O Julgamento do Mensalão é uma tortura psicológica - principalmente para aqueles que não aceitam mais tanta impunidade no Brasil. O fato de o ministro Joaquim Barbosa ter recusado o pedido de prisão dos condenados na Ação Penal 470 só confirmou que tudo continua como dantes no Supremo Tribunal do Abrantes. No Brasil, só ladrão de galinha tem prisão garantida. Corrupto rouba, canta de galo e não vai preso.
Os
infratores acabam sempre beneficiados pela extrema morosidade de nossos
procedimentos judiciais. O teatral e demorado julgamento do Mensalão deu a
ilusão de que seria feita Justiça contra políticos-corruptos (ou
corruptos-políticos). Mas a longa tortura psicológica (para os condenados e para
os cidadãos que sonham com Justiça) está longe de acabar.
Tudo só se resolverá
depois do tal “transitado em julgado”. Ou seja, a decisão de ontem de Joaquim
Barbosa deixou claro que o drama jurídico ainda não acabou. Falta a publicação
do acórdão com os votos dos ministros, para que os advogados ainda possam
recorrer com inúmeros “embargos de declaração” (também conhecidos como recursos
de embromação).
Ontem
ficou mais uma vez evidente a falência múltipla de nosso sistema judiciário. Por
princípio, Justiça não pode ser sumária. No entanto, também não pode ser tão
lenta. Sendo assim, como é no Brasil, fica a clara noção de impunidade e
injustiça. A verdade objetiva é: o STF não deveria ter julgado o Mensalão. O
caso deveria ter sido apreciado pelas instâncias primárias da Justiça. Tudo foi
para o Supremo – que é a instância máxima de avaliação constitucional – por
causa do “foro privilegiado” (que não deveria proteger políticos que cometem
crimes comuns ou contra a gestão pública, como foram os delitos do mensalão). A
conclusão é: quando tudo começa errado, só pode acabar de forma mais errada
ainda.
Por
que o herói nacional Joaquim Barbosa rejeitou o pedido de prisão imediata dos
condenados no julgamento do mensalão, antes mesmo do trânsito em julgado da
ação? Tecnicamente falando, ele seguiu a tradição do STF de só mandar prender
depois de esgotados todos os recursos. Barbosa até admitiu ser possível
determinar a prisão quando os réus exageram no número de recursos, com o nítido
propósito de protelar a decisão final. Mas como os defensores dos condenados no
mensalão ainda não fizeram isso, Barbosa preferiu dar um voto de
confiança.
Barbosa
amarelou? Não, necessariamente. O ministro foi convenientemente pragmático. No
fundo, ele preferiu não alimentar ainda mais a guerra institucional promovida
pela cúpula radicalóide do Legislativo – comandada pelo deputado petista Marco
Maia – contra o Judiciário. Barbosa também não quis comprar briga com os demais
ministros do STF – que reformariam sua decisão no retorno do recesso da Justiça,
em fevereiro. Barbosa sabe que já foi o mais longe que o permitido na condenação
dos mensaleiros. Ele e o STF ficaram bem na fita. Parece que isto era o que
realmente importava em todo o docudrama desta longa Ação Penal
470.
Outro
detalhe que precisa ser lembrado para justificar a impunidade ou uma punição de
mentirinha para os mensaleiros. Todos devem ficar pouco tempo na cadeia. Exceto
Marcos Valério, os demais passarão pequenas temporadas nas “prisões especiais”.
Valério pegará um mínimo de 6 anos, 8 meses e 21 dias na prisão. José Dirceu
pegará 1 ano, nove meses e 10 dias. Delúbio: 1 ano, 5 meses e 25 dias. João
Paulo Cunha: 1 ano, 6 meses e 20 dias. Henrique Pizzolato: 2 anos, 1 mês e 5
dias. Por isso, o quanto antes começarem a cumprirem as penas, melhor para eles.
Assim
que for preso, sabe-se lá quando, o consultor José Dirceu ainda vai tirar onda
com a nossa cara. Poderá usar a prisão como propaganda, propagando a mentira de
ser “um preso político” (curiosamente no País governado pelo partido que
controla o Governo do Crime Organizado). Para ele e seu chefe maior – que sequer
foi indiciado -, os crimes compensaram e muito!
Os mensaleiros respiram aliviados. A Profecia Maia falhou. A Profecia Barbosa, também! O mundo não acabou para eles. Terão um Natal e um Ano Novo inesquecíveis... Poderão rir da cara da gente que ainda sonhava que seria possível, pelo menos, lhes dar um sustinho com a temporada na cadeia. No final das contas, eles pouco pagarão pelos crimes que cometeram e pelos quais foram (quase) condenados – quase porque ainda falta o “transitado em julgado”.
Vida
que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus.
22 de dezembro de 2012
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor.
22 de dezembro de 2012
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor.
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