Continuará perseguido por perguntas sem resposta sobre as bandidagens de Rose
É preciso lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Não se pode esquecer, por exemplo, o caso de polícia em que Lula foi envolvido pela primeiríssima amiga Rosemary Noronha.
A Polícia Federal revelou em 23 de novembro do ano passado que a chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo era também dirigente da uma quadrilha infiltrada em agências reguladoras que comercializava pareceres técnicos.
Passados mais de dois meses, o ex-presidente a quem Rose se referia como “meu namorado” não deu um único pio sobre o escândalo.
Faz 65 dias que Lula foge de jornalistas. Nesse período, discursou para moradores de rua, posou para a posteridade ao lado de Sofia Loren, fez palestras sobre assuntos que ignora, assistiu ao jogo entre Santos e São Bernardo enfurnado num camarote, garantiu a uma entrevistadora da TV da Federação Paulista de Futebol que quem pratica esporte não usa droga, deu conselhos a Fernando Haddad, nomeou-se co-presidente, encontrou tempo até para mostrar que, embora não tenha lido um só livro nem saiba escrever, tem muito a ensinar a intelectuais cucarachas.
Só não falou da chanchada pornopolítica em que se meteu.
Confiante na crônica amnésia nacional, deve achar que o filme de quinta categoria vai terminar antes do fim ─ e com a vitória dos vilões. Engano. Até que recupere a voz (e crie coragem), será perseguido por perguntas sem resposta. Não são poucas.
E faltam muitas, adverte o avanço das apurações da Polícia Federal e a coleta dos primeiros depoimentos pelo Ministério Público. As patifarias já descobertas sugerem que a história está em seu começo.
Os inocentes não têm o que temer. Quem tem culpa no cartório não vai escapar pela trilha do silêncio.
O Brasil não pode desviar-se da trilha desmatada pelo desfecho do julgamento do mensalão. As penas impostas pelo Supremo Tribunal Federal transformaram numa espécie a caminho da extinção o brasileiro-condenado-ainda-no-berço-à-perpétua-impunidade. Todos são iguais perante a lei, ensinaram os ministros.
O ex-presidente não é mais igual que os outros. Não está acima de qualquer suspeita. Não é inimputável. Nem mesmo ao fundador do Brasil Maravilha é permitido transformar urna em tribunal e decidir que um chefe de seita absolvido pelo rebanho não tem contas a prestar à Justiça.
Apesar de tudo, apesar de tantos, o Brasil não é uma Venezuela. O Código Penal vale também para Lula.
25 de janeiro de 2013
augusto nunes
in abobado