O Supremo julga, no momento em que escrevo esta coluna, se Dirceu era ou não o chefe da quadrilha montada para roubar dinheiro público e distribuir a aliados do então governo Lula. Se for condenado, pouco importa. Se for para a cadeia, pouco importa.
No Brasil, ao que tudo indica, a ética na política é um doente terminal praticamente sem chances de cura. A única coisa que importa no país hoje é o que vai acontecer com a Carminha da novela, à noite.
E só.
Valores?
Que é isso?
Veja o que ocorre agora no Congresso, quando deputados federais escarnecem da população. Não bastasse a vergonha de se locupletarem com 14º e 15º salários à custa dos assalariados, eles decidiram oficialmente que não mais trabalharão às segundas e às sextas-feiras.
Se tiverem de fazer esse esforço hercúleo, os zé manés que os elegem — e os que não os elegem também — verão seus impostos serem tragados para pagar hora extra a esses guerreiros do povo brasileiro. Claro, as excelências não podem gastar saliva à toa.
Houve um tempo, acreditem, em que um partido logo sairia denunciando o absurdo perpetrado pela elite e mostrando que esse dinheiro poderia ser mais bem aplicado na educação. Mas creio que esse partido não existe mais.
E, cá pra nós, educação pra quê, se você já pode colocar seu filho na escola pública e ele terá um lugar garantido numa universidade federal sem precisar aprender nada?
Já viu revolução maior do que essa?
Pois é:
eu até concordaria que todas as vagas das federais fossem para alunos da rede oficial, desde que houvesse a iniciativa de melhorar o ensino nas escolas públicas. Mas acho que, assim como denunciar a corrupção, defender ensino de qualidade também deve ser coisa de gente golpista.
Devo estar desatualizado sobre os novos princípios que norteiam o Brasil atual.
Pelo rumo da carruagem, temo chegar um dia à Praça dos Três Poderes e, no lugar de Têmis, a deusa da Justiça, encontrar uma estátua de Dirceu. Terá o Brasil então chegado ao futuro.
Verei papais orgulhosos tirando fotos com os filhos ao lado do comissário de bronze. E eu já não serei nada mais que um dinossauro político à procura de uma esquerda que não mais existe.
Plácido Fernandes Vieira
Correio Braziliense
19 de outubro de 2012
19 de outubro de 2012
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