No entanto instituições que costumam ser mais precisas e ponderadas nas previsões de altas de preços ainda esperam que o IPCA ao final de 2013 seja ligeiramente inferior ao de 2012, cerca de 5,8%.
Decerto tais resultados superam o centro da meta, de 4,5%, raramente atingido. Além do mais, as expectativas em relação aos preços ou se têm deteriorado ou se tornado mais dispersas e incertas, entre outros motivos devido às intervenções do governo, tais como controles disfarçados de preços.
O governo dedica-se de modo agitado a evitar que a inflação estoure o teto da meta e que, assim, se dissemine uma sensação de falta de controle da política econômica. Pediu a governos estaduais e municipais que adiem reajustes de tarifas de transportes públicos, antecipou a redução dos preços da energia elétrica e tenta ainda produzir mágica que atenue o impacto do reajuste da gasolina.
Embora desconfortavelmente alta, a inflação não parece descontrolada. Há controvérsias a respeito de como lidar de modo politicamente transparente e tecnicamente responsável com esse nível de preços que teima em subir. Porém o governo Dilma Rousseff recusa-se a elaborar medidas de fôlego ou toma decisões que contrastam com a necessidade de conter preços.
Por exemplo, acelera gastos e incentiva empréstimos nos bancos públicos, que reavivam a inflação, mas não necessariamente o crescimento econômico. O próprio Banco Central, muito afinado com a presidente, acaba de declarar que a retomada econômica não depende de mais consumo, mas de produção e investimento, sobre o que mais nada pode fazer.
Em vez de agir de modo planejado, Dilma administra a economia como quem pedala uma bicicleta. Medidas extraordinárias, quando inevitavelmente se desgastam, têm de ser substituídas por outras -novas pedaladas que equilibrem de modo precário a bicicleta da política econômica.
Dilma Rousseff politiza a gestão econômica em dois sentidos da palavra. Submete o mercado a um excesso de decisões do governo e propagandeia seu ativismo improvisado como atos de governo capaz e atento, como a presidente gosta de alardear.
Apesar de algumas iniciativas louváveis, como a redução de juros e de alguns impostos e tarifas públicas, a marca da presidente não é o de um governo de visão ampla e compreensão profunda dos problemas, mas a do improviso recorrente, do malabarismo de medidas heterodoxas, do equilíbrio politicamente enviesado da economia.
27 de janeiro de 2013
Editorial da Folha
Nenhum comentário:
Postar um comentário