Em meio ao noticiário sobre a Operação Porto Seguro e o fecho do Mensalão, e a propósito de nada, foi publicada esta semana pesquisa do Datafolha sobre as eleições presidenciais de 2014. Deu Lula e Dilma na cabeça.
Ganhariam, um ou outro, no primeiro turno. Considerando-se que faltam quase dois anos para aquelas eleições, e que nem mesmo se conhecem os demais candidatos, ignora-se o objetivo desse levantamento precoce.
É possível que quisesse mostrar exatamente isto: que o povo está indiferente ao Mensalão.
A tese já havia sido levantada por Lula, para quem o povo estava preocupado com a situação do Palmeiras.
A eleição de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo, que teve em José Dirceu um atuante cabo eleitoral, parecia confirmar a premissa.
A pesquisa, dentro desse raciocínio sofístico, a ratificava. Se verdadeira a conclusão, o que nem de longe está demonstrado, grave anomalia social teria sido constatada: o povo está indiferente, ou mesmo de acordo com a roubalheira.
O que se evidencia, no entanto, é algo bem diverso: que uma expressiva maioria ainda não conectou nem articulou os fatos.
Senão, vejamos. Lula não fez parte do julgamento do Mensalão. Só passou a ser citado após as denúncias de Marcos Valério, depois da condenação dos réus. Mesmo assim, a notícia foi apresentada como uma armação desesperada de Valério.
Em relação à Operação Porto Seguro, o máximo que se publicou é que uma das acusadas, Rosemary Noronha, era sua “amiga íntima”, nomeada por ele e que, no exercício da função, praticou tráfico de influência, o que bem poucos sabem o que seja.
Não houve tempo de assimilação do escândalo. No Brasil, são tantos – e simultâneos - que mesmo os escassos leitores de jornal custam a se situar; que dirá os que só se informam pela TV.
A maioria ainda vê as demissões que Dilma fez em seu governo como gestos espontâneos de moralidade e não por não ter outra saída, diante dos escândalos denunciados.
Todos sabem que pesquisa eleitoral fotografa o instante em que é feita, podendo ser alterada já no dia seguinte.
Não fosse assim, José Serra seria o presidente da República, já que figurou durante meses na dianteira das pesquisas de 2010.
O PSDB acaba de anunciar o seu possível candidato para 2014, o senador Aécio Neves (MG). O próprio indicado, na solenidade do anúncio, preferiu se resguardar e dizer que ainda é cedo, o que reduziu o impacto pretendido.
Aécio é ainda figura regional, com potencial para se nacionalizar, mas ainda levará um tempo para fazê-lo.
Há ainda os demais partidos, que nem sequer pensaram ainda no assunto. O PMDB, por exemplo, cogita de, pela primeira vez, lançar candidato próprio. Já Dilma e Lula ocupam diariamente a mídia.
Dilma, como presidente, tem espaço garantido. Lula, ex-presidente e liderança máxima do partido governista, idem.
Em face das últimas acusações, ainda não investigadas, pôs em cena seu personagem favorito: a vítima, o operário que chegou lá - e por isso tornou-se alvo das elites inconformadas.
É esse personagem, construído ao longo de três décadas, que se mantém vivo na memória popular.
O Lula real, o do Mensalão, “amigo íntimo” de Rosemary, carece de tempo para fixar-se perante a compreensão da maioria, que não lê jornal e tem dificuldade em decifrar a linguagem cifrada do Ministério Público.
Não surpreende, pois, o resultado da pesquisa, que encontrou um eleitorado sem nomes alternativos para avaliar.
Do ponto de vista do interesse jornalístico, significa pouco mais que nada. Politicamente, no entanto, serve como uma luva para o argumento petista de que as urnas absolverão o partido.
Foi o que Lula disse em 2006, quando se imaginava a salvo do Mensalão. As urnas o elegeram, mas os juízes do STF condenaram os seus mais próximos colaboradores.
E um deles, Marcos Valério, enjeitado como se não fizesse parte da turma, decidiu soltar o verbo.
Até aqui, poucos entenderam a dimensão do que se passa, não podendo, pois, articular os fatos.
Mas, como o ministro Gilberto Carvalho avisa que “em 2013, o bicho vai pegar”, é possível que isso ocorra com mais rapidez do que se imagina.
Feliz Natal.
21 de dezembro de 2012
Ruy Fabiano é jornalista
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