"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 1 de março de 2013

MEGALOMANIA INSPIRA MAIS UMA MANCHETE ANTOLÓGICA DO DIÁRIO DO COMÉRCIO

 

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O Diário do Comércio voltou a mostrar aos concorrentes, nesta quinta-feira, como se faz uma primeira página.
AGORA, LULINCOLN DA SILVA, resume a manchete principal, ilustrada pela fotomontagem que coroa a cabeça do palanque ambulante com uma superlativa cartola Ÿ, marca registrada do estadista que aboliu a escravidão e impediu o esfacelamento dos Estados Unidos. Subtítulo:
 
A boa notícia é que Lula está ‘lendo muito’ (convidados da festa de 30 anos da CUT gargalharam, ao ouvi-lo’). A ruim é que ele agora encarna o presidente Abraham Lincoln.
 
O diário dirigido pelo jornalista Moisés Rabinovici complementa a aula com a segunda manchete: Veja o PT censurando o cartaz do Mensalão.
 
Na foto ao lado, dois funcionários do partido carregam para os porões do Congresso um painel, instalado pela oposição, que lembra a grande roubalheira descoberta em 2005. Compreensivelmente, o ano foi excluído da exposição em que o PT festeja as proezas que jura ter protagonizado desde o nascimento em 1980.
As duas notícias ficaram fora das primeiras páginas do Estadão, da Folha e do Globo. Os três maiores jornais do país confinaram em espaços mofinos Ÿ e, pior ainda, trataram como se fossem coisa séria Ÿ duas brasileirices singularíssimas.
 
Mesmo no País do Carnaval, não é todo dia que um surto de megalomania faz um chefe de seita enxergar Abraham Lincoln quando se olha no espelho. Nem pode ser reduzido a irrelevância rotineira o roubo de um painel que denuncia o sumiço de um ano inteiro.
São fatos que merecem manchete. E merecem o tratamento sarcástico que ilumina a primeira página do Diário do Comércio. Os vigaristas que debocham do Brasil decente reagem a acusações gravíssimas e denúncias de grosso calibre como se fossem confrontados com a previsão do tempo. Só se sentem atingidos no fígado quando o calibre da bala é engrossado pela ironia impiedosa.
Editores de jornais vivem se queixando da falta de leitores. Como demonstra o confronto das primeiras páginas desta quinta-feira, o que falta é argúcia, independência intelectual, coragem e talento.
 
01 de março de 2013
Augusto Nunes - Veja Online

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