Desde que foi relator do mensalão, e junto com o Procurador-Geral alcançou o inacreditável, condenando a todos os acusados com penas altíssimas, começou a freqüentar listas de presidenciáveis. Listas aleatórias, sem origem ou credibilidade, não passou de "palpite infeliz" (Noel Rosa), não saiu de notinhas do pé de página, era "emperrada" pela "descrença ou desesperança" da opinião pública.
Mas agora aparece refestelado (que palavra) nas poltronas e no conforto das pesquisas. Apesar destas ficarem quase sempre longe da realidade do poder verdadeiro, deram ao presidente do Supremo uma quantidade de votos capaz de projetá-lo para o Planalto no primeiro turno. Há! Há! Há!
Analisemos essas pesquisas, até para ajudar Barbosa e não permitir que seu ego se deixe influenciar por números coletados ambiguamente, com dois anos de antecedência. Examinemos unicamente a pesquisa, deixando a atuação e o comportamento do Ministro para mais tarde, quando o julgamento terminar.
Também nenhuma análise sobre o passado do Ministro, quem deverá fazer isso é o cidadão-contribuinte-eleitor, que dará a última palavra sobre seu futuro. Façamos um "fatiamento" dos obstáculos que o Ministro terá que enfrentar. (A palavra, lógico, foi inventada pelo próprio Barbosa, é a razão maior de seu sucesso. Estou pagando a ele os devidos royalties, palavra também na moda).
1 – A pesquisa é textual. Joaquim Barbosa teria 24 por cento dos votos, e 26 por cento garantem que "poderiam" votar nele. Portanto, estão aí 50 por cento, ainda distante de qualquer campanha.
2 - A pesquisa planta uma decepção ou frustração na possível ambição do Ministro, quando "decreta" que Dilma ou Lula ganhariam no primeiro turno, com total facilidade.
3 – É apenas contradição ou armadilha não tão bem armada, mas visível? Se Barbosa, segundo a pesquisa, tem ou teria 50 por cento das intenções de voto, como Lula ou Dilma poderiam ganhar facilmente no primeiro turno?
4 – Admitamos que Barbosa aceite o "convite" da pesquisa, e resolva trocar a presidência do Supremo pela presidência da República? Tentador. Fascinante. O primeiro cargo é transitório, vai apenas até novembro de 2014. O segundo inicialmente é de quatro anos, mas depois da privataria de FHC, pode garantir mais quatro. FHC foi o primeiro presidente de nossa História a ser reeleito. Pagou o preço exigido, o dinheiro não era dele.
(Prudente de Moraes, o primeiro presidente civil, não aceitou de jeito algum as propostas e convites para a reeleição, nem conversou. Foi sucedido por Campos Salles, que trabalhou intensamente para continuar. No ano de 1900, foi a Londres renegociar a "dívida", que Prudente se recusou a fazer, expulsando um Rothschild do palácio. Campos Salles andou de carro aberto pela Old Bond Street, centro financeiro de Londres, com esse mesmo Rothschild. Voltou, foi vaiadíssimo, teve de entregar o cargo a Rodrigues Alves).
5 – Vejamos o que Barbosa terá de fazer se decidir abandonar a carreira de magistrado (que Rui Barbosa considerava a palavra mais bonita da língua portuguesa, um equívoco, a mais bonita é MÃE) para se candidatar a presidente.
6 – A eleição presidencial será em novembro de 2014. Mas nesse mesmo 2014, em março, Joaquim Barbosa terá que se aposentar do Supremo. Perderá 6 meses de presidência do STF, e 10 anos e meio do próprio Tribunal, onde permanecerá até os 70 anos.
7 – E o partido? Não se elegerá se não for candidato por partido grande, digamos, PT, PMDB, PSDB. Até 1934, havia candidato independente, eliminado ditatorialmente por Vargas, com o silêncio comprometedor do Supremo. (Nos EUA existe o voto e o candidato independente, ninguém se elege, a não ser um deputado em 424).
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PS – Tudo suposição, naturalmente. Mas Joaquim Barbosa é humano (pelo menos parece), sujeito a tentações, mesmo com temporais e trovoadas.
PS2 – No momento. Joaquim Barbosa tem um objetivo lógico, não consolidado. Gostaria de manter um escritório de advocacia, "pro bono" (de graça), para clientes pobres que não têm como pagar. Mas as coisas e os projetos mudam, como a própria vida. Joaquim Barbosa é o melhor exemplo dessa mudança.
17 de dezembro de 2012
Helio Fernandes
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