Não haverá nesses dois partidos quem se disponha a contestar o que todos rotulam
como óbvio. Apesar de a presidente não haver avançado uma única palavra a
respeito, até os paralelepípedos da rua concordam com a evidência unânime.
Na verdade, pode não ser bem assim. Lá no fundo, há ressentimentos do PT com Dilma. Afinal, ela não abriu ao partido os espaços imaginados, além de não haver saído em defesa dos mensaleiros, nem por palavras nem por gestos. O máximo que concedeu foi fazer cara feia quando sentou-se ao lado de Joaquim Barbosa, pela posse do novo presidente do Supremo Tribunal Federal.
É pouco para os petistas que aguardavam solidariedade explícita a José Dirceu e outros.
Mas teve mais, quando estourou a Operação Porto Seguro. Dilma afastou, em menos de 24 horas, a alegre companheira das viagens internacionais do Lula, extinguindo o gabinete da Casa Civil em São Paulo. Também mandou passear os diretores de Agências Reguladoras implicados no tráfico de influência, sem falar na segunda autoridade da Advocacia Geral da União.
A tendência vinha de antes feito um fiozinho de água, transformou-se num plácido regato mas vai adquirindo contornos de riacho, com a corrente se acelerando: “por que não voltarmos logo aos tempos felizes do Lula?” – comentam na surdina companheiros insatisfeitos com a sucessora.
Caso o candidato venha a ser o antecessor, já em 2014, haverá festa na toca do PT. Retornariam os anos dourados da ocupação sem ressalvas do poder absoluto. Só depende dele, que muitas vezes declarou ser a vez de Dilma tentar a reeleição.
O problema é que as coisas mudaram. O ex-presidente vê-se posto na defensiva, obrigado a calar e a viajar. Lançado candidato, imagina o PT, despertará imensa e avassaladora onda de apoio nacional, deixando rosas e outras flores pelo caminho.
No PMDB, ainda que por avenidas diversas, o resultado é parecido. Claro que em condições normais de temperatura e pressão, sedimenta-se o apoio a um segundo mandato de Dilma, com Temer outra vez de vice.
Acomodam-se todos, mesmo com o alerta de suas bases sobre não poder sobreviver um partido, o maior de todos, sem apresentar há décadas candidato próprio à presidência da República. Mas não será por aí que a legenda mudará de planos.
Essa hipótese, considerada na surdina, só se abrirá caso o governo venha a despencar nas profundezas da crise econômica e da estagnação. Se as pesquisas de opinião revelarem quedas sucessivas na popularidade da presidente, junto com o PIB, o partido baterá asas.
Menos para a aventura isolada do candidato próprio que não existe, mais para aderir a quem estiver melhor, do outro lado. Ao Lula, se ele vier, mas por que não a Aécio Neves, Eduardo Campos ou até Joaquim Barbosa?
Não se trata de esporear o cavalo branco da imaginação, mas de considerar o pragmatismo tão comum nesse novo PMDB que o dr. Ulysses repudiaria, se estivesse entre nós.
Em suma, tudo organizado para a ortodoxia atual, mas com a alternativa inusitada e até desejada por grupos enrustidos, tanto no PT quanto no PMDB.
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DESTA VEZ, VAMOS?
Toda segunda-feira a imprensa especula ser a semana a última do julgamento do mensalão. E sempre os debates enrolam, prolongado-se para a próxima. Pode ser que agora aconteça, mas parece melhor ver primeiro para crer depois.
Falta decidir sobre o mandato dos deputados condenados, abrindo-se ainda debates sobre a extensão das multas aplicadas aos réus e sobre a necessidade de já serem presos os apenados mais perigosos.
Supondo-se que tudo termine agora, nem por isso estará encerrado o processo. Caberá ao relator Joaquim Barbosa redigir o acórdão, tarefa a exigir um ou dois meses, seguindo-se a fase de embargos dos advogados, a serem examinados um por um, pelos ministros.
Só depois, com o texto final submetido ao plenário, as sentenças terão transitado em julgado. Obrigatoriamente, a prisão, se não tiver ocorrido antes. Coisa para o segundo semestre de 2013.
