"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 4 de novembro de 2012

A AGRICULTURA SEGUNDO AS FARC

      
          Artigos - Terrorismo 
Ocultar o verdadeiro sentido da “revolução agrária” é obrigatório para os comunistas.

Com suas idéias retrógradas e absurdas em matéria de agricultura, os leninistas desataram terríveis catástrofes humanas em muitos países. A pior onda de fome que o mundo conheceu foi causada precisamente pelos comunistas. Durante o famoso ‘Grande Salto para Frente’ (1959-1961), mediante o qual Mao acreditava que ia fazer da China, em dez anos, uma potência industrial como a Grã Bretanha, entre 30 e 40 milhões de camponeses chineses morreram de inanição. Segundo indicam os arquivos descobertos nos últimos anos, a ditadura de Stalin fez outro tanto anos atrás. Entre 1932 e 1933, com efeito, as falsas soluções agrárias e a massiva repressão no campo levaram à morte 12 milhões de pessoas.
 
Como as mesmas idéias foram aplicadas nos outros países onde o comunismo tomou o poder, as economias foram devastadas e os desastres se estenderam. Durante o regime de Pol Pot no Camboja houve 800 mil mortos de fome.
Recentemente, na Coréia do Norte dezenas de milhares de pessoas, sobretudo crianças e idosos, morreram de desnutrição.
Todo o Leste Europeu afundou no marasmo econômico e seu atraso com relação ao Ocidente Europeu é visível ainda hoje, apesar da derrubada do comunismo e do ingresso desses países na União Européia. Etiópia, Cuba e Vietnã continuam sendo países em ruína.
 
A coletivização dos meios de produção foi o dogma gerador dessas tragédias. Como a terra era o principal meio de produção em países como a Rússia de 1917 e a China de 1949, foi decretada lá sua expropriação sem indenização.
A supressão da agricultura privada e dos mercados livres, a criação de grandes unidades estatais de produção, dirigidas por burocracias ineptas e violentas, e o monopólio da distribuição dos bens agrícolas, desembocaram em tremendas crises agrárias, humanitárias e ecológicas.
 
Os senhores Timochenko e Iván Márquez, herdeiros desse sistema atroz, estão fanaticamente convencidos de que essas são as “soluções” para o campo colombiano e que isso nos levará à sociedade perfeita (socialista). Eles têm evidentemente o direito de pensar assim.
O mal é que eles agora estão na possibilidade de ir muito mais longe: de “dialogar” e impor certas teses em matéria agrária a um governo que parece disposto a assinar acordos com eles em questões-chave para o equilíbrio do país.
 
O tema agrário, que Santos aceitou como o primeiro da agenda do palanque de Havana, sem dúvida foi calculado para que tenha um alcance mais que perigoso. Não é senão ouvir o que advertia, com não pouca angústia, o senador Juan Lozano alguns dias atrás:
“Por falta de uma oportuna apresentação ao Congresso da lei de desenvolvimento rural, o assunto vital das terras vai-se discutir primeiro com as FARC do que com a sociedade colombiana que não participou da violência. Levamos mais de dois anos esperando que radiquem a lei para combinar com os agricultores, industriais, associações e cidadania, assim que o diálogo agropecuário arrancará primeiro com a guerrilha do que em seu cenário natural, o Congresso”.
 
Este atraso na redação da lei agrária foi deliberado ou se trata somente de uma demora técnica? O alarme é legítimo quando sabe-se que a negociação secreta com as FARC durou quase dois anos.
 
Apesar de que Iván Márquez expôs suas idéias agrárias em Oslo em meio de uma enxurrada de insultos e ameaças contra a Colômbia, alguns analistas tratam de nos fazer crer que as FARC têm um programa razoável sobre a questão.
 
