Para fugir do Mensalão, escolhi um assunto mais ameno e incomum. Se a virgindade deixou de ser tabu, se pertence a um código de honra ultrapassado e se já não é mais um valor moral a ser preservado, como indicam recentes pesquisas, como explicar que o leilão pela internet do hímen de uma catarinense de 20 anos tenha alcançado o lance de R$ 1,5 milhão?
A disputa, que terminou nesta quarta-feira, foi vencida por um japonês, que vai consumar o ato a bordo de um avião num vôo da Austrália para os EUA, obedecendo a interdições como beijo na boca e a exigências como uso de camisinha e tempo de no máximo uma hora para realizar a proeza.
“Estou nesse projeto há dois anos”, contou Carolina Migliorini, a virgem. “Começou quando vi uma reportagem sobre um cineasta australiano que estava à procura de uma virgem para um documentário.”
Dizendo-se leitora de Dostoiévski, Hemingway, Albert Camus e Rousseau, além dos filósofos Sócrates e Sêneca, e confessando-se “muito romântica”, a bela donzela pretende usar parte do dinheiro para estudar medicina na Argentina.
“Já estava até matriculada, mas decidi adiar para 2013. Quando me inscrevi, menininha de 18 anos, achei que não receberia proposta.” Talvez não tenha recebido tantas quanto uma colega americana, que em leilão parecido vendeu o seu precioso bem por 3 milhões de euros a um empresário australiano, um dos 10 mil candidatos a desbravadores.
Repetindo: como explicar o fenômeno? Uma hipótese é que o hímen está custando caro porque justamente é um bem raro, em extinção. Com a palavra os sociólogos do comportamento.
Ó tempos! Ó costumes! Como dizia o grande Cícero em Roma, antes da chegada de Cristo para botar moral no pedaço.
E a BBC, hein? Tão respeitada pelo seu jornalismo, não foi capaz de descobrir que tinha dentro de casa, como famoso apresentador, um tarado sexual que durante anos abusou de cerca de 300 menores.
E o “NY Times”, hein? Tão rigoroso nos seus critérios de avaliação e escolha, aceitou ter como novo presidente o ex-diretor-geral do veículo inglês na época, Mark Thompson, que, apesar do cargo, nada viu e nada soube do escândalo que está sendo chamado de “tsunami de sujeira”.
Com o aumento brutal de homicídios e o descontrole geral da violência em SP, Sérgio Cabral precisa tomar cuidado: Alckmin pode querer levar o Beltrame para lá.
O meu sonho é chegar à idade do Ziraldo igualzinho a ele: cheio de energia e otimismo. E sem prazo de validade.
27de outubro de 2012
Zuenir Ventura, O Globo
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