10 de dezembro de 2012
Carlos Chagas
Na verdade, pode não ser bem assim. Lá no fundo, há ressentimentos do PT com Dilma. Afinal, ela não abriu ao partido os espaços imaginados, além de não haver saído em defesa dos mensaleiros, nem por palavras nem por gestos. O máximo que concedeu foi fazer cara feia quando sentou-se ao lado de Joaquim Barbosa, pela posse do novo presidente do Supremo Tribunal Federal.
É pouco para os petistas que aguardavam solidariedade explícita a José Dirceu e outros.
Mas teve mais, quando estourou a Operação Porto Seguro. Dilma afastou, em menos de 24 horas, a alegre companheira das viagens internacionais do Lula, extinguindo o gabinete da Casa Civil em São Paulo. Também mandou passear os diretores de Agências Reguladoras implicados no tráfico de influência, sem falar na segunda autoridade da Advocacia Geral da União.
A tendência vinha de antes feito um fiozinho de água, transformou-se num plácido regato mas vai adquirindo contornos de riacho, com a corrente se acelerando: “por que não voltarmos logo aos tempos felizes do Lula?” – comentam na surdina companheiros insatisfeitos com a sucessora.
Caso o candidato venha a ser o antecessor, já em 2014, haverá festa na toca do PT. Retornariam os anos dourados da ocupação sem ressalvas do poder absoluto. Só depende dele, que muitas vezes declarou ser a vez de Dilma tentar a reeleição.
O problema é que as coisas mudaram. O ex-presidente vê-se posto na defensiva, obrigado a calar e a viajar. Lançado candidato, imagina o PT, despertará imensa e avassaladora onda de apoio nacional, deixando rosas e outras flores pelo caminho.
No PMDB, ainda que por avenidas diversas, o resultado é parecido. Claro que em condições normais de temperatura e pressão, sedimenta-se o apoio a um segundo mandato de Dilma, com Temer outra vez de vice.
Acomodam-se todos, mesmo com o alerta de suas bases sobre não poder sobreviver um partido, o maior de todos, sem apresentar há décadas candidato próprio à presidência da República. Mas não será por aí que a legenda mudará de planos.
Essa hipótese, considerada na surdina, só se abrirá caso o governo venha a despencar nas profundezas da crise econômica e da estagnação. Se as pesquisas de opinião revelarem quedas sucessivas na popularidade da presidente, junto com o PIB, o partido baterá asas.
Menos para a aventura isolada do candidato próprio que não existe, mais para aderir a quem estiver melhor, do outro lado. Ao Lula, se ele vier, mas por que não a Aécio Neves, Eduardo Campos ou até Joaquim Barbosa?
Não se trata de esporear o cavalo branco da imaginação, mas de considerar o pragmatismo tão comum nesse novo PMDB que o dr. Ulysses repudiaria, se estivesse entre nós.
Em suma, tudo organizado para a ortodoxia atual, mas com a alternativa inusitada e até desejada por grupos enrustidos, tanto no PT quanto no PMDB.
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DESTA VEZ, VAMOS?
Toda segunda-feira a imprensa especula ser a semana a última do julgamento do mensalão. E sempre os debates enrolam, prolongado-se para a próxima. Pode ser que agora aconteça, mas parece melhor ver primeiro para crer depois.
Falta decidir sobre o mandato dos deputados condenados, abrindo-se ainda debates sobre a extensão das multas aplicadas aos réus e sobre a necessidade de já serem presos os apenados mais perigosos.
Supondo-se que tudo termine agora, nem por isso estará encerrado o processo. Caberá ao relator Joaquim Barbosa redigir o acórdão, tarefa a exigir um ou dois meses, seguindo-se a fase de embargos dos advogados, a serem examinados um por um, pelos ministros.
Só depois, com o texto final submetido ao plenário, as sentenças terão transitado em julgado. Obrigatoriamente, a prisão, se não tiver ocorrido antes. Coisa para o segundo semestre de 2013.
10 de dezembro de 2012
Carlos Chagas
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