"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 19 de outubro de 2012

BOA COLHEITA (VALE O REPETECO)

 

Nestes tempos em que o julgamento do século em nosso país aproxima-se do fim, do fim formal, vejam bem, porque se vai haver realmente punições, como estamos no Brasil, há que se esperar para ver o resultado. Pensando bem, quase sempre as coisas, por aqui, vão pelo caminho que “a gente” espera, isto é, fica tudo como dantes no quartel de Abrantes.

Um anexim, segundo nosso editor. Nelson Motta (foto) produziu um curto e belo texto, que vem a calhar nesta ocasião e merece ser conhecido pelos nossos leitores:

“Se o mensalão não tivesse existido, ou se não fosse descoberto, ou se Roberto Jefferson não o denunciasse, muito provavelmente não seria Dilma, mas Zé Dirceu o ocupante do Palácio da Alvorada, de onde certamente nunca mais sairia.

Roberto Jefferson tem todos os motivos para exigir seu crédito e nossa eterna gratidão por seu feito heróico:

‘Eu salvei o Brasil do Zé Dirceu’. Em 2005, Dirceu dominava o governo e o PT, tinha Lula na mão, era o candidato natural à sua sucessão. E passaria como um trator sobre quem ousasse se opor à sua missão histórica. Sua companheira de armas Dilma Rousseff poderia ser, no máximo, sua Chefe da Casa Civil, ou presidente da Petrobras.

Com uma campanha milionária comandada por João Santana, bancada por montanhas de recursos não contabilizados arrecadados pelo nosso Delúbio, e Lula com 85% de popularidade animando os palanques, massacraria Serra no primeiro turno e subiria a rampa do Planalto nos braços do povo, com o grito de guerra ecoando na Esplanada:

‘Dirceu guerreiro/ do povo brasileiro’.

Ufa! A Jefferson também devemos a criação do termo ‘mensalão’. Ele sabia que os pagamentos não eram mensais, mas a periodicidade era irrelevante.
O importante era o dinheirão. Foi o seu instinto marqueteiro que o levou a cunhar o histórico apelido que popularizou a Ação Penal 470 e gerou a aviltante condição de ‘mensaleiro’, que perseguirá para sempre até os eventuais absolvidos.

O que poderia expressar melhor a idéia de uma conspiração para controlar o Estado com uma base parlamentar comprada com dinheiro público e sujo? Nem Nizan Guanaes, Duda Mendonça e Washington Olivetto juntos criariam uma marca mais forte e eficiente.
Mas antes de qualquer motivação política, a explosão do maior escândalo do Brasil moderno é fruto de um confronto pessoal, movido pelos instintos mais primitivos, entre Jefferson e Dirceu. Como Nina e Carminha da política, é a história de uma vingança suicida, uma metáfora da luta do mal contra o mal, num choque de titãs em que se confundem o épico e o patético, o trágico e o cômico, a coragem e a vilania. Feitos um para o outro.

O ‘chefe’ sempre foi José Dirceu. Combativo, inteligente, universitário – não sei se completou o curso – fala vários idiomas, treinado em Cuba e na Antiga União Soviética, entre outras coisas. E com uma fé cega em implantar a Ditadura do Proletariado à ‘La Cuba’.

Para isso usou e abusou de várias pessoas e, a mais importante – pelos resultados alcançados – era Lula. Ignorante, iletrado, desonesto, sem ideais, mas um grande manipulador de pessoas, era o joguete ideal para o inspirado José Dirceu.

Lula não tinha caráter nem ética, e até contava, entre risos, que sua família só comia carne quando seu irmão ‘roubava’ mortadela no mercado onde trabalhava. Ou seja, o padrão ético era frágil .
E ele, o Dirceu, fizera tudo direitinho, estava na hora de colher os frutos e implantar seu sonho no país. Aí surgiu Roberto Jefferson… e deu no que deu.” (O sublinhado é meu…)

A análise de Nelson Motta está perfeita. Como disse Robert Green Ingersoll, livre pensador norte-americano do século XIX, um orador e líder político, notável por sua cultura e pela defesa do agnosticismo, Na vida não há prêmios nem castigos. Somente conseqüências.

Este mesmo também disse: A raiva é um vento que apaga a lâmpada da mente. Não nos enraiveçamos.

O importante é que nós, como parcela da população brasileira que ainda consegue, aos trancos, manipular as nossas sinápses, pelo menos, tenhamos em mente, fugindo do agnosticismo e ingressando na seara cristã, de lá pinçando outro anexim: a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória.
Tenho dito

19 de outubro de 2012
Ancião

 

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