Artigos - Cultura
O ‘Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano’ poderia muito bem integrar o material didático destinado a estudantes e universitários. Não, o propósito de adotá-lo não é transformar o jovem em um “perfeito idiota”; pelo contrário, o objetivo é evitar que ele seja mais um.
Apesar de descrever o “perfeito idiota latino americano”, o efeito produzido pelo “Manual” é justamente o oposto do que indica o seu título. Plinio Apuleyo Mendoza, Carlos Alberto Montaner e Alvaro Vargas Llosa – seus autores – pretendem livrar o latino-americano da “idiotice”.
Este mal pode ser diagnosticado com o reconhecimento de alguns sintomas: identificar a “falsa causalidade” – por exemplo, de que o subdesenvolvimento dos países pobres é o produto histórico do enriquecimento de outros; e a “falsa identificação do inimigo” – denunciar fantasmas como o “capitalismo”, o “liberalismo” (ou “neoliberalismo”), o “sistema”, os “ianques”, etc.
Para expurgar este peculiar destrambelhamento, ou amenizar os seus sintomas, o “manual” aponta algumas de suas raízes na história, na cultura, na economia, e até mesmo na psicologia. Neste último caso, sugere a hipótese de uma mistura doentia de admiração e rancor que engendra a inveja.
Nestes termos, a “idiotice latino-americana” aparece como um produto “cultural”, ou
um “estado mental”. Algo que pode ser remediado. Um destes tratamentos é a contestação dos estereótipos e esquemas febrilmente sustentados pelo “idiota”. O “antiianquismo”, por exemplo - regra de ouro da idiotologia política latino-americana.
“Todo idiota latino-americano tem de ser antiianque ou – do contrário – será classificado como falso idiota ou um idiota imperfeito” (p. 219). Também a “mitologia revolucionária” de Cuba. Frei Betto é um de seus arautos: “em nossos países se nasce para morrer, em Cuba, não!”.
Cantá-la com milhares de fuzilamentos é sintoma da “perfeita idiotice” ou da má-fé abjeta. A propósito, os padres e teólogos revolucionários não são apenas “idiotas”, mas blasfemos, pois assaltaram a Igreja Católica com o marxismo para celebrar a “teologia da libertação”.
O “manual” contesta ainda a bíblia – a “bíblia do idiota”, que bem se entenda: o livro de Eduardo Galeano, “As veias abertas da América Latina”.
Mario Vargas Llosa fornece uma descrição precisa do protagonista do Manual:
Acredita que somos pobres porque “eles” são ricos e vice-versa, que a história é uma bem sucedida conspiração dos maus contra os bons, onde “aqueles” sempre ganham e nós sempre perdemos (em todos os casos está entre as pobres vítimas e os bons perdedores), não se constrange em navegar no espaço cibernético, sentir-se “online” e (sem perceber a contradição) abominar o consumismo. Quando fala de cultura, ergue a seguinte bandeira: “O que sei, aprendi na vida, não em livros; por isso, a minha cultura não é livresca, mas vital”. Quem é ele? É o idiota latino-americano. (p. 15).
O problema é que grande parte dos “intelectuais”, educadores, pedagogos, professores - os que redigem as cartilhas e apostilas que definem as diretrizes do sistema educacional - apresentam estes traços e características. Por isso é tão difícil livrar a jovens estudantes e universitários da “idiotice”. E por isso o ‘Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano’ não faz parte de sua bibliografia.
Referência:
MENDOZA, Plínio Apuleyo. MONTANER, Carlos Alberto. VARGAS LLOSA, Alvaro. Manual do perfeito idiota latino americano. Apresentação Mario Vargas Llosa; prefácio Roberto Campos; tradução Rosemary Moraes e Reinaldo Guarany. 9a. ed. Bertrand Brasil: Rio de Janeiro, 2011.
04 de novembro de 2012
Bruno Braga
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