O vice-presidente da República e presidente de honra (?) do PMDB, Michel Temer, nesta semana falou para todo mundo ouvir que processos, denúncias e suspeições não afetam a credibilidade de Renan Calheiros como candidato à presidência do Senado.
Candidatura esta, diga-se, até agora presumida por clandestina.
Temer disse mesmo acreditar que Calheiros fará uma gestão “belíssima”, da qual sairá enaltecido, redimido de todos os pecados caso se conduza de maneira “correta, adequada”.
Isso em público, situação em que não traduz o que entende por correção e adequação.
No particular, contudo, o vice-presidente tem sido mais claro sobre as razões pelas quais, na sua visão, o companheiro de partido vai se cobrir de glórias apesar de todos os pesares.
O êxito, segundo argumenta para desestimular candidaturas alternativas tanto no Senado quanto na Câmara onde o atual líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, carrega passivo semelhante, decorrerá justamente dos pesares.
Na interpretação dele, exposta em conversas cujos interlocutores pedem reserva para não entrar em atrito com Temer, as denúncias não os prejudicam. Internamente, ao contrário, criam uma espécie de identificação com os que vivem ou poderiam vir a viver situações parecidas.
Ou seja, a maioria estaria disposta a eleger representantes que conhecem e sentem na pele “o problema”. Assim, teriam mais chance de ser “compreendidos” quando, e se, a adversidade batesse à porta.
Os presidentes da Câmara e do Senado, como se sabe, têm um poder enorme. Podem influenciar na criação de CPIs, na abertura de processos por quebra de decoro, funcionar como advogados de defesa de seus pares junto à opinião pública e dar por encerrados assuntos inconvenientes.
Por essas e várias outras, o prestígio da presidente da República e do Supremo está nas alturas enquanto o Legislativo se afunda na má fama.
Primeira pedra ─ O colégio de líderes partidários para a sessão legislativa que se inicia em fevereiro não será composto, como na passada, de ilustres desconhecidos. Deve ter Anthony Garotinho no comando do PR, Eduardo Cunha à frente do PMDB e José Guimarães (ex-chefe do assessor flagrado em aeroporto com dólares escondidos na roupa de baixo) na liderança do PT.
A notoriedade das excelências não decorre de imaculada reputação, é fato. Mas, moral para criticá-los quem há de ter?
Se a dita maior liderança política de todos os tempos apadrinha gente infratora (de Rose a ministros demitidos por envolvimento em denúncias), tenta induzir voto de ministro do STF, acha que os condenados do mensalão “não têm do que se envergonhar”, a trinca acima citada está dentro do padrão e, portanto, apta para liderar.
União estável ─ As invasões dos sem terra já não alcançam a repercussão de antes nem causam grandes preocupações. Basta ver a reação à ocupação das dependências do Instituto Lula, em São Paulo, para reivindicar qualquer coisa em busca de um protagonismo há muito perdido.
Assessores mandaram dizer que o ex-presidente ficou “chateado”, quando seria de se esperar algo mais por se tratar de flagrante atentado à lei.
Mas, aceitemos que tal indiferença seja proposital para evidenciar a perda de importância dos atos da turma de Stédile e companhia. O governo do PT, em seu descaso para com atos dessa natureza, conseguiu esvaziar o movimento.
Consolidou, contudo, duas situações nefastas: os danos concretos aos donos de propriedades invadidas – cujos prejuízos vão mais além da mera “chateação” ─ e a legalização da ilegalidade.
25 de janeiro de 2013
DORA KRAMER, Estadão
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