Reduções nas tarifas de energia são importantes para o crescimento; permanecem obscuros detalhes sobre como serão bancados os descontos
Com indisfarçável tom eleitoral, a presidente Dilma Rousseff anunciou anteontem, em cadeia nacional de rádio e televisão, que os cortes nas contas de luz serão maiores do que o prometido pelo governo no ano passado.
A redução na tarifa de energia elétrica das residências será de 18%, e o desconto para indústria, comércio, serviços e agricultura poderá chegar a 32%. Antes, estimavam-se índices de 16,2% e 28%. As novas taxas, que deveriam entrar em vigor no dia 5 de fevereiro, passaram a valer a partir de ontem.
Não há dúvidas quanto aos benefícios que essa medida poderá trazer à economia do país. Para além do alívio no bolso de cada cidadão, diminuir o preço da energia é um passo importante para restaurar parte da competitividade do setor privado brasileiro.
Permanecem obscuras, porém, questões sobre o custo da iniciativa. O governo federal precisará desembolsar R$ 8,5 bilhões por ano para assegurar os descontos. São recursos que sairão dos cofres públicos, mas ainda não estão claros todos os detalhes sobre como essa compensação será efetuada.
Em certo sentido, pelo menos uma parcela da redução parece alcançada de forma artificial. Melhor seria que o desconto resultasse de ganhos de eficiência, maior competição ou diminuição de tributos.
Durante seu pronunciamento de cerca de oito minutos, Dilma Rousseff não tocou nesses pontos. Preferiu, com um triunfalismo que não encontra respaldo na realidade, ressaltar o que seriam os sucessos de seu governo e criticar, com uma agressividade inusual, os que "são sempre do contra".
Dilma usou a rede nacional para mencionar avanços no combate à miséria e na redução dos juros e para fustigar quem, no começo do ano, apontava riscos de racionamento de luz -como se tal debate fosse inapropriado.
Levando sua retórica ainda mais longe, a presidente atacou até "os que não acreditavam que era possível crescer e distribuir renda" -como se esse discurso, típico dos anos 1970, não tivesse caído em desuso no Brasil já durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.
Talvez Dilma tenha visto no pronunciamento uma boa ocasião para tentar resgatar a confiança do empresariado nacional, a cada dia mais ressabiado. Meras palavras, porém, não bastam. O governo ainda precisa mostrar ações concretas e planos de longo prazo, uma dívida que a redução na conta de luz não conseguirá pagar sozinha.
25 de janeiro de 2013
Editorial da Folha de São Paulo
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