Em 2001, a Argentina entrou em crise, foi à bancarrota e caiu em um dos maiores default da história financeira moderna.
Até hoje, muito se discute se esse calote foi a panaceia para seus problemas econômicos ou apenas a parte visível de um fracasso administrativo e seu único remédio.
Para argentinos, 2001 foi um ano negro. O ano do “corralito”, como ficou conhecido o confisco das contas bancárias, deixou muitos argentinos sem emprego, com contas correntes e poupanças confiscadas.
A crise já se arrastava desde 1999, quando o então Presidente Menem deixou a presidência com um déficit fiscal de bilhões de pesos.
O Governo que se seguiu tentou apertar o cinto como pode, mas terminou admitindo a bancarrota, dando as costas ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e a vários credores internacionais.
Há quem aponte a Argentina como um exemplo do que não fazer, mas um dos maiores economistas contemporâneos tem opinião diferente sobre o calote.
Para o Nobel de Economia Paul Krugman, recentemente confrontado com uma comparação entre o país e a Grécia em crise, a Argentina fez bem em dar o calote e a prova disso está em que, desde então, voltou a crescer.
Internacionalmente, a batata argentina continuou a assar. A pressão se intensificou nos últimos meses quando um juiz de uma corte de apelações de Nova Iorque ordenou que a Argentina pagasse o que devia em títulos da divida pública argentina, conhecidos como bônus “abutre”.
O jornal Financial Times reagiu publicando que isso poderia levar o país a um novo default.
Em outro incidente, o navio escola argentino Fragata Libertad ficou retido em um porto de Gana graças a uma decisão judicial, como forma de pressionar o pagamento dos bônus. A saia justa durou 80 dias.
A crise parece ter terminado esta semana, mas a fragata tem ainda 21 dias no mar até atracar em Mar del Plata onde, conforme especulação, será recebida com honras de estado.
Agora, há quase exatos 11 anos da pior onda de arrastões e saques que varreu o país, voltaram os incidentes de rua.
Nos últimos dias, se multiplicaram por várias províncias ondas de saques a estabelecimentos comerciais e supermercados que, segundo a imprensa local, podem remontar ao fatídico dezembro de 2001. Os novos saques já fizeram duas vítimas fatais em Rosário.
Na sexta-feira, os saques chegaram à província de Buenos Aires. Oposição e Governo fazem uso político dos incidentes, enquanto analistas mais cautelosos se abstém de uma comparação direta com a situação de 2001.
É mesmo muito cedo para uma analogia com a crise de 2001, mas é certo dizer que os fantasmas daquele ano saíram a dançar neste dezembro quente na capital argentina.
Gabriela G. Antunes é jornalista e nômade. Cresceu no Brasil, mas morou nos Estados Unidos e Espanha, antes de se apaixonar por Buenos Aires.
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