O jornal conservador La República deu a conhecer, por exemplo, um documento: a “cartilha agrária das FARC”. Esse texto que dois de seus redatores acolheram sem maiores objeções de fundo (por sorte incluíram algumas tímidas críticas do setor privado) pretende resumir a política “verdadeira” das FARC sobre o campo.
Cheia de toques ecologistas e de amabilidades para com os camponeses, e inclusive para com os proprietários nacionais do setor, esse texto mostra-se intratável e brutal com o investimento estrangeiro.
 
Na realidade, essa simpática “cartilha” não é mais do que um jato de fumaça que dissimula outras intenções.
A verdadeira concepção marxista da “reforma agrária” não é a que seus textos dizem senão a que essa corrente aplicou em outros países, inclusive Cuba, e a que Hugo Chávez tenta impor à força na Venezuela: a coletivização da terra, a destruição dos proprietários, dos agricultores médios, da agro-alimentação e da liquidação de toda a resistência popular.
 
Entretanto, La República afirma que as FARC propõem uma série de belezas: a “gratuidade da terra para os agricultores” e a extinção de domínio só para “as terras inexploradas ou exploradas com vulnerabilidades ao meio ambiente”. Maravilhoso! Que respeito à propriedade privada! Acrescenta que essa proposta prevê dar terras produtivas “a mulheres agricultoras chefes de família, abandonadas, viúvas”.
Excelente! O mesmo tratamento terão “as vítimas de deslocamento forçado e os profissionais do agro dispostos a pôr seu conhecimento a serviço do desenvolvimento rural”. Quem pode se opor a isso?
 
Dias depois, as FARC fizeram saber que a discussão em Havana não será só sobre a propriedade da terra pois, para elas, “o elemento terra é componente essencial do território” e que “a partir deste conceito hão de se dar as considerações fundamentais”. Explicação: amalgamar conceitos diferentes como “terra” (solo natural não coberto pelo mar) e “território” (a extensão que depende de um poder constituído: uma cidade, um estado, uma nação, um reino) procura deslizar a discussão para além dos cinco pontos aceitos por Santos.
 
Quer dizer, que em Cuba a discussão começará pelo problema crucial da “soberania em geral”, da “soberania alimentar” e do “bem-estar social”.
 
As FARC se negam a cumprir o assinado com os plenipotenciários de Santos e procuram levá-lo a negociar o que o ex-vice-presidente Humberto de la Calle Lombana havia dito que não se poderia discutir: a propriedade privada, o modelo econômico, o investimento estrangeiro e o ordenamento territorial (sem falar da ação das Forças Armadas e da política de defesa).
 
Ocultar o verdadeiro sentido da “revolução agrária” é obrigatório para os comunistas. O projeto de reforma agrária elaborado por Fidel Castro na Sierra Maestra, que incluía mudanças com o acordo dos grandes proprietários, cubanos e estrangeiros, foi varrido em junho de 1959 quando ele ordenou o processo de coletivização da terra, sob a forma de “cooperativas” controladas pelo Estado, inclusive contra a vontade dos agricultores. As indenizações aos proprietários nunca foram pagas.
Esse processo arbitrário agravou-se em outubro de 1963 com a lei que estendeu a coletivização a 74% das terras. A produção caiu desde então e nunca se recuperou realmente.
 
Em 2005, um economista e conselheiro ministerial cubano, Alfredo González Gutiérrez, admitia em um artigo esse fracasso: “O setor primário (agricultura, criação de gado e produção açucareira) não produz [em Cuba] um excedente de divisas, requer pelo contrário da contribuição de outros setores para poder satisfazer as necessidades alimentares da população”.
 
Com tais professores, as FARC fazem muitos colombianos tremer quando pretendem que sua “revolução agrária” garantirá um “desenvolvimento sustentável” em matéria alimentar. Olho, pois, senhores negociadores do governo colombiano, com as pressões e propostas beatíficas que sairão da boca dos negociadores da narcoguerrilha em Havana.
 
Escrito por Eduardo Mackenzie
Tradução: Graça Salgueiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário