"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

DILMA OU PAPAI NOEL FORA DE ÉPOCA?

 

Segunda-feira foi em Brasília, diante dos novos prefeitos do país inteiro. Ontem, em Sergipe, na presença de considerável aglomeração popular. Ainda esta semana, outros estados do Nordeste.

Depois, segundo a programação oficial, viagens por todo o território nacional, com estados visitados mais de uma vez, sempre com o mesmo propósito.

É a Nova Dilma, distribuindo benesses feito um Papai Noel fora de época. Não está iniciando, mas certamente desdobrando e inflando uma estratégia destinada a chegar a outubro do ano que vem com índices de popularidade e apoio político e partidário capazes de garantir-lhe a inevitável reeleição.

Claro que a entrega de obras e a distribuição de recursos exprime um fim em si mesmo, o cumprimento de um programa de governo, mas é evidente o acoplamento dos dois objetivos.

Para os mais de 5.500 prefeitos ela anunciou a liberação de 66 bilhões de reais para saneamento, pavimentação de estradas, construção de creches, escolas e postos de saúde, distribuindo de tabela motoniveladoras e retroescavadeiras.
Uma festa, também com direito a recursos para os municípios saldarem suas dívidas com a Previdência Social.

Para os sergipanos, a inauguração da ponte Gilberto Amado, ligando duas importantes cidades, um parque eólico em Barra dos Coqueiros, além de máquinas para obras rodoviárias naquele município e investimentos federais para todo o estado.
Não vem ao caso se o governador Marcelo Deda, feliz como um pimpolho na véspera do Natal, é do PT e um dos mais ardorosos defensores do segundo mandato para a presidente. Governadores de outros estados e de outros partidos, até adversários, receberão presentes iguais.

Essa blitz estava prevista, ainda que não para tão cedo. Afinal, boa parte dos projetos do PAC deixaram de se completar.
A rodada de inaugurações, no entanto, apóia-se em obras finalizadas, ou quase, pela razão política: a presidente terá sentido estar perdendo bases e espaço partidário a partir da especulação de que o Lula poderia ser o candidato em 2014.
Setores do PT, descontentes com ela, começaram a tentar seduzir o ex-presidente meio desocupado e até carente de voltar ao centro do palco.
Coube ao próprio Lula mandar desmentir a hipótese, mas só essa operação não bastava. Tornou-se necessário um movimento da própria Dilma, planejado e desenvolvido por ela.

A pergunta que se faz é se a presidente e seu governo terão fôlego para prosseguir no mesmo ritmo até as eleições, durante o ano e oito meses que nos separam delas.

FREIO DE ARRUMAÇÃO OU PÉ NO ACELERADOR?

José Serra enfrentou o microfone pela primeira vez desde sua derrota para prefeito de São Paulo. discursando num evento do PSDB paulista. Cauteloso, disse estar em fase de arrumação e de descanso. Atribuiu às loucuras da imprensa notícias sobre sua mudança de partido ou o lançamento prematuro de sua candidatura às eleições de 2014. Também desmentiu posicionar-se contra o lançamento de Aécio Neves. Nem a favor.

Arrumação é sempre uma atividade salutar, desde que não confundida com aquele freio acionado pelo motorista do ônibus lotado, de forma a abrir mais espaços para mais passageiros. E descanso também tem sua hora.

CONCORDAR NÃO É APOIAR

Fosse feita uma indagação aos 81 senadores e todos, menos um, concordariam em que Pedro Simon é o colega mais talhado para ocupar a presidência do Senado. Ninguém com melhores qualidades, experiência e propósitos existe no plenário.
No entanto, se em vez da indagação, houvesse votação, o senador gaúcho não receberia mais do que dez votos. A razão é simples: a maioria tem medo pânico de suas promessas de moralizar a casa.
30 de janeiro de 2013
Carlos Chagas

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