A imprensa brasileira, com as exceções costumeiras, está virando o território da falta de memória. Há muitos fatores que concorrem pra isso. Um deles, sem dúvida, é a velocidade com que as informações — e desinformações — são produzidas e postas para circular.
Fica difícil reter alguma coisa se as pessoas a tanto não se dispõem. Some-se a isso o fato de que o PT é mais do que um partido tentando implementar um programa de governo. O que era inicialmente um ajuntamento ideológico foi transformado em torcida. Por que eu sou corintiano? Sei lá! Porque meu pai era? Pode ser. Mas eu não tenho uma razão racional pra isso. E tendo a achar, claro!, que meu time é injustiçado pela conspiração dos não-corintianos, que o juiz não gosta muito da gente etc.
Assim é o petismo, também o das redações sem memória: está sempre tentando a se defender dos “adversários”, e isso implica lidar mal com a verdade. O tema e amplo e fica para outros textos. Por que trago a questão agora? Porque esse PIB ridículo de 2012, de 0,9% tem história, tem um marco importante, que precisa ser lembrado.
Em junho do ano passado, o Credit Suisse — que já vinha desafiando a, como direi?, ciência de Guido Mantega, prevendo um PIB de apenas 2% — baixou a sua projeção para 1,5%. O ministro ficou furioso. É que a Mãe Dinah havia inaugurado aquele ano prevendo uma expansão da economia de 4,5%, depois dos magros 2,7% de 2011.
Ali pelo início do segundo trimestre, ele decidiu baixar 0,5 ponto e se contentou com 4%. No fim de junho, já não era tão preciso a respeito, mas uma coisa o homem assegurava: seria superior a 2011 — logo, rondando a casa dos 3%.
Como o PT tem o “dom de iludir”, para lembrar a bela música em que Caetano Velosa responde à belíssima “Pra que mentir?”, de Noel Rosa e Vadico, a reação irada de Mantega ganhou mais visibilidade até do que a projeção do Credit Suisse. Cumpre lembrar as palavras do ministro, então, quando confrontado com aquela projeção:
“É uma piada. Vai ser muito mais que isso!”
Como vocês viram, foi quase a METADE DISSO.
Mantega estava num hotel, na Barra, no Rio, onde se encontrava a delegação brasileira que participava da “Rio + 20”. Fazia-se acompanhar de Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Este senhor, nessa pasta, ainda renderá a Dilma Rousseff um Prêmio Jabuti na categoria “Ficção”. Ele foi um pouco mais ameno do Mantega. Deitou sobre a projeção do Credit Suisse um olhar caridoso, de latino-americano safo e superior, que encara com piedade e bonomia tupiniquins a ignorância dos bárbaros:
“Acho que a visão que os europeus têm é necessariamente negativa por ser influenciada pelo clima por lá. A situação do mercado financeiro na Europa é muito ruim. Não acompanho esse pessimismo do Credit Suisse. Acho que nós vamos crescer mais que isso”.
Ministros de estado não têm, claro!, de ficar fazendo previsões pessimistas. Mas também podem evitar o ridículo. Das duas, uma: ou Mantega e Pimentel ignoravam de forma absoluta a realidade brasileira — e isso é preocupante porque enseja decisões erradas — ou atuaram de forma consciente para enganar as pessoas. O que é pior? A incompetência ou a mentira deliberada?
Mantega é uma piada!
01 de março de 2013
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