A fascistada petralha já veio encher meu saco, como se eu estivesse disputando eleições na Venezuela. Bem, não estava. Se estão intuindo que a democracia não pode se dar por satisfeita, a canalha está certa. O chavismo venceu a disputa e fez o governador em 20 dos 23 estados.
A oposição venceu apenas em Miranda — onde se reelegeu Henrique Capriles, derrotado por Chávez na eleição presidencial passada —, Lara e Amazonas. Perdeu estados que estavam sob o seu comando, como Zulia, Nova Esparta e Carabobo. O voto no país não é obrigatório, e se estima em 40% as abstenções. É claro que o resultado é ruim para quem se opõe de fato ou intelectual e moralmente à ditadura chavista, mas não é surpreendente.
Chávez está internado em Cuba, mas a ditadura que ele urdiu continua em vigor. “Ditadura com eleição, Reinaldo Azevedo?” Sim, nos tempos correntes, o que há de estranho nisso? Nada! Os oposicionistas continuam sem acesso aos meios de comunicação no país, especialmente as televisões, que se tornaram monopólios estatais. Os jornais e a Internet são mais independentes, mas os jornalistas estão sob risco permanente de ser processados pelo estado. No Brasil, são os muitos os admiradores desse jeito de entender a liberdade de imprensa.
A doença de Chávez foi usada como fator de mobilização sem nenhum pudor. Na recente disputa presidencial, ele mentiu aos venezuelanos anunciando uma cura que nunca existiu — era o homem que venceu o câncer; na disputa de agora, recorreu-se a outra construção: transformou-se em mártir.
Em rede nacional de televisão, Nicolás Maduro, o vice e agora presidente em exercício, pediu “um voto de amor por um homem que sempre deu tudo pelo povo da Venezuela”. O chamamento parece ter surtido efeito. Informa O Globo:
Quando faltava pouco menos de duas horas para o fechamento das urnas, o ministro da Ciência e Tecnologia, Jorge Arreaza, marido de Rosa Virginia Chávez, filha mais velha do chefe de Estado, transmitiu um recado do líder bolivariano em rede nacional de rádio e TV e afirmou que a saúde do presidente mostra “uma tendência positiva de estabilização” (…) “Chávez fez um chamado a todos os venezuelanos para que exerçam seus direitos para continuar avançando no caminho da justiça social”, declarou o ministro, tentando transmitir tranquilidade à população, em meio a uma enxurrada de rumores sobre o real estado de saúde do presidente. “Que o país fique tranquilo, a equipe médica é extraordinária. O presidente já começou a governar e a dar instruções”.
Não existe democracia sem eleições, mas eleições, por si, não definem democracia, como resta óbvio. Por que a Venezuela é hoje uma ditadura? Porque os que se opõem ao governo não dispõem de igualdade de condições para disputar eleições; porque os meios de comunicação estão submetidos à censura; porque o Judiciário vive sob a canga dita bolivariana; porque o regime recorre a falsas acusações para enviar adversários à cadeia ou forçá-los a se exilar.
“Mas tem o apoio da maioria que votou”, vocifera a fascistada. E daí? Não é a primeira vez que isso acontece. Aliás, os regimes mais criminosos de que temos notícia foram, durante um largo período, muito populares.
A propósito: alguém duvida de que a ditadura do Estado Novo ou mesmo a ditadura militar, no Brasil, tenham contado com apoio e até entusiasmo populares? Isso as tornava boas ou aceitáveis? A julgar pela produção acadêmica da esquerda brasileira, a ditadura militar era ruim, mas a de Getúlio era supimpa!
Democracia é outra coisa. Trata-se daquele regime em que todos os homens são iguais perante leis que foram submetidas ao crivo popular. Mas há mais: não são leis quaisquer. Elas estão comprometidas com valores, como as liberdades individuais, a liberdade de expressão e o direito à livre organização. Tudo aquilo que não há na Venezuela.
17 de dezembro de 2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário