"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O PERVERSO LEGADO DE PAES NA PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO

 

A certeza que deriva da reeleição de Eduardo Paes à Prefeitura do Rio é que continuarão as enormes intervenções urbanas pelas quais a cidade passa desde que ele assumiu. Apresentadas pela imprensa como positivas em si, elas resultam na expulsão branca de pobres e negros de áreas agora valorizadas.

Mas esse fenômeno, ao lado da baixa qualidade da saúde e da educação, é pouco destacado na primeira página, porque no miolo do jornal a publicidade oficial é farta. A construção de grandes obras a toque de caixa, que sempre abre espaço para uma série de irregularidades, mais uma vez é a praxe.

Com uma suposta necessidade de aprontar o Rio para a Copa em 2014 e as Olimpíadas dois anos depois, qualquer coisa ganha legitimidade, mesmo que só se sustentando com uma campanha publicitária pesada, frequente e permanente – ou seja, caríssima.

Fazem-se obras tremendamente impactantes do meio ambiente e das rotinas das pessoas com licenciamento simplificado – caso da Transcarioca – e sem que alternativas fossem cotejadas.

Colocou-se nesta rodovia R$ 1,6 bilhões em dinheiro do Município, financiados pelo BNDES, para desapropriar na marra milhares de casas por preços vis, desrespeitando o direito dos moradores e desconsiderando o trem e o metrô.

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EUFORIA

A euforia fabricada pela proximidade dos megaeventos venceu o bom senso e a prudência que precisam orientar a administração pública e seus recursos.



Paes alimentou o canteiro de obras a bilhões do Erário e, com a disparada nos preços dos imóveis, provocou uma verdadeira limpeza social em áreas anteriormente degradadas e habitadas pelos despossuídos.

É ótimo no papel de gestor de um Rio que serve menos para seus moradores e mais para os especuladores. Botou abaixo a institucionalidade de cinco milhões de metros quadrados do Centro, ali na Gamboa, Santo Cristo e Praça Mauá, agora administrados pelo Consórcio Porto Novo – leia-se Odebrecht, OAS e Carioca Engenharia.

Os serviços públicos de coleta de lixo, iluminação pública, limpeza, trânsito e pavimentação (não se espantem se no futuro a segurança pública engordar essa lista) foram presenteados às empreiteiras, sem que fossemos consultados sobre a privatização desta porção histórica do território carioca.

Horror maior ainda acontece no Morro da Providência, onde na penumbra da noite a Secretaria Municipal de Habitação marca as casas que serão demolidas para dar lugar a tenebrosas transações, em artimanha digna dos nazistas contra os judeus.

Desde já, é fácil antever o legado de Paes: uma cidade perversamente privatizada, cara e que não respeita a ampla parcela de sua sociedade que comete o “crime” de não ser integrada, como os negócios que ele proporciona, à especulação internacional.

11 de outubro de 2012

Carlos Tautz é jornalista e coordenador do Instituto Mais Democracia
– Transparência e Controle Cidadão de Governos e Empresas

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