Diante do risco de mais um ano de paralisia econômica, a presidente Dilma Rousseff mobiliza ministros para pôr o governo em movimento e apela a empresários para investir e ajudar o País a sair do atoleiro. Se a economia continuar derrapando, o desemprego tenderá a subir, advertem porta-vozes do setor empresarial. O alto nível de ocupação, apesar da produção industrial emperrada, é um dos mais importantes ativos políticos do governo e, em especial, da presidente.
A abertura de postos na indústria já foi prejudicada. Entre janeiro e novembro, o nível médio de emprego no setor manufatureiro foi 0,2% inferior ao de 2011. Se a política econômica for incapaz de reverter esse processo e impedir a contaminação de outros setores, o projeto de reeleição será prejudicado. Esse risco impõe tarefas dramaticamente urgentes ao governo. A administração terá de mostrar em pouco tempo se conseguirá, afinal, produzir algo mais que voluntarismo e improvisação.
A presidente Dilma Rousseff, segundo informou a repórter Vera Rosa no Estado na segunda-feira, encomendou a um grupo de ministros a definição de metas para 2013 e 2014. Será preciso incluir na lista resultados para os setores de saúde e segurança, para responder a duas das mais importantes queixas dos cidadãos.
Ainda segundo a reportagem, ela se encontrou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o marqueteiro João Santana, antes da conversa com os ministros. Essas informações são especialmente importantes para a avaliação do quadro atual e das possibilidades de uma ação oficial mais eficiente.
Ao cobrar metas para a segunda metade de seu mandato, a presidente reconhece, implicitamente, a carência de um plano de governo. Ela chegou ao Palácio do Planalto, em janeiro de 2011, com vagas promessas de tornar mais eficiente a administração federal e de levar adiante as políticas de inclusão do governo anterior, executadas principalmente por meio da transferência de renda.
A promessa de elevar a qualidade gerencial nunca foi cumprida e provavelmente jamais será. A faxina ministerial imposta pelos fatos - seria impossível negar os escândalos ou tratá-los com panos quentes - esgotou-se na substituição de algumas pessoas. Nem o loteamento entre partidos foi abandonado nem se implantaram novos critérios de eficiência e qualidade.
O palavrório sobre planejamento jamais se concretizou em mudanças práticas. Os planejadores foram incapazes, por exemplo, de conciliar os cronogramas de geração de eletricidade e de construção de redes transmissoras. Grandes parques eólicos continuam sem ligação com o mundo.
A Usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, já poderia produzir, mas falta ligação com os grandes mercados. A mesma incompetência compromete os demais investimentos.
Obras de rodovias do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) avançam a passo de tartaruga. Com planos mal concebidos e mal executados - nem a Petrobrás escapou, nos últimos anos -, os balanços são maquiados com números do financiamento de imóveis.
O ano de 2012 foi de preparação, disse a presidente em discurso no Piauí, num dia de apagão em 33 cidades do Estado. Mas a "preparação" consistiu, de fato, numa colcha de retalhos formada de incentivos fiscais temporários, medidas protecionistas, desoneração da folha de salários de um número crescente de indústrias, redução dos juros e depreciação cambial.
A desoneração - improvisada - é inadequada para vários segmentos da indústria. Além disso, falta uma clara definição sobre as novas condições de financiamento da Previdência. Quanto ao corte dos juros, reflete em parte o voluntarismo presidencial.
A taxa básica foi reduzida, mas a inflação continua longe da meta e nada permite prever um recuo significativo até 2014. A "preparação" incluiu o convite ao setor privado para investir na infraestrutura. O resultado ainda será conferido.
O balanço geral é um fiasco. O investimento encolheu, a produção industrial diminuiu e o setor continua incapaz de competir, apesar do cambio depreciado. Resumo: quase 60 anos depois do Plano de Metas de Juscelino, Dilma tenta inventar as metas sem plano.
27 de janeiro de 2013
Editorial do Estadão
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