"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 30 de março de 2013

AMIGOS, AMIGOS, SUCESSÃO À PARTE

 

O Nordeste, nestes dias iniciais do outono brasileiro, seguirá ainda como ponto de referência nacional nos agitados movimentos da campanha antecipada para a sucessão presidencial em 2014. Pelo menos até o dia 5 do próximo mês, quando a presidente Dilma Rousseff desembarca em nova visita à Bahia.
 
Desta vez para participar, em Salvador, da festa política e administrativa de entrega das obras concluídas da Arena Fonte Nova – um dos palcos monumentais construídos no País para a Copa das Confederações, este ano, e a Copa do Mundo, no ano das eleições. A inauguração oficial da “arena” será com um Bahia e Vitoria, o tradicional BA x VI, dois dias depois (7/4) da visita presidencial.
Ontem, Sexta-Feira Santa, os ingressos começaram a ser disputados a pau na portaria da “arena”, com a polícia no meio.
 
O ato público de entrega da moderna “arena” está sendo preparado pelo governo petista de Jaques Wagner e seus aliados, com cuidados trabalhados no capricho (incluindo maciços gastos de marketing), para se transformar em acontecimento de porte no plano da administração, mas, principalmente, um ato político de repercussão nacional e ecos lá fora.
 
O cenário não poderia ser mais perfeito: as margens do Dique do Tororó, um dos mais belos parques urbanos e cartões postais da capital baiana, inspirador de poesias e canções.
 
A Arena Fonte Nova, construção multimilionária e multiuso (incluindo o político), agora ocupa o espaço do histórico Estádio Octávio Mangabeira, “de muitas glórias e tradições”, (tudo indica – a conferir -, que a denominação em honra a um dos mais sábios e venerados governadores do estado “vai dançar” ), ficou pronto em menos de três anos.
 
A “arena”, portanto, está sendo entregue com a devida pompa e circunstância em prazo incrivelmente rápido dentro dos padrões regionais, e mesmo nacionais, de grandes obras nas quais mega-empreiteiras e poder público estão envolvidos.
 
Principalmente se comparada, por exemplo, ao metrô da capital baiana: quase 13 anos para construir meros seis quilômetros da primeira etapa (prevista para 12km), consumir quase R$ 1 bilhão, sem transportar até hoje um único passageiro.

 

A caminho da festa na Fonte Nova, dia 5, a presidente Dilma (ao lado do aliado governador Wagner, e, quem sabe, do adversário prefeito da capital, ACM Neto, do DEM, seguramente avistará, mais uma vez, pedaços do metrô em obras intermináveis.
 
“O único metrô aéreo do mundo”, como definiu com perfeição o jornalista João Carlos Teixeira Gomes, em artigo sobre o trambolho e suas estruturas elevadas de concreto armado, caras e monstruosas, que cortam e enfeiam trechos da linda cidade da Bahia. Um monumental e “moderno” elefante branco, antes mesmo de ser inaugurado ou transportar ao menos um passageiro.
 
Voltemos aos fatos iniciais motivadores destas linhas: a visita de Dilma à Bahia, para os festejos oficiais de entrega do campo (como se dizia no tempo de Octávio Mangabeira). Festa adiada quatro vezes por necessidade de ajustes exigidos pela FIFA na obra. Ou mudanças de última hora na agenda da presidente da República.
 
A mais recente, em razão da viagem de Dilma e sua numerosa comitiva à Roma, para as cerimônias de início do pontificado do Papa Francisco.
 
Em Serra Talhada (PE), no começo desta semana, durante o movimentado comício-inauguração de obras contra a seca, no qual a presidente Dilma dividiu “amigavelmente” o palanque com o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos (a sombra maior até aqui no caminho da pretendida reeleição da atual ocupante do Palácio do Planalto), foi o que se viu.
 
Em resumo, no caso Dilma-Campos ficou patente em Pernambuco: amigos, amigos, aliados, aliado, sucessão em 2014 à parte.
 
O que se verá em Salvador, dia 5 de abril, no comício de entrega da Arena Fonte Nova, ainda é difícil antecipar.Tudo, por enquanto, sugere um ambiente mais ameno, em face do entendimento petista e pessoal, de quase lua-de-mel política e administrativa entre a presidente e o governador.
 
O problema é saber se o prefeito de Salvador, ACM Neto, do DEM, adversário indigesto e duro de roer, como ficou demonstrado na mais recente campanha municipal, estará presente, também, na festa com a presidente na Fonte Nova, e como ele se comportará no evento.
 
Amigos, amigos, sucessão à parte. Aí está uma incógnita que empresta atrativo especial de mexer com os nervos no próximo dia 05 de abril em Salvador. A conferir.

30 de março de 2013
Vitor Hugo Soares, jornalista

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