Ao mesmo tempo em que discute os temas econômicos mais atuais, o Fórum Econômico Mundial abre espaços, há alguns anos, para debates paralelos, e, este ano, um deles foi dedicado a discutir como incluir a felicidade e o bem-estar dos cidadãos na medida da prosperidade de um país, para além do tamanho do Produto Interno Bruto (PIB). Entre os debatedores, os economistas Jeffrey Sachs, da Universidade Columbia, e o Prêmio Nobel Joseph Stiglitz, além de Laura Chincilla, presidente da Costa Rica, um dos países mais felizes do mundo segundo pesquisas ainda incipientes sobre o tema.
Paul Dolan, professor de Ciência do Comportamento da London School of Economics, e Oliver Harrison, diretor de Estratégia da Autoridade de Saúde de Abu Dhabi, escreveram um artigo para o blog do Fórum Econômico Mundial onde afirmam que “uma vida boa tem que ser medida individualmente.”
Há evidências científicas de que um povo mais feliz é mais saudável, produtivo e mais resistente a choques externos, como desemprego.
Não é apenas o Butão que usa a medida da felicidade. A Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os países mais desenvolvidos do mundo, está fazendo pesquisas para medir o bem-estar das populações, assim como o Reino Unido já está monitorando esse estado de espírito da população.
O economista Joseph Stiglitz diz que não sabemos ainda fazer boas medições sobre as diversas dimensões do progresso, e ele está convencido de que o PIB não é uma boa medida da felicidade do povo. O PIB pode crescer e o indivíduo não sentir o impacto em sua vida, pois o PIB per capita “é apenas uma estatística”.
Ele lembra que a produtividade do setor público não é medida, nem o sentimento de insegurança, assim como diversas outras dimensões que afetam a vida das pessoas. Há pesquisas que mostram que, no mundo atual, a conectividade é fundamental para o bem-estar das pessoas.
A presidente da Costa Rica, Laura Chinchilla, deu um exemplo do que seu país faz para aumentar a taxa de felicidade. Disse que o país poderia crescer mais que os 5% do PIB que vem conseguindo, em média, nos últimos anos, mas que não aprofunda a exploração de recursos naturais, como petróleo e gás, para manter o meio ambiente preservado.
Com relação ao trabalho, disse que não basta ter pleno emprego, mas que o número de horas trabalhadas permita tempo para o lazer, e que o número de mulheres empregadas seja proporcional à presença delas na sociedade.
Empregos inseguros e baixos pagamentos não produzem trabalhadores felizes.
Jeffrey Sachs lembrou que só nos últimos 200 anos o mundo passou à fase da riqueza, e que apesar de décadas de crescimento quase não houve mudança no bem-estar.
As mudanças climáticas estão acontecendo e é preciso salvar a humanidade. Foi lembrado que questões políticas impedem mudanças, e o exemplo do Partido Verde da Alemanha é característico disso.
A tentativa de impor limites de velocidade nas autoestradas alemãs para evitar acidentes e poluir menos, nunca é aprovada porque pode afrontar o sentimento machista dos homens.
Stewart Wallis, diretor executivo da New Economics Foundation, falou de estudos recentes sobre felicidade, mostrando que fazem a combinação de sentimentos de curto e longo prazos. Um deles, feito com mil estudantes entre 13 e 16 anos, mostrou que atividades esportivas e musicais davam mais alegria.
Sachs falou sobre modelos psicológicos usados para medir o bem-estar, e citou outra pesquisa que mostrou que os piores momentos do dia são quando você se encontra com seu chefe e a volta para casa com a dificuldade de transporte.
Os melhores momentos são quando se está com os amigos e quando se faz amor.
O resultado dessa pesquisa fez Sachs ressaltar que os países escandinavos aparecem nos quatro primeiros lugares (Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia), na frente de países da Europa mais ricos e dos Estados Unidos.
O Brasil aparece em várias pesquisas entre os mais felizes. Mas o que faz um país feliz?
Sachs lembrou que a procura da felicidade é registrada desde sempre, com Buda e Aristóteles, com a busca de uma vida virtuosa e a redução do sofrimento. Alcançar a felicidade é um trabalho de longo prazo.
27 de janeiro de 2013
Merval Pereira, O Globo
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