O diplomata e poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999) utilizou em sua obra poética desde a tendência surrealista até a poesia popular, porém caracterizada pelo rigor estético, com poemas avessos a confessionalismos e marcados pelo uso de rimas toantes, inaugurando, assim, uma nova forma de fazer poesia no Brasil.
Segundo Vânia Duarte, graduada em Letras, “o poeta apresenta em sua obra duas linhas-mestras: a metapoética e a participante.
A linha metapoética abrange os poemas de investigação do próprio fazer poético. E a participante é aquela que tem como tema o Nordeste, com todos os problemas voltados para a questão social, tais como a miséria, a indigência, a fome, e esta temática está retratada no seu famoso poema “Morte e Vida Severina”, que revela a história de um retirante de 20 anos que sai em buscas de melhores condições de vida.”
Vânia Duarte explica que, “Catar Feijão” é uma poesia introspectiva, baseada na reflexão, no desvendar da essência camuflada pela linguagem, porque o artista parece não dialogar com um leitor comum, mas com os outros poetas. Podemos chamar isto de “Métrica do Intelecto”, no qual o “fazer poético” tem o seu sublime destaque.
Além disso, “podemos perceber que ele utiliza um simples ato do cotidiano, que é o de catar feijão, e compara-o com a prática da escrita, ou seja, assim como os grãos devem ser minuciosamente escolhidos, as palavras devem ser muito bem articuladas para que haja clareza, no que se refere ao exercício da linguagem.
A afirmativa torna-se verídica ao analisarmos os seguintes versos: Joga-se os grãos na água do alguidar /E as palavras na folha de papel/ E depois, joga-se fora o que boiar.”
CATANDO FEIJÃO
João Cabral de Melo Neto
Catar feijão se limita com escrever:
Jogam-se os grãos na água do alguidar
E as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
pois catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
Ora, nesse catar feijão entra um risco,
o de que, entre os grãos pesados, entre
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com risco.
Segundo Vânia Duarte, graduada em Letras, “o poeta apresenta em sua obra duas linhas-mestras: a metapoética e a participante.
A linha metapoética abrange os poemas de investigação do próprio fazer poético. E a participante é aquela que tem como tema o Nordeste, com todos os problemas voltados para a questão social, tais como a miséria, a indigência, a fome, e esta temática está retratada no seu famoso poema “Morte e Vida Severina”, que revela a história de um retirante de 20 anos que sai em buscas de melhores condições de vida.”
Vânia Duarte explica que, “Catar Feijão” é uma poesia introspectiva, baseada na reflexão, no desvendar da essência camuflada pela linguagem, porque o artista parece não dialogar com um leitor comum, mas com os outros poetas. Podemos chamar isto de “Métrica do Intelecto”, no qual o “fazer poético” tem o seu sublime destaque.
Além disso, “podemos perceber que ele utiliza um simples ato do cotidiano, que é o de catar feijão, e compara-o com a prática da escrita, ou seja, assim como os grãos devem ser minuciosamente escolhidos, as palavras devem ser muito bem articuladas para que haja clareza, no que se refere ao exercício da linguagem.
A afirmativa torna-se verídica ao analisarmos os seguintes versos: Joga-se os grãos na água do alguidar /E as palavras na folha de papel/ E depois, joga-se fora o que boiar.”
CATANDO FEIJÃO
João Cabral de Melo Neto
Catar feijão se limita com escrever:
Jogam-se os grãos na água do alguidar
E as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
pois catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
Ora, nesse catar feijão entra um risco,
o de que, entre os grãos pesados, entre
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com risco.
(Colaboração enviada pelo poeta Paulo Peres – site Poemas & Canções)
11 de outubro de 2012
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