"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 27 de janeiro de 2013

"EQUILÍBRIO ENVIESADO"

 
Apesar de medidas positivas, falta ao governo Dilma visão integrada das questões, e economia é administrada na base do improviso
 
Até a metade do ano, é bem provável que a inflação acumulada em 12 meses supere o teto tolerado pelo regime brasileiro de metas inflacionárias -6,5%.

No entanto instituições que costumam ser mais precisas e ponderadas nas previsões de altas de preços ainda esperam que o IPCA ao final de 2013 seja ligeiramente inferior ao de 2012, cerca de 5,8%.

Decerto tais resultados superam o centro da meta, de 4,5%, raramente atingido. Além do mais, as expectativas em relação aos preços ou se têm deteriorado ou se tornado mais dispersas e incertas, entre outros motivos devido às intervenções do governo, tais como controles disfarçados de preços.

O governo dedica-se de modo agitado a evitar que a inflação estoure o teto da meta e que, assim, se dissemine uma sensação de falta de controle da política econômica. Pediu a governos estaduais e municipais que adiem reajustes de tarifas de transportes públicos, antecipou a redução dos preços da energia elétrica e tenta ainda produzir mágica que atenue o impacto do reajuste da gasolina.

Embora desconfortavelmente alta, a inflação não parece descontrolada. Há controvérsias a respeito de como lidar de modo politicamente transparente e tecnicamente responsável com esse nível de preços que teima em subir. Porém o governo Dilma Rousseff recusa-se a elaborar medidas de fôlego ou toma decisões que contrastam com a necessidade de conter preços.

Por exemplo, acelera gastos e incentiva empréstimos nos bancos públicos, que reavivam a inflação, mas não necessariamente o crescimento econômico. O próprio Banco Central, muito afinado com a presidente, acaba de declarar que a retomada econômica não depende de mais consumo, mas de produção e investimento, sobre o que mais nada pode fazer.

Em vez de agir de modo planejado, Dilma administra a economia como quem pedala uma bicicleta. Medidas extraordinárias, quando inevitavelmente se desgastam, têm de ser substituídas por outras -novas pedaladas que equilibrem de modo precário a bicicleta da política econômica.

Dilma Rousseff politiza a gestão econômica em dois sentidos da palavra. Submete o mercado a um excesso de decisões do governo e propagandeia seu ativismo improvisado como atos de governo capaz e atento, como a presidente gosta de alardear.

Apesar de algumas iniciativas louváveis, como a redução de juros e de alguns impostos e tarifas públicas, a marca da presidente não é o de um governo de visão ampla e compreensão profunda dos problemas, mas a do improviso recorrente, do malabarismo de medidas heterodoxas, do equilíbrio politicamente enviesado da economia.

27 de janeiro de 2013
Editorial da Folha

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