"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A SOMBRA NO PÉ DE DILMA


Enquanto a oposição pisava nos astros distraída e a presidente ia à televisão anunciar uma redução mágica nas contas de energia que pagaremos do mesmo jeito via impostos, era dada a largada da luta sucessória de 2014.

Por enquanto, é uma luta sucessória inusitada: todos os candidatos , assumidos ou não, são do mesmo lado, o do governo. Tudo indica que Dilma será candidata à sua própria sucessão, mas o voluntarismo de Lula intrometendo-se nos governos de suas criaturas, dá o que pensar.

Eduardo Campos, esse estranho projeto de semi-oposicionista a longo prazo e incondicional situacionista a curto prazo, parece mais um ensaio de orquestra para o concerto de 2018 do que uma opção real para 2014.

No campo da oposição, parece certo que o ungido é mesmo o senador Aécio Neves (apesar da eloquentemente silenciosa falta de apoio do eterno José Serra), embora o processo de aquecimento das suas turbinas oposicionistas seja de uma lerdeza exasperante, considerando a sua ausência dos debates nacionais que exigem vozes consistentes que digam efetivamente a que vieram e o que querem para o País.

Tanto é verdade que depois do rancoroso pronunciamento da presidente da República, ao anunciar a redução das tarifas de energia ao mesmo tempo em que acusava a oposição de quase crime de lesa pátria, a sua voz de protesto só se fez ouvir timidamente por escrito depois da fria e dura nota escrita pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra.

A oposição sequer teve força de manifestar, com a devida veemência, a sua opinião a respeito da escandalosa intromissão do ex-presidente Lula nos assuntos administrativos da prefeitura de São Paulo e na sua auto-nomeação como coordenador político da base do governo no Congresso.

Lula não suporta o silêncio e não consegue viver sem ser cortejado pelos admiradores de seus poderes para-divinos, que não se envergonham de compará-lo a Deus de maneira tão bajulatória que ele próprio parece ter se convencido de seus poderes extra-terrenos.

Todas as vozes oficiais do governismo saíram a repetir disciplinadamente que a presidente Dilma será candidata à sua própria sucessão, mas ninguém parece ter se dado conta de que a sombra do Criador não desgruda da imagem da Criatura e que isso só faz diminuir-lhe a autonomia e a estatura de estadista que ela possa pretender construir para si.

A fala zangada da TV no dia do anúncio da redução das tarifas de energia foi, inequivocamente, uma reafirmação de sua candidatura.

Resta saber se ela está mais incomodada mesmo com a inoperante e inofensiva oposição ou com a sombra que não larga do seu pé.

25 de janeiro de 2013
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário