Enquanto a oposição pisava nos astros distraída e a presidente ia à televisão anunciar uma redução mágica nas contas de energia que pagaremos do mesmo jeito via impostos, era dada a largada da luta sucessória de 2014.
Por enquanto, é uma luta sucessória inusitada: todos os candidatos , assumidos ou não, são do mesmo lado, o do governo. Tudo indica que Dilma será candidata à sua própria sucessão, mas o voluntarismo de Lula intrometendo-se nos governos de suas criaturas, dá o que pensar.
Eduardo Campos, esse estranho projeto de semi-oposicionista a longo prazo e incondicional situacionista a curto prazo, parece mais um ensaio de orquestra para o concerto de 2018 do que uma opção real para 2014.
No campo da oposição, parece certo que o ungido é mesmo o senador Aécio Neves (apesar da eloquentemente silenciosa falta de apoio do eterno José Serra), embora o processo de aquecimento das suas turbinas oposicionistas seja de uma lerdeza exasperante, considerando a sua ausência dos debates nacionais que exigem vozes consistentes que digam efetivamente a que vieram e o que querem para o País.
Tanto é verdade que depois do rancoroso pronunciamento da presidente da República, ao anunciar a redução das tarifas de energia ao mesmo tempo em que acusava a oposição de quase crime de lesa pátria, a sua voz de protesto só se fez ouvir timidamente por escrito depois da fria e dura nota escrita pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra.
A oposição sequer teve força de manifestar, com a devida veemência, a sua opinião a respeito da escandalosa intromissão do ex-presidente Lula nos assuntos administrativos da prefeitura de São Paulo e na sua auto-nomeação como coordenador político da base do governo no Congresso.
Lula não suporta o silêncio e não consegue viver sem ser cortejado pelos admiradores de seus poderes para-divinos, que não se envergonham de compará-lo a Deus de maneira tão bajulatória que ele próprio parece ter se convencido de seus poderes extra-terrenos.
Todas as vozes oficiais do governismo saíram a repetir disciplinadamente que a presidente Dilma será candidata à sua própria sucessão, mas ninguém parece ter se dado conta de que a sombra do Criador não desgruda da imagem da Criatura e que isso só faz diminuir-lhe a autonomia e a estatura de estadista que ela possa pretender construir para si.
A fala zangada da TV no dia do anúncio da redução das tarifas de energia foi, inequivocamente, uma reafirmação de sua candidatura.
Resta saber se ela está mais incomodada mesmo com a inoperante e inofensiva oposição ou com a sombra que não larga do seu pé.
25 de janeiro de 2013
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário