Entretanto, deu tudo errado.
Marcos Valério acreditou que o Supremo Tribunal Federal não condenaria os mensaleiros, como lhe haviam garantido seus amigos do PT.
O julgamento se arrastaria. E quando terminasse estaria prescrita a maioria das penas reservadas aos crimes cometidos.
Condenado, ficaria livre da cadeia.
Existe regime aberto de prisão para quê? E semiaberto? Sem falar de penas alternativas.
Quem nomeou a maioria dos ministros do Supremo? Lula. Coube a Dilma nomear dois.
Contaram a Valério que vários dos ministros haviam ganhado a toga sob o compromisso de matar no peito e livrar o PT do estigma do mensalão.
Caixa 2 para pagar despesas de campanha? Fechado.
Lula concordara com a saída soprada pelo ministro Márcio Thomaz Bastos, da Justiça. Caixa 2 é tolerado como se fosse um crime menor. Ou como se nem crime fosse.
Mas pagamento de propina para que deputado votasse como queria o governo?
Mensalão com dinheiro público?
E gerenciado pelos auxiliares de maior confiança do presidente da República e que junto com ele subiram a rampa do Palácio do Planalto?
Fora os tolos, os ingênuos, os idiotas e os cúmplices, quem acreditaria que o mensalão fora montado sem o aval de Lula? À revelia dele? Pelas costas dele?
Exercício de ficção: um dia, Delúbio Soares, tesoureiro do PT, ligado a Lula a ponto de se hospedar com ele na Granja do Torto, procura José Dirceu, chefe da Casa Civil, e fala sobre um publicitário mineiro esperto com experiência em forjar empréstimos bancários e interessado em ajudar o PT.
Preocupado com a frágil base de apoio do governo no Congresso, Dirceu tem a ideia de usar as artes do mineiro para comprar votos na Câmara e apoio de partidos.
Conversa a respeito com cabeças coroadas do PT. Mas combina com todas elas esconder o assunto de Lula.
Logo de Lula!
Ninguém ao longo da história do PT ousou dar um passo importante sem antes consultá-lo. E ninguém deu um passo importante sem o consentimento dele.
Os que ignoraram a vontade de Lula acabaram expulsos do PT ou saíram para não ser.
Ora, sempre foi assim! Fim do exercício de ficção.
De volta a Valério.
Não. Lula jamais se arriscaria a ter o último capítulo de sua biografia escrito por possíveis algozes.
Valério, portanto, não deveria se preocupar com o pior. Viveria apertado por um bom tempo. Mas o companheiro Okamotto não o deixaria passar necessidades. Já lhe dera provas de que estaria sempre por perto para socorrê-lo.
A um gesto de Lula, entraria em ação.
Ainda no segundo semestre de 2005, por exemplo, quando Lula fora obrigado a pedir desculpas aos brasileiros e a se dizer traído, mesmo naquela ocasião, acuado por todos os lados, ouvindo de amigos o conselho para que abdicasse do sonho do segundo mandato, Lula não encontrou tempo para ordenar a Okamotto que ajudasse Valério?
Bastou que Valério procurasse um senador do PT, que procurou Lula, que...
É a minha história favorita! Não canso de repeti-la.
Foi assim: o senador disse a Lula que Valério estava sem dinheiro e ameaçava contar parte do que sabia sobre o esquema do mensalão.
A princípio, Lula nada respondeu. Em silêncio, por meio das paredes envidraçadas do seu gabinete, admirou uma fatia dos jardins internos do Palácio do Planalto.
Em seguida perguntou: "Você procurou Okamotto?" O senador respondeu que não. Ponto final.
Aquela não foi a primeira vez que Valério chantageou Lula. Mas só chantageia com sucesso quem é dono de segredos.
Passou para Valério a fase da chantagem. O PT e Lula não podem fazer mais nada por ele.
Condenado a 40 anos de reclusão, Valério só poderá obter benefícios em outros processos se revelar o que esconde. Ou o que diz esconder.
Se estiver blefando, azar o seu.
Mofe atrás das grades.
17 de dezembro de 2012
Ricardo Noblat
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