão para que Clinton sinta-se desconsiderada; tampouco, também de uma perspectiva oficial, há qualquer justificativa para algum encontro oficial entre Clinton e Xi Jinping.
Afinal, Hillary e seu time estão de saída, o que não mudará se o presidente Barack Obama for reeleito ou se for substituído na Casa Branca por Mitt Romney.
Xi Jinping, por sua vez, ainda não é presidente da China. O emprego ainda é de Hu Jintao. Talvez Hu não goste da ideia de os EUA movimentarem-se às suas costas, já construindo relações com Xi, antes de Hu deixar a cadeira presidencial.
É possível que a liderança chinesa tenha pressentido que Hillary desejava encontrar-se com Xi só para acrescentar um item valioso ao próprio arquivo de contatos – poder dizer que tivera contato com a nova geração de líderes chineses –, pensando já na vida de pós-secretária de Estado e subsequente carreira de candidata, especialista-dona de think-tank e/ou sócia-assessora de megaempresas.
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KISSINGER
Nesse caso, o Partido Comunista Chinês pode ter cancelado o encontro com Xi para mandar um recado (parafraseando o imortal tranco que o falecido senador Lloyd Bentsen dos EUA aplicou a Dan Quayle, num debate entre candidatos à vice-presidência, há muitos anos): “Conheci Henry Kissinger. E, secretária Clinton, a senhora não é nenhum Henry Kissinger.”
De fato, Xi Jinping conhece, sim, Henry Kissinger (o qual, aliás, ainda não morreu). Encontraram-se mais de uma vez. Xi esteve com Kissinger e vários outros grandes do Departamento de Estado dos EUA, em fevereiro passado, quando de sua viagem aos EUA.
Mas já o conhecia de antes, quando se encontraram os dois, em encontro reservado, em Pequim, várias semanas antes de Xi viajar, quando a mensagem a enviar era que a China colheria todas as oportunidades (significativas) e não deixaria escapar momento (significativo), para promover relações bilaterais (significativas).
Para o PCC chinês, Kissinger é símbolo, defensor e advogado altamente considerado de um relacionamento muito especial entre EUA e China.
15 de setembro de 2012
Peter Lee (Asia Times Online)
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