Nada parece mais distante do cidadão que as agruras vividas pelo agronegócio brasileiro, com os vários gargalos de infraestrutura que prejudicam sua rentabilidade. Eles são tão graves, contudo, que seus efeitos já transbordam das fronteiras agrícolas e invadem o cotidiano das cidades.
O paulista que se dirige para as praias do Guarujá, de Bertioga e redondezas, por exemplo, passou a enfrentar enormes congestionamentos na rodovia Cônego Domênico Rangoni, principal via de ligação entre esse balneário e as cidades de Cubatão e Santos. Na raiz do problema estão os cerca de 3.200 caminhões carregados de soja que descem a serra do Mar, todos os dias, para embarque nos terminais de exportação do porto de Santos.
Saturada e ineficiente, essa que é a maior instalação do gênero no Brasil não dá conta de escoar a parte que lhe cabe na safra recorde de grãos deste ano. Os caminhões entram em fila e esperam dias a fio, no acostamento da estrada, pelo momento de descarga.
Outra fila se forma no mar: no começo da semana, 45 navios aguardavam a vez para embarcar 2,6 milhões de toneladas de grãos. É o suficiente para encher 54 mil caminhões, que chegam a percorrer milhares de quilômetros de rodovias esburacadas entre as regiões produtoras no Centro-Oeste e portos como Santos e Paranaguá (PR) -neste, a fila de navios ultrapassava a centena.
Com tantos percalços, a soja brasileira sofre acréscimo de US$ 70 por tonelada só para transitar da fazenda às docas, na comparação com o custo do frete para produtores argentinos e americanos.
Como a exportação neste ano deve alcançar 40 milhões de toneladas de soja e mais 18 milhões de milho, o prejuízo estimado pela Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais) monta a mais US$ 4 bilhões. Segundo cálculos da entidade, tal valor permitiria construir mais de uma hidrovia, modalidade de transporte preferida por vários especialistas em logística agrícola.
Entre as prioridades despontam os corredores dos rios Teles Pires-Tapajós e Araguaia-Tocantins, que facilitariam o escoamento da safra do Centro-Oeste pelo rio Amazonas e sua foz no Atlântico. Encontra-se disponível, hoje, unicamente a hidrovia do rio Madeira, a partir de Porto Velho (RO).
A perda anual equivalente a cerca de R$ 8 bilhões, mesmo que não pudesse ser inteiramente revertida em favor do Brasil, parece mais do que suficiente para financiar -e justificar- esse investimento. É pura aritmética.
30 de março de 2013
Editorial da Folha